O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta quinta-feira, 26, que a trajetória de alta dos preços das commodities refletiu em grande medida um processo de especulação financeira, motivada pela expansão monetária nos países ricos. Apesar disso, ele reconheceu que os preços desses produtos também têm subido por conta de outros fatores, como choques de oferta, problemas climáticos, a entrada de grandes consumidores de mercados emergentes. "Mas há sim um fator especulativo", disse Mantega.
O ministro brasileiro disse que a alta das commodities impacta a inflação. Ele explicou que em períodos de alta de inflação, o receituário, que já tem sido aplicado pelo Brasil, manda que seja feito aperto monetário. O paradoxo, de acordo com Mantega, é que a elevação de juros agrava o quadro de fluxos excessivos de capitais, com os quais o Brasil tem que lidar. Além disso, a situação de crescimento mais acelerado dos emergentes em relação aos países desenvolvidos também reforça o fluxo de capitais para os emergentes.
Nesse ambiente, segundo Mantega, não se pode deixar o câmbio flutuar livremente, como defendem alguns, para ajudar no combate à inflação, sob pena de causar um estrago na indústria nacional. Ele respondeu às criticas de que ações para conter o fluxo são inócuas por terem impacto temporário afirmando que a ideia é essa mesma, já que a qualquer momento a situação externa pode mudar - por exemplo se os Estados Unidos elevarem os juros. "Deixar o câmbio flutuar livremente com esses fluxos não é uma solução viável", disse o ministro.
Ingresso de dólares
Mantega afirmou que o fluxo de capital financeiro do exterior para País foi normalizado. Segundo ele, as medidas tomadas pelo governo, principalmente as de ordem fiscal, que aumentam os impostos sobre os recursos estrangeiros voltados para renda fixa e créditos de curto prazo (que fazem parte do segmento financeiro do fluxo cambial, que em maio, até o dia 20, registrava entradas de US$ 3,3 bilhões), foram bem-sucedidas e evitaram bolhas na economia brasileira. "Hoje estamos com um ingresso (de capitais) que considero normal", disse Mantega, durante o Fórum do Fundo Monetário Internacional, no Rio de Janeiro.
O ministro afirmou ainda que o excesso de capitais causa inflação, "porque vai para o crédito e outra parte vai para o mercado", também gerando bolhas.
Mantega considera que o governo também tem obtido eficácia no controle da taxa de câmbio, reduzindo uma tendência de sobrevalorização até que as condições internacionais mudem e a pressão sobre a moeda brasileira seja suavizada.
De acordo com o ministro, até 2008, já havia uma tendência de valorização do real por causa da entrada de capitais no Brasil, mas também por causa da boa situação da economia do País. Mantega lembrou que o dólar chegou a R$ 1,55, mas depois retornou ao patamar de R$ 1,70, permanecendo nesse nível graças às medidas do governo para evitar a desvalorização da moeda americana. "Há mais de um ano que mantemos um certo patamar", afirmou Mantega. "Se não tivéssemos tomado essas medidas, se tivéssemos deixado o mercado à sua própria sorte cambial, teríamos o dólar em torno de R$ 1,30, R$ 1,40, causando problemas para a concorrência com os produtos importados".
Fluxo e crescimento
O ministro voltou a defender o câmbio flutuante para evitar desequilíbrios entre as moedas. Segundo Mantega, apenas alguns países adotam um sistema de câmbio flutuante, enquanto outros ainda são adeptos da manipulação cambial. "Um câmbio com mais equilíbrio entre o mundo é o que vai organizar o fluxo de entrada de capitais nos países", afirmou Mantega.
O ministro da Fazenda ressaltou ainda que os países avançados têm que fazer uma política monetária expansionista, mas que também devem adotar uma política monetária fiscal para recuperar mais rapidamente suas economias.
Segundo ele, a recuperação dos países avançados e uma reforma do sistema financeiro internacional são necessárias para conter as distorções do fluxo de capitais nos países emergentes. "Enquanto essas reformas não acontecem, os países emergentes têm que se defender. O Brasil tem adotado uma série de medidas. Voltamos a subir as taxas de juros. Desde o ano passado, tomamos medidas para a contenção de crédito. Estamos fazendo uma desaceleração da economia brasileira", enumerou o ministro brasileiro, reafirmando que o crescimento do PIB está em linha com a meta de 4,5% no ano.
Fonte: Agência Estado / Fabio Graner e Daniela Amorim