Sônia Pillon nasceu em Porto Alegre e desde 1996 reside em Jaraguá do Sul.
Formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto pela Univille, atuou como repórter, editora, redatora e assessora de imprensa, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Por mais de 10 anos trabalhou no jornal A Notícia.
É autora de “Crônicas de Maria e outras tantas – Um olhar sobre Jaraguá do Sul” e “Encontro com a paz e outros contos budistas”, com participação em antologias de contos, crônicas e poesias.
Publica também no blog soniapillon.blogspot.com e na fanpage "Sônia Pillon Escritora". É Presidente de Honra da Seccional Jaraguá do Sul da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina (ALBSC).
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Conto
O mar estava agitado, e o navio-pirata do capitão Gancho parecia uma casca de noz, de tanto que era sacudido pelas ondas bravias. O comandante da embarcação, que causava pavor até entre a marujada, não somente pelo seu temperamento colérico, mas também pelo enorme gancho de ferro que substituía um dos braços, praguejava sem parar. Seus olhos disparavam chispas de ódio. A tripulação estava assustada. Impossível prever o que o capitão iria fazer, e isso era o que mais preocupava.
- Assim não vou conseguir capturar o Peter Pan, aquele menino insolente! – gritava o capitão, trincando os dentes.
Mas Peter Pan nem ligava. Definitivamente, “o menino que não queria crescer”, líder dos Meninos Perdidos, tinha as suas ordens para ordenar e suas brincadeiras para brincar... Na Terra do Nunca, onde ele e os amigos se refugiaram das responsabilidades e compromissos do mundo real, Peter Pan reinava absoluto!
Na Terra do Nunca, que era o sonho de muitas crianças, não haviam as obrigações da escola, os deveres de casa para fazer, muito menos as provas bimestrais. Apenas aventuras infantis e muita diversão. Por isso tinha fugido da casa dos pais, para fazer o que e bem entendesse...
Wendy era a única que o entendia, mas depois de algum tempo ela decidiu voltar para casa dos pais e seguir com sua vida. Queria virar mocinha, continuar os estudos... Sim, Peter Pan chorou e muito! Mas como abrir mão de sua liberdade? Deixar aquele lugar encantado, melhor que um parque de diversões? E o que era melhor: sem precisar pagar ingresso...
- Não nasci para seguir regras e ser escravo do relógio! Ah, não!
Mas um dia a nostalgia bateu forte e ele tomou a decisão de deixar a Terra do Nunca para procurar Wendy. O menino precisa crescer!, disse para si mesmo. Todos sabem que no dia em que Peter Pan deixou a Terra do Nunca e procurou os pais, não foi reconhecido por eles. Tinha passado muitos anos fora... E o mesmo aconteceu quando ele foi encontrar Wendy. Bateu na vidraça do quarto dela e uma mulher o atendeu.
Para espanto de Peter Pan, era Wendy, só que muito diferente da menina que conheceu! Logo depois apareceu um homem de terno e gravata, que ela apresentou como marido... Wendy foi gentil e tratou Peter Pan como um velho amigo... Peter Pan mal conseguiu conter as lágrimas.
- Ela cresceu e eu continuei o mesmo, constatou. O dia em que Peter Pan deixou a Terra do Nunca tinha demorado demais para acontecer... Profundamente triste, “o menino que não queria crescer” disfarçou e se despediu de Wendy e do marido. Enxugando as lágrimas que insistiam em cair, ele respirou fundo e voou para a Terra do Nunca. Ele nunca mais voltou a ver Wendy... Mamãe, quer dizer que se um menino for para a Terra do Nunca, ele não vai crescer? – perguntou Pedrinho.
- Sim, Pedrinho, se isso acontecer, ele não vai amadurecer e será sempre um menino em um mundo cercado de adultos – respondeu a mãe, antes de puxar o cobertor e beijar o rosto do filho, que se preparava para dormir.