Estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do estado apontam ainda que a cada hora, pelo menos cinco mulheres registraram queixa por violência nas delegacias do estado em 2015. Segundo a Polícia Civil, muitos crimes ocorrem dentro de casa e o maior desafio ainda é vencer o silêncio das famílias, como mostrou o Bom Dia Santa Catarina desta terça (31).
Ao todo, foram 48 mil registros de violência contra a mulher no ano passado, uma média de 131 casos por dia. Em 2015, foram consumados mais de 2 mil estupros. No topo desta lista estão as cidades de Joinville e Florianópolis, com 147 registros no ano passado cada uma, e Blumenau, com 133.
Neste ano, só nos primeiros quatro meses, foram 101 casos de estupro registrados no estado.
“Em Santa Catarina, é muito debatido, muito pontuado que o estupro é crime, que isso não é normal e não pode ser tolerado. Temos um número grande de delegacias da mulher. No país, só perdemos para o estado de São Paulo. Quanto mais formas de acesso, maior é a notificação”, disse Patrícia Maria Zimmermann D'Ávila, coordenadora das Delegacias de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso.
Violência em casa
A jornalista Clarissa Peixoto está criando canais na internet, com outras mulheres, para discutir questões de gênero. Para ela, nada justifica um estupro, embora a cultura machista predomine e, em muitos casos, a vítima acabe sendo considerada a culpada pela violência.
“Há um desrespeito ao direito ao próprio corpo, ao direito de fazer com ele o que a mulher quiser, porque isso é visto como um sinal para um terceiro exceder o espaço dele”, comentou Clarissa.
A psicóloga Aline Thiede atende mulheres vítimas de violência sexual e física e procura encorajar as pacientes a falarem, a denunciarem os abusos.
“Muitas vezes, o agressor é uma pessoa impotente, uma pessoa covarde. Ele precisa pegar a outra à força, porque não consegue conquistar uma mulher. Geralmente, ele surge no berço familiar. Um pai, um padrasto, um avô, que abusam da criança e do adolescente”, disse Aline.
Segundo a psicóloga, esse tipo de estupro, intrafamiliar, acaba sendo subnotificado. Para a polícia, um dos maiores desafios é vencer o silêncio da família.
Estupro precisa ser identificado
“Eu já ouvi de pais que tinham mantido relações sexuais com as filhas, porque'eram deles e faziam com elas o que quisessem'. Essa cultura tem que acabar, as meninas, se estiverem sofrendo isso dentro de casa, que procurem ajuda com a professora na escola, com a vizinha, com o médico, que busquem auxílio, porque isso não é normal”, disse a delegada.
Para a coordenadora das delegacia, aepesar de Santa Catarina ter 29 delegacias de proteção à mulher - o que facilita a procura pelo serviço - ainda é preciso qualificar o atendimento às vítimas e criar rotinas de trabalho em rede. “Já caminhamos bastante, mas ainda precisamos evoluir muito mais”, disse a delegada Patrícia.
“Precisamos dialogar, a gente precisa conversar com as mulheres, ‘olha, isso que acontece com você acontece comigo também, até de uma forma que, às vezes, você nem percebe’”, exemplificou a jornalista Clarissa Peixoto.