Cléverson Israel Minikovsky (Pensando e Repensado)
Advogado
Filósofo
Jornalista (DRT 3792/SC)
O primeiro pecado não foi humano, foi angelical. Aliás, o ser humano foi criado para restabelecer uma ordem que havia sido perdida. Deus cria o mundo e tudo o que ele contém, depois cria Adão e, por fim, lhe dá a companheira Eva. Eva é aliciada pela serpente e Adão aceita o fruto por peso na consciência, porque no fundo sabia que a responsabilidade era sua, ele deveria manter Eva longe da árvore do bem e do mal. Ao invés de comerem de todas as árvores e inclusive da árvore da vida, preferiram experimentar da árvore do bem e do mal. O ser humano se corrompe. Está escrito que sete vezes o sangue de Caim será vingado, mas o de Lameque setenta vezes sete. E quando Jesus é perguntado quantas vezes devemos perdoar responde “não lhe digo sete vezes, mas setenta vezes sete”. Aí vem o dilúvio e apenas oito pessoas se salvam ou seja, Noé e sua família. Passado o dilúvio Noé sai da arca e toma um porre de vinho. E seu filho mais novo, Cam, expõe a vergonha de seu pai. E Noé o amaldiçoa, “teu filho mais novo o envergonhará”. Que viria a ser Canaã. Assim, Deus dá a terra prometida aos comandados de Moisés justamente onde residiam os cananeus. Porque estava escrito que estes seriam os servos dos servos. Havia lugares mais férteis que a terra prometida, mas Noé era um patriarca e Deus Javé teria que usar daquele homem para alcançar seus propósitos. Na primeira aliança Deus diz “vou matar a todos, menos ao justo (Noé)”. Na aliança seguinte Deus escolhe um casal de estéreis para serem pais de nações. Ele não diz “vou poupar de te liquidar”. Pelo contrário e muito mais que isto: “vou tornar a tua de descendência tão numerosa como as areias da praia e as estrelas do céu”. Em Moisés há um plexo de direitos e obrigações de ambos os lados. Tanto Deus quanto o povo são titulares de obrigações e prerrogativas. Em Cristo, apenas o justo carrega o pecado do mundo inteiro. O justo morre para que os pecadores tenham vida. Abraão não recusou seu único filho que Deus lhe cobrou e em troca Deus também não nos recusa seu Único Filho. Abraão teve fé e todo aquele que tem fé nas Sagradas Escrituras é filho de Abraão. A fé é uma semente que pode cair à beira do caminho, entre os pedregulhos, entre os espinhos ou em terra boa. A terra é nosso coração. A salvação é oferecida a todos indistintamente. Basta aceitá-la e permitir que a graça redentora oriunda do Pai e do Filho entre em nossa vida. Quem compreende a palavra dá fruto 100, 60 e 30. Esta ordem decrescente indica que alguma coisa nos é tirada, ver Mt 13, 23 mas os que ouvem a palavra e a recebem dão fruto na proporção de 30, 60 e 100, ver Mc 4, 20. Numa leitura sistemática devemos entender que precisamos ab rir mão de alguma coisa para receber outra. E em Lc 8, 15 está escrito que quem ouve a palavra e a conserva em seu coração este dá fruto com perseverança, em outras traduções, “frutos com abundância”. Ou seja, aí não mais há limite. Muitas vezes há pessoas que são aparentemente amistosas e queridas, mas que não aceitam mudar em certos pontos em que precisam ser mudadas. Isto é uma forma de ficar à beira do caminho. Não há quem não precise de mudança. Os espinhos são os cuidados do mundo, como o sexo extramatrimonial, a bebida e o tabaco. Aliás, esta é a primeira das conversões de quem se converte. Mas é preciso ir mais além. É preciso mudar o invisível que dá rumo às coisas visíveis. “Porque não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz” (Lc 8, 17). As alianças que Deus foi fazendo com o povo tiveram um alcance cada vez mais amplo e agora se tornou universal. Não é por acaso que o sinal da aliança é o oito deitado, algo que não tem começo nem fim, em matemática simbólica representa o infinito. Noé e sua família estavam em oito.