A Geografia do Sagrado

Quando o povo estava no deserto organizava-se em tendas num arraial. No meio do arraial ficava o santuário. O santuário era uma área retangular em que no meio ficava uma tenda. Dois terços da tenda ficavam para fora do véu e um terço para dentro. A área externa era o átrio, a área da tenda para fora do véu era o santo lugar, onde havia uma bacia de ouro e era feito o sacrifício. Era o santo lugar. Dentro do véu era o santo dos santos, onde ficava a arca. Dentro da arca ficavam as tábuas da lei. A arca era como um baú. Na tampa do baú ficavam dois querubins, como que guardando o sagrado. Só o sacerdote poderia entrar no santo lugar e uma vez por ano no santo dos santos. Hoje todos nós somos sacerdotes em Cristo e todos nós podemos acessar o santo dos santos. O sacerdote deveria estar puro para entrar na tenda. Por pior que fosse seu pecado ficava remido se sacrificasse um cordeiro macho perfeito de um ano. Por isso que agora se diz que Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Não precisamos sacrificar mais, Ele fez o completo sacrifício. Jesus nasceu numa estrebaria emprestada, montou no domingo de ramos num jumento emprestado e dizem as Sagradas Escrituras, “que as aves do céu têm seus ninhos, as raposas têm seus covis, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Só a cruz foi dele. Ele não teve nada para que nós pudéssemos ter tudo. O corpo é o átrio, a alma o santo lugar e o espírito o santo dos santos. A ciência se ocupa do corpo, a filosofia da alma e a religião do espírito, embora o termo “religião” esteja desgastado no meio evangélico. É uma glória para o filósofo e está de bom tamanho ocupar-se das questões anímicas, almáticas, pneumáticas, atmânicas, ruáticas, enfim. A casa de Deus somos nós, não edifícios de pedras feitos por mãos humanas. A suntuosidade de templos, de indumentária, de liturgia, ritualística é para o engrandecimento da instituição e do clero, Jesus foi um humilde carpinteiro, desprovido de bens materiais, apenas o estritamente indispensável para sustento frugal do corpo. O peso da tradição não pode sufocar a autêntica vivência da Igreja Primitiva. A história do cristianismo em grande medida é a história do desvirtuamento do cristianismo. É por essa razão que a história tem uma função pedagógica ao inverso, devendo ser muito mais rechaçada do que tomada como norma revogando o genuíno ensinamento das Sagradas Escrituras. É fantástico que em nome do cristianismo se tenham erigidos complexos arquitetônicos magníficos e se tenham engendradas valiosas obras de arte, mas cristianismo tem de ser muito mais do que engenharia e cultura, ele tem de ser o rumo de nosso coração, a ponte que une nossa origem e nosso destino: Deus. Quando compramos um produto novo temos o péssimo hábito de tentar descobrir como as coisas funcionam sem consultarmos o manual do fabricante. O mesmo erro nós cometemos em relação a nós mesmos: nós somos a cerâmica nas mãos do Fabricante, Deus, e não lemos a Bíblia, o manual de instrução. Precisamos estar com a casa arrumada, ou seja, com o coração (a consciência) em dia, para que o Espírito Santo esteja em nós, possa fazer morada e nos preencha por completo. E não apenas preencha, mas transborde, para que quem estiver perto de nós experimente um pouco da graça do Pai e do Filho. Quando louvamos e adoramos a Deus Ele talvez não exatamente nos ouça, mas sente agradável odor. Quiçá o mesmo odor de mirra e aloés ardentes tais quais comburem e combustam na menorá posta no santo lugar. Quem quiser exalar odor terá de ter junto de si ungüento e ele é produzido na prensa. E o santuário fica no arraial, mas o arraial não ficava no oásis e sim no deserto, todas estas são informações para refletirmos.