Uma espaço para ajudar a resgatar a história de São Bento do Sul
Henrique Fendrich nasceu em São Bento do Sul e mora em Curitiba. É jornalista, escritor, genealogista e pesquisador histórico.
Autor dos livros "O imigrante Anton Zipperer", "A família Soares Fragoso" e "A família de Nicolau Becker".
Esta é a primeira foto de uma igreja de São Bento, mas foi apenas a terceira a ser construída, a segunda do centro. Ficava no alto da atual Rua Jorge Lacerda
Se na coluna anterior demonstramos que provavelmente houve uma igreja luterana em São Bento antes daquela que é tida como a primeira, nesta faremos o mesmo em relação à igreja católica. A história de uma cidade deve ser constantemente revista, em face de novos documentos, e hoje já temos alguns a sugerir que a primeira igreja católica de São Bento não foi aquela construída no centro da cidade, na atual Rua Wolfgang Ammon, mas outra, erguida pelos poloneses na esquina das estradas Wunderwald e Bismarck.
Essa igreja, ou antes, essa capela, não é de todo desconhecida. Foi citada de passagem por Josef Zipperer, cronista dos primórdios de São Bento, e chegou a ser mencionada por Alexandre Pfeiffer em seu livro sobre a comunidade católica local, onde afirma que ela foi benzida pelo frei Henrique Metz, de Joinville. Mas eles não dão muitos detalhes.
Os registros de batismos comprovam que o pároco de Joinville, Carlos Boegershausen, e o frei Metz vieram a São Bento em março de 1876. Zipperer diz que a primeira missa aconteceu no dia 8, quarta-feira. Essa data é celebrada como a da primeira missa em São Bento, mas é possível que outra tenha acontecido antes na capela dos poloneses.
Nos dias 11 e 12 de março, sábado e domingo, o padre Carlos batizou 13 crianças e o frei Metz outras 14 na capela do “Santíssimo Coração de Jesus”, que já era o nome pelo qual se conhecia a capela da Wunderwald. Foram batizados filhos de poloneses e outros de brasileiros que viviam mais afastados. No dia 14, o padre Carlos começou a batizar crianças na igreja do centro, chamada por ele de “capela provisória da sede”.
Ora, por aí já se percebe que, enquanto a capela da Wunderwald já contava com um nome devocional a lhe distinguir, a do centro ainda não. Isso sugere a possibilidade de que os poloneses tenham se organizado antes para formar a sua própria igreja. Também é interessante observar que o número de crianças ali batizadas foi maior do que na sede. Mesmo que as duas igrejas tenham sido construídas na mesma época, parece natural que o padre, que vinha de Joinville, parasse ali antes e ali fizesse algum tipo de celebração.
Nessa primeira vinda do padre Carlos não foi celebrado nenhum casamento na cidade, o que só aconteceria em agosto de 1876. O famoso casamento de Benedikt Bayerl e Anna Maria Neppel foi o primeiro do centro, mas não de São Bento. O primeiro casamento de São Bento ocorreu na capela dos poloneses, tendo como noivos Michael Karasinski e Catharina Demska. Em seguida, houve também lá quatro casamentos de brasileiros.
A duração desta capela, no entanto, foi certamente bastante curta. Os últimos batizados que nela ocorreram são de novembro de 1877. A partir de então eram realizados apenas na sede. Sem dúvida a capela dos poloneses era bastante rústica, como era a do centro. Sua inclusão na história de São Bento, no entanto, justifica que seja mais conhecida.