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“Ela era meiga e amorosa, preparava as refeições e servia a mãe doente no quarto, com o maior carinho”. Quem afirma é uma vizinha de Valéria Ribeiro da Silva, a jovem de 23 anos presa na terça (14) com o ex-namorado e uma prima. Eles são suspeitos de matar a mãe dela, Elenir Ribeiro, de 45 anos. O crime ocorreu em março em Caçador, no Oeste catarinense, mas só agora veio à tona.
A mãe da jovem sofria de esquizofrenia e necessitava de cuidados especiais, dos quais a filha era encarregada. Segundo o delegado responsável pelo caso, Fabiano Locatelli, o ex-namorado, Leandro Negretti, de 24 anos, indicou um emagracedor vendido sem retenção de receita médica, que não seria identificado em uma perícia.
Segundo a investigação, Valéria e a prima, Priscila de Fátima Ribeiro, de 25, assistiram à agonia da mulher por três horas. "Só depois de uma hora, quando tiveram certeza da morte dela, simularam um pedido de socorro aos bombeiros", contou o delegado. Na época, um atestado classificou a morte como natural.
Ao ser presa, Valéria preferiu permanecer em silêncio. O ex-namorado alegou desconhecer o que a garota pretendia fazer com o remédio.
“Ele disse que soube só depois o que seria feito com o medicamento. No entanto, no inquérito ficou provado que ele sabia de tudo. A prima sabia de tudo desde o início, ela admitiu em depoimento, o que a torna cúmplice do crime”, disse o delegado.

Cuidadora da mãe
Segundo a vizinha, que é casada com um primo de Valéria, a jovem assumiu o compromisso de cuidar da mãe em janeiro deste ano, quando a mulher retornou à casa da família depois de dois anos internada em clínicas de Caçador e Santa Cecília, ambas cidades do Oeste.
Conforme a vizinha, que teve a identidade preservada, a mãe de Valéria teve depressão após dar à luz a filha. “Com o passar dos anos o quadro só piorou. Quem sempre cuidou dela foi o pai, mas agora ele já está com 72 anos e com problemas de saúde, então delegou a função à neta”, contou a vizinha ao G1.
“Ela [Valéria] era meiga e amorosa preparava as refeições e servia a mãe doente no quarto, com o maior carinho, cuidava da higiene da doente, que usava fraldas e da casa da família com o maior capricho", relatou.
"Estamos chocados com a prisão, nunca imaginamos que ela pudesse fazer mal contra uma pessoa doente, ainda mais a mulher que lhe deu a vida", afirmou.

Avô está 'transtornado'
Segundo essa vizinha, enquanto a neta tomava conta da mãe, o avô se envolvia com os cuidados da própria companheira, de 60 anos, também com a saúde debilitada, e de um enteado, de 35 anos, esquizofrênico.
“Eles moravam todos na mesma casa, aqui, ao lado da minha. A vida da família é sofrida, em razão de tantas doenças, mas o avô não se conforma com a notícia de que as duas netas estão envolvidas na morte desta filha que ele amava tanto, está transtornado, não fala com ninguém”, disse a vizinha.
"Na delegacia, os policiais nos apresentaram os áudios em que ela admite que matou a mãe. Foi um golpe duro para todos, sobretudo para o avô ouvir aquilo”, lamentou.
Segundo a vizinha, a jovem trabalhava em uma empresa de móveis de Caçador, mas há quase dois anos precisou deixar o emprego, em função de uma grave depressão desencadeada pelo fim do namoro com o outro suspeito.
"Ela o amava demais. Nos últimos meses, estava namorando um agente penitenciário. Quando ele soube que ela era suspeita na morte da mãe, rompeu o romance, é um guri muito bom”, contou.
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no celular da jovem (Foto: Reprodução/RBSTV)
Medo
Conforme a mulher do primo da jovem, a prima que teria participado do crime tinha um comportamento acima de qualquer suspeita.
“A outra era ainda mais tranquila e doce. As duas eram uns amores, mas em um vídeo que a polícia mostrou para a família, a prima disse que foi pressionada pela filha da vítima e tinha muito medo dela”, contou.
Segundo o delegado, durante o interrogatório, a prima disse que tomou conhecimento do plano uma semana antes da morte da tia. “Ela acompanhou a jovem em todo o planejamento do crime. No dia da morte, a filha disse que iria buscar o remédio com o ex-namorado. Enquanto isso, a sobrinha cuidou da tia", disse o delegado.
Depois do almoço, as duas teriam ministrado uma alta dose do medicamento na vítima. "Elas acompanharam durante a tarde a mulher sofrendo até a morte”, disse Locatelli.
Caso de serial killer levantou suspeita
Segundo relatou o delegado Fabiano Locatelli na quarta (15), a polícia só levantou a suspeita após o desaparecimento de um irmão da vítima, na época da prisão um suposto serial killer na cidade - preso suspeito de matar e esquartejar ao menos três pessoas. Os policiais passaram a cogitar o envolvimento desse preso em vários desaparecimentos em Caçador.
Em depoimento sobre o desaparecimento do homem, um dos parentes da mulher de 45 anos declarou à polícia suspeitar que ela não tivesse morrido por causas naturais, mas que tivesse sido assassinada pela própria filha.
“Ainda não temos provas disso, mas já trabalhamos com a hipótese de que este homem possa ter sido assassinado para garantir a impunidade do crime”, declarou Locatelli.
Jovem foi a enterro
Segundo o delegado, a filha chegou a ir ao enterro da mãe. Mais de dez testemunhas prestaram depoimento à polícia, entre parentes e pessoas que tiveram algum tipo de contato com os envolvidos.
A jovem estava desempregada, assim como a prima. O ex-namorado era personal trainer. "As prisões surpreenderam muito. Esse rapaz era um personal trainer, muita gente é aluna dele", afirmou o delegado.
Confissão em áudio
No telefone da filha, foi encontrada uma gravação em que ela conversa com o ex sobre o medicamento que teria sido usado no crime, um remédio para perder peso que e vendido sem retenção de receita médica. Segundo a polícia, a gravação foi feita com o objetivo de chantagear o ex-namorado e reatar o relacionamento (ouça trechos abaixo).
Em outro trecho, o ex-namorado fala sobre as chances de o crime ser descoberto. "Qualquer morte que der infarto não tem como comprovar a causa (...) Se tivessem feito perícia no dia da morte, os remédios não teriam aparecido”, disse o rapaz.
O inquérito está praticamente concluído, segundo Locatelli. A polícia ainda precisa decidir se pedirá a exumação do corpo e aguarda laudos das perícias dos celulares do ex-namorado e da prima.