Sônia Pillon nasceu em Porto Alegre e desde 1996 reside em Jaraguá do Sul.
Formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto pela Univille, atuou como repórter, editora, redatora e assessora de imprensa, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Por mais de 10 anos trabalhou no jornal A Notícia.
É autora de “Crônicas de Maria e outras tantas – Um olhar sobre Jaraguá do Sul” e “Encontro com a paz e outros contos budistas”, com participação em antologias de contos, crônicas e poesias.
Publica também no blog soniapillon.blogspot.com e na fanpage "Sônia Pillon Escritora". É Presidente de Honra da Seccional Jaraguá do Sul da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina (ALBSC).
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Sônia Pillon
A lona listrada de azul e branco é imponente vista de longe. Mirando na parte mais alta da estrutura metálica, que dá sustentação ao circo, duas bandeiras da cor vermelho-real, uma de cada lado, tremulam com o soprar do vento.
O público ia chegando devagarinho, à medida que o sol se despedia. Pais, mães, tias e avós seguravam as crianças pelas mãos. Alguns carregavam bebês de colo, outros iam acompanhados pelas mulheres, namoradas, rolos, ficantes...
Porém, na fila da bilheteria também haviam homens e mulheres que estavam sozinhos. É como se sentissem um certo constrangimento pela solteirice... Que diferença da criançada em geral, com olhos brilhantes de expectativa com o espetáculo. Nem mesmo aquele "vicu-vucu" de compra ingresso, compra pipoca, compra algodão-doce, compra refrigerante e "não-sei-mais-o-quê" os fazem desistir de assistir os palhaços, os malabaristas, os trapezistas e acrobatas anunciados no panfleto...
Para os que estavam indo ao circo pela primeira vez, o único estranhamento é com as maquiagens impactantes dos bilheteiros e vendedores ambulantes. Só quando os artistas entraram no picadeiro é que entenderam. Artista brasileiro! Heróis que conseguem viver da arte a duras penas, sem deixar de sorrir e fazer sorrir...
O público se acomoda rapidamente nas desconfortáveis cadeiras de plástico e uma música apoteótica anuncia que o show vai começar. A magia do circo tomou conta da encantada plateia.
- Respeitável público! Senhoras e senhores, boa noite! Vai começar agora o maior espetáculo da Terra!!!
Agitação. Alvoroço. A criançada se excita. Os adultos voltam no tempo. Buscam memórias lúdicas de uma época distante que não existe mais. Alguns sentem os olhos marejarem ao contatarem com os recônditos da mente. Lembranças de uma época sem internet, redes sociais, jogos eletrônicos, em que brincar era pular no pé de goiabeira, pular corda...
Chegam os palhaços com suas roupas desengonçadas e estilo "pastelão", suas piadas simples, mas sempre engraçadas... Gargalhadas tomam conta do ambiente com os tombos e tortas na cara. Como não se divertir com esses personagens atemporais, que se perpetuam ao longo dos séculos?
Depois vem os malabaristas, os engolidores de fogo... Os pequenos gritam de alegria, e os grandes se agitam. Aplausos! Aplausos! A magia do circo mais uma vez causou encantamento.
Os artistas vibram, agradecidos. Fazem mesuras para a plateia.
O show chega ao fim. A massa humana quer sair rapidamente. Tumulto. Corre-corre. Tumulto. Corre-corre. O ronco dos motores no estacionamento traz a realidade de volta. No interior do circo, os gestores fazem as contas.
- Hoje lotou, felizmente! Vamos conseguir pagar as contas!, comemora o dono do circo.
No dia seguinte, bem cedo, a lona foi desmontada e tudo foi recolhido. Perto do meio-dia, os caminhões e carros velhos partiram rumo a uma nova cidade, para arrancar mais sorrisos e perpetuar a secular tradição circense.