Fanatismo verde-amarelo

Uma nação verde-amarela, que tremula bandeiras e exala patriotismo por todos os poros. Que canta o Hino Nacional estufando o peito. Que grita, esbraveja, chora copiosamente pelo seu país… Pelo menos enquanto os 11 jogadores estiveram em campo pela Copa do Mundo, essa era a imagem que tomou conta das mídias.

Nesses dias de comoção nacional, de euforia cega - que se manteve até a eliminação do Brasil pela Bélgica - a corrupção endêmica, a alta da gasolina e os reflexos dos 11 dias de greve dos caminhoneiros perderam a importância. Notícias da Lava Jato, do desemprego, do caos na saúde e da violência que campeia o Brasil e do mundo ficaram para segundo plano. É como se um véu tivesse coberto as mazelas.  “Viva o Brasil-sil-sil!”, repetiam os narradores a cada gol.

O time canarinho estava ganhando, mesmo no sufoco de uma prorrogação? Para muitos, bastou isso para reacender a ideia de que somos os melhores do mundo, os insuperáveis… Depois daquele traumático 7 a 1, a ficha já deveria ter caído, não?!

Sempre se diz que o pior cego é o que não quer ver e acredito que essa máxima se aplica ao atual momento do futebol brasileiro. Hoje não existem mais equipes “ingênuas”. Em todos os cantos do planeta o futebol evoluiu. Quem assistiu tanto o Japão como o Senegal pôde constatar dois times aguerridos em campo, para surpresa de muitos. Cada um deles representou seu continente bravamente nas quatro linhas.

Essa idolatria pelos craques futebolísticos faz com que todas as atenções se direcionassem para o camisa 10, Neymar Jr., dentro e fora de campo. O jogador mais caro do mundo tem status de celebridade e dele se esperava que fosse o salvador da pátria, como se um único atleta pudesse ser capaz de levantar a taça. Só que não… #sqn...

E o comportamento deplorável dos brasileiros que induziram a mulher russa a repetir frases ofensivas, se aproveitando da barreira do idioma? Questionados, em sua maioria, declararam ser apenas “uma brincadeira”. Não precisamos de “patriotas” desse naipe para envergonharem e macularem a imagem da nação lá fora, não é mesmo?

Durante a participação dos canarinhos na Rússia, enquanto me mantinha na fila do supermercado, uma cena me chamou a atenção. Na minha frente, um homem vestindo a camisa 10 da Seleção Brasileira passava vários engradados de cerveja e grande quantidade de carne bovina e de frango congelado no caixa. Possivelmente estava estocando para a churrascada da Final,  pensei. Todas os sentidos voltados para a Copa da Rússia!

Não estou opinando como comentarista de futebol, apesar de já ter sido setorista de esporte em certo momento da minha carreira jornalística. Não sou especialista nessa área. Me expresso como cidadã.

Exageros são sempre nocivos, principalmente em um momento tão delicado da pátria brasileira, em pleno ano de eleição. Exercitar a cidadania é muito mais do que sacudir a Bandeira na Copa.

O Brasil está fora. É vida que segue... com todos os desafios que nós, brasileiros, enfrentamos no dia a dia.