Ele é recebido como celebridade, tem as falas interrompidas por aplausos efusivos e seus admiradores se acotovelam por uma foto ou palavra. Gilberto Orivaldo Chierice é o pesquisador que sintetizou afosfoetanolamina na década de 1990, ou seja, o criador da "pílula do câncer".
Na última sexta-feira, ele esteve em Florianópolis para participar do 2º Seminário Catarinense da Fosfoetanolamina Sintética no Tratamento do Câncer, na Assembleia Legislativa. Atendeu a todos, pacientes, pesquisadores, familiares, com paciência e simpatia, mesmo que as centenas de pedidos deixem o químico um pouco atordoado. Durante o evento, ele falou com a reportagem. Confira a entrevista
O que o senhor acha que mudou em relação à fosfoetanolamina entre o seminário de 2015 e a edição deste ano?
Nada. O que mudou foi a briga das pessoas, que estão mais acirradas. Porque a primeira proposta agora tem direção, que seria, por exemplo, se associar para fazer os dados clínicos com São Paulo.
Dá para dizer que os processos para a liberação da substância evoluíram no Brasil?
Lógico que evoluíram porque as pessoas estão muito mais esclarecidas, e isso favorece muito porque até então algumas pessoas não conheciam nada.
Quando se fala que a ainda não tem comprovação científica de uma substância que o senhor está estudando há mais de 25 anos, como o senhor reage?
Para mim é chocante! Ou as pessoas não leem, ou não raciocinam, porque na literatura tem muito trabalho publicado. Isso foi feito. Todo mundo tenta esconder o hospital Amaral de Carvalho, por quê?
E por que o senhor acha que os órgãos não usam isso?
O que acontece é o seguinte: os trabalhos estão aí e estão querendo ignorar. Agora, ignorar por quê? Será que há certeza de que o composto funciona? Eu acredito que essa seja a razão da grande preocupação das pessoas. Preocupam-se com o funcionamento, e funciona. Porque se não funcionasse alguém diria "Toma. Aprova."?
Por que o senhor acha que demorou tanto para que os testes clínicos começassem, já que a substância é estudada desde 1990?
Estavam todos acomodados. Até então, eu parecia ser um aventureiro falando qualquer coisa, e eu não sou um aventureiro. Quando eles foram ver quem era, eu acredito que aí eles se preocuparam.
No ano passado, o senhor disse que a eficácia poderia ser comprovada rapidamente, porque a fosfoetanolamina já é testada há 25 anos, mas os primeiros testes clínicos divulgados em março mostraram baixa eficácia. Como o senhor vê esses resultados?
Isso é brincadeira de criança, é muito infantil, porque imagina que as pessoas são bobinhas. Inclusive as alegações são infantis. Não procedem, cientificamente falando.
A ampla divulgação que a substância recebeu na mídia ajudou a impulsionar esse movimento?
Eu acho que não. Acho que foi a pressão popular. A consciência dos governos é diretamente proporcional à pressão do povo. O que acontece é o seguinte: a população já experimentou e sentiu que tem cura. O governo será pressionado a ponto de (ouvir) "Você tá prejudicando minha vida".
São Paulo está iniciando os testes em humanos. O senhor está acompanhando este processo?
Deverá ser acompanhado, não por mim, pois não sou médico e trata-se de teses clínicas. Temos uma equipe de médicos amigos e pesquisadores que vão participar.
O senhor falou que Santa Catarina pode acompanhar São Paulo nestes testes em humanos...Se você tem um centro de referência, você tem um governo, você tem cancerosos, quem poderia acompanhar?
Você.
E também disse que já conversou com o secretário de Saúde...
Mais de três vezes, e não aconteceu nada. A recepção dele foi excelente, maravilhosa, mas só ficou aí. Ele não se preocupou.
E os testes em outros lugares do país, o senhor também acompanha?
Não apresentaram resultados dentro do rigor científico que eu pensava.
O senhor acha que houve problema nos exames?
É difícil, eu não sei ler a cabeça das pessoas, não sei qual a intenção. Os dados não estão corretos, só isso.
Em abril o governo federal sancionou a produção e a distribuição da fosfoetanolamina, mesmo sem a conclusão dos testes, mas o STF suspendeu a lei. Isto ajuda ou atrapalha o processo de liberação?
Eu sempre doei de graça, seria mais uma doação. Se foi impedida, como fica?
Em 2015, o senhor disse também que era preciso ajudar a levar o composto às pessoas, porque elas veem esperança no medicamento. O senhor acha que este momento está mais próximo e que as pessoas ainda têm essa expectativa?
Eu acho que a fosfoetanolamina é superior a qualquer uma das pessoas e da gente, se você bobear ela passa por cima de você. Ela não vai te perdoar nunca, ela é independente, ela tem força própria.