Os consumidores catarinenses estão mais cautelosos. O resultado da Pesquisa do Índice de Confiança das Famílias (ICF), realizada pela Fecomércio SC (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina) atingiu pelo terceiro mês consecutivo o menor nível desde que a pesquisa foi iniciada e fechou em 87,0 pontos. Na comparação mensal, o indicador registrou recorrente queda desde abril (97,3), maio (91,8) chegando a este patamar em que a escala máxima é de 200 pontos. A pesquisa foi realizada nas entrevistas com consumidores em potencial, residentes no município de Florianópolis, com idade superior a 18 anos.
Além disso, o estudo divulgado nesta quarta-feira, 22, apontou uma variação mensal (-5,2%) e anual (-17,8%) no indicador de confiança que avalia dados sobre a renda, o acesso ao crédito e ao emprego. Os índices corroboram a varação negativa das vendas do comércio catarinense, que chegou a -6,7%, segundo as informações divulgadas pelo IBGE, este o pior resultado desde 2001, quando a pesquisa iniciou.
Na avaliação da Federação, o cenário de queda do consumo, a constante alta inflacionária, os juros exorbitantes, o comprometimento do acesso ao crédito, somado ao quadro de incertezas políticas, influenciam no pessimismo e cautela dos consumidores. “Esperamos que as novas ações na área econômica possibilitem, ainda no segundo semestre, a retomada do consumo”, avalia o presidente da Fecomércio SC, Bruno Breithaupt.
Emprego, renda e consumo
O item emprego atual se retraiu tanto neste mês (-5,5%), quanto na variação anual (-12,0%), atingindo 110,7 pontos. Já e a renda atual voltou a cair na comparação mensal (-2,8%) e do ano (-4,3%), ficando nos 156,9 pontos. O nível o consumo atual caiu -10,1% no mês e a queda ao longo do ano acumulou variação negativa de 24,3%. Este é o resultado mais baixo desde que a série histórica foi iniciada.
Já o nível de emprego na comparação anual registrou queda de -12,0%, quando comparado com o mesmo mês do ano passado e de -5,5% na comparação com o mês de maio. Este item também atingiu o valor mais baixo da série histórica, resultado do aumento do desemprego.
Os indicadores em questão, numa perspectiva de longo prazo, se encontram em declínio desde o começo de 2014, sendo que a renda e o emprego atual ainda se encontram em níveis considerados otimistas.
Perspectiva profissional
Os catarinenses estão pessimistas em relação à sua perspectiva profissional. Isso está associado à alta inflação, a redução dos investimentos empresarias e retração econômica, que pressionou negativamente a criação de vagas formais no Estado e minando a percepção das famílias quanto a melhoria profissional. No mês de junho, o indicador perspectiva profissional apresentou queda na variação mensal e anual, de -0,6% e -2,5% respectivamente, ficando em 86, 4 pontos.
“Segundo o economista da Fecomércio SC, Luciano Córdova, a perspectiva para o consumo não depende somente da renda atual, mas também do acesso ao crédito, da perspectiva profissional e do emprego atual. “Como essas variáveis estão muito próximas da mínima histórica, a perspectiva de consumo também despenca”, argumenta.
Acesso ao crédito
O acesso ao crédito, em termos mensais, apresentou queda de -5,5%. Na comparação anual houve redução foi maior, de -24,2% e em termos absolutos, o índice se mantém abaixo dos 100 pontos pela décima primeira vez consecutiva: 84,9 pontos. A retração da renda, o aumento da inadimplência, a inflação e o longo período de desequilíbrio fiscal provocaram uma elevação da taxa de juros.
Neste mês, por exemplo, o rotativo do cartão de crédito chegou a 448% ao ano de acordo com dados do Banco Central. Para os próximos meses a perspectiva é que as taxas de juros continuem em nível elevado, ainda que sua trajetória de alta tenha cessado. Portanto, o acesso ao crédito continuará restrito, prejudicando o consumo, especialmente em Santa Catarina, a qual é uma economia mais sensível à oferta de crédito, devido a sua forte bancarização e renda elevada.
Perspectiva de consumo
A perspectiva de consumo das famílias catarinenses teve retração mensal de -7,0%, atingindo 35,9 pontos, número considerado extremamente baixo e o menor da série histórica iniciada em janeiro de 2010.
Na comparação anual, a retração atingiu -41,8%. Este número negativo está associado às incertezas políticas, ao pouco crescimento da renda, a percepção de que a recessão econômica vai se prolongar em 2016, a inflação elevada e ao aumento do desemprego.
Bens duráveis
O momento para aquisição de bens duráveis permaneceu abaixo 100 pontos (76,5) pela terceira vez consecutiva, o que denota que o consumidor considera atualmente um mau momento para sair às compras. O volume de vendas está sendo fortemente afetado e a variação acumulada nos últimos 12 meses para móveis e eletrodomésticos, por exemplo, chegou a cair 9,0% em Santa Catarina no mês de abril, segundo as informações do IBGE.