Uma espaço para ajudar a resgatar a história de São Bento do Sul
Henrique Fendrich nasceu em São Bento do Sul e mora em Curitiba. É jornalista, escritor, genealogista e pesquisador histórico.
Autor dos livros "O imigrante Anton Zipperer", "A família Soares Fragoso" e "A família de Nicolau Becker".
Foi no ano de 1907 que, pela primeira vez, um automóvel andou pelas ruas de São Bento, causando não apenas admiração, mas principalmente muito susto. O veículo fazia uma viagem de Curitiba a Joinville indo por Rio Negro. Havia quatro lugares no carro, ocupados pelo senador Cândido de Abreu, F. Fontana, a esposa deste e o major Felinto Braga. Segundo relato publicado na imprensa da época, e posteriormente compilado pelo historiador Carlos Ficker, a viagem de Rio Negro a São Bento levou 4 horas. Em Lençol, deu-se o seguinte:
“Ao chegar o automóvel ao povoado de Lençóis, um dos moradores, ao avistá-lo, correu desnorteado e, com susto, conseguiu pular uma cerca; só depois que o veículo parou, este patrício animou-se e, aproximando-se dos excursionistas, disse: “Vocês me pregaram um susto! Quando ouvi o ronco e olhei pra trás, pensei que era o tal alifante...”.
A estrada neste ponto do trajeto era horrível, cheia de buracos, o que causava muitos solavancos, e os obrigava a ir devagar. Só de Oxford até o centro de São Bento o automóvel levou meia hora. Observaram então os viajantes sobre a cidade: “Causa muito boa impressão: ruas limpas e bem cuidadas; alguns prédios bons e uma bela posição torna agradável a passagem pela localidade”.
Foram então almoçar no hotel do Luiz Vasconcellos, importante figura política local. Mas não se demoraram muito tempo lá, e logo voltaram ao automóvel e continuaram a viagem pela “Estrada dos Polacos”, como era conhecida a hoje Rua Augusto Wunderwald. Seguiram em bom caminho até o Km. 72, quando se depararam novamente com a “detestável estrada macadamizada”. Da saída do centro de São Bento até a entrada de Campo Alegre, levaram uma hora.
Passando por Campo Alegre, chegaram a um ponto com subida, o que fazia com o que o carro produzisse alguns estampidos pelos canos de escape. Um caipira estava por perto e, tomado de pânico, largou a trouxa que carregava e se precipitou em uma ribanceira.
Os viajantes seguiram, serra abaixo, terminando a descida somente mais de quatro horas depois de terem saído de São Bento. Lá embaixo, toparam com um carroceiro vindo no sentido oposto que, ao avistá-los, abandou as rédeas, espantado. Chegaram a conversar com esse carroceiro, que disse que jamais havia pensado que um carrinho pudesse andar sem ser puxado por cavalos.
Por fim, os viajantes chegaram a um hotel em Joinville. O trajeto total de Rio Negro até lá foi de 9 horas. Passaram lá um dia e depois retornaram pelo mesmo caminho, sem que se tenha relato da nova passagem por São Bento.