É tão difícil defender política de esporte quanto é fácil usar a fome para justificar a ausência de medidas concretas em outras áreas da Administração Pública.
Antes, passar fome ou necessidade era uma condição atribuída ao indivíduo; ou a pessoa era considerada preguiçosa ou sem iniciativa, portanto, era censurada pela sociedade.
É impossível cobrar ações das autoridades para a prática regular de qualquer esporte, exatamente porque tudo que se fala neste país é sobre a falta de comida. Mas a população não quer só comida...
Dos quase seis mil municípios, poucos têm uma quadra poliesportiva adequada à prática de três esportes diferentes. Convencer prefeito a construir uma quadra torna-se utopia; um ginásio, nem pensar. Cientes dessas dificuldades, as pessoas se omitem e sequer tentam.
Essa falta de compromisso com políticas de esporte abrange todos os governos municipais, estaduais e o federal. Mas quando questionadas, as autoridades citam inúmeros projetos que atendem milhões de pessoas. Sabem que ninguém acredita, mas repetem à exaustão.
Iniciativas simples, como torneios de dama, de xadrez deveriam partir das próprias entidades sociais, dos sindicatos, das igrejas, dos condomínios e de outras instituições.
As cidades pequenas deveriam priorizar um esporte e organizar um torneio semelhante aos de tênis, com premiação com troféus e dinheiro aos vencedores. Entre dez ou mais cidades poderiam organizar um torneio de um esporte específico cada uma. Uma realizaria uma competição de vôlei, outra de basquete, tênis, natação. Facilitaria a participação de atletas dos municípios vizinhos.
Os municípios com mais de cem mil habitantes realizariam eventos esportivos mais amplos, denominando-os de mini-olimpíada ou de jogos abertos, a exemplo dos realizados no interior de São Paulo.
Como não têm ocorrido por iniciativa das municipalidades, leis federais ou estaduais deveriam ser criadas para obrigar, por exemplo, a realização de torneio esportivo anual em cada escola, sem exceção, e eventos com abrangência em todo o município de quatro em quatro anos, no mínimo, com dez modalidades de esporte.
Seria ilusão pensar em estruturas profissionais, ao menos no início. O futebol tem sua própria estrutura organizacional com torneios, campeonatos e tudo mais; com ou sem rede, com ou sem árbitro uniformizado. Vale o improviso. Só para exemplificar, no vôlei a falta de rede seria substituída por uma corda. O ideal seria uma quadra demarcada, nada que uma cal não resolvesse num terreno de areia. Um amigo superaria tranquilamente a falta de um árbitro.
Da mesma maneira que toda comunidade consegue construir uma igreja, ou mais, deveria ter o mesmo empenho para a construção de uma quadra, um conjunto poliesportivo. Não seria fácil, mas as condições só surgiriam com consciência, iniciativa e empenho.
Para a prática de vôlei, bastaria que os prefeitos, os vereadores ou os comerciantes locais fornecessem bola, rede, e levassem pessoas com conhecimento das regras básicas para as zonas rurais. Já cópias das regras poderiam ser adquiridas no site WWW.CBV.COM.BR. Além disso, faz-se necessário a perseverança para que os jovens não desistam. Seria necessário conscientizá-los do beneficio que o esporte traz para a saúde, além do entretenimento.
Com pouco dinheiro é possível realizar a maioria das sugestões propostas. Com uma tábua (madeirite), dois caibros, com seis parafusos e seis pequenas latas de tinta faz-se uma mesa de tênis, gastando pouco mais de oitenta reais.
Pode até não existir má-fé, pouco importa. Que se despertem e comecem a investir para valer no esporte. Precisa ampliar a conscientização dos prefeitos, de governadores e do governo federal sobre a necessidade de se investir no esporte de forma compromissada, com ou sem improviso, de maneira simples. Mas também como política de esporte direcionada à formação de atletas para competições maiores de âmbito intermunicipal, estadual, nacional e internacional. A posição do Brasil em Olimpíadas dá o atestado da falta de investimento. Quando vence muito, ganha duas medalhas de ouro. É desestimulante. Dá vergonha! Isso precisa mudar e depende muito dos prefeitos por estarem mais próximo da população.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bacharel em direito