Uma espaço para ajudar a resgatar a história de São Bento do Sul
Henrique Fendrich nasceu em São Bento do Sul e mora em Curitiba. É jornalista, escritor, genealogista e pesquisador histórico.
Autor dos livros "O imigrante Anton Zipperer", "A família Soares Fragoso" e "A família de Nicolau Becker".
Recentemente, a comunidade luterana de São Bento comemorou 130 de presença na cidade. O marco inicial é a formação de uma diretoria provisória da comunidade evangélica da cidade, o que ocorreu no ano de 1887. A partir dela, construiu-se uma igreja e tratou-se da vinda do primeiro pastor de São Bento, o alemão Wilhelm Quast. No entanto, parece legítimo admitir que a história da comunidade luterana em São Bento é mais antiga do que se acredita.
A cidade já era colonizada desde 1873, e grande parte dos seus 70 pioneiros professava a fé luterana. Certamente eles não ficaram 14 anos esperando que alguma coisa acontecesse para que pudessem ter assistência religiosa. Algumas iniciativas para resolver o problema já deviam ter sido tomadas, mas essa “pré-história” da igreja luterana ainda está para ser contada.
Uma consulta aos registros luteranos de Joinville já é suficiente para revelar que o pastor de lá, Georg Hoelzel, também fazia visitas eventuais a São Bento. Foi ele, ao que tudo indica, o primeiro pastor a pisar em São Bento. Hoelzel foi o segundo pastor de Joinville e, em seu tempo na Europa, atuou na comunidade de Gablonz, na Boêmia, região de onde muitos imigrariam para São Bento, mas católicos, e não protestantes. Da mesma forma que o padre Carlos Boegershausen fazia visitas à comunidade católica de São Bento, Hoelzel também as fazia para a comunidade evangélica, embora não se possa precisar o intervalo entre elas.
Outra dificuldade é saber onde se reunia a comunidade luterana de São Bento nas ocasiões em que o pastor Hoelzel aparecia. Existe uma evidência importantíssima em uma edição da Gazeta de Joinville em 1877, que, em artigo sobre a vida em São Bento, afirma: “A igreja protestante é mais espaçosa e em tudo mais regular, não obstante o número de acatólicos ser menor”. Ou seja, dez anos antes da formação da diretoria da comunidade evangélica em São Bento já havia um local que podia ser chamado de igreja, e que era inclusive maior do que a igreja católica, que é chamada de “uma insignificante ermida, sem capacidade para a quarta parte dos fiéis”.
O artigo parece se referir à região central, mas é absolutamente desconhecido o local em que poderia haver uma igreja luterana nessa época. Por meio de referências em registros civis, sabemos que no início de 1877 serviu como capela luterana a casa do negociante Ferdinand Worrel, na Estrada Dona Francisca. Lá houve dois casamentos em janeiro daquele ano, envolvendo as famílias Ruske, Mielke e Sill. O celebrante foi justamente o pastor Hoelzel. Worrel era boêmio e ao que parece católico, mas sua esposa Anna Bruder, imigrante de Brandenburg, era luterana. No entanto, não se pode ainda avançar e dizer que essa capela particular é que foi chamada de igreja no artigo da Gazeta de Joinville.
Mais pesquisas precisarão ser feitas para se conhecer mais sobre as atividades dos luteranos em São Bento antes da fundação daquela que é tida como a sua primeira igreja.