Somente depois da morte do advogado Roberto Caldart, 42 anos, na última terça-feira, em Palhoça, a Polícia Militar (PM) admitiu que precisa rever o controle dos policiais que prestam serviços fora do expediente. Para isso, garantiu em coletiva de imprensa nesta quinta-feira que será criteriosa nas investigações de profissionais que fazem os conhecidos "bicos".
O comando PM informou que vai criar um grupo de trabalho para investigar as irregularidades e promete não fazer vistas grossas para a prática. Conforme o comandante da 11ª Região da PM,
—A partir da discussão que se instalou nesses eventos, já houve uma decisão de que a polícia deve dar mais atenção a essa questão e desenvolver ações, projetos e programas voltados especificamente para lidar com essa situação — prometeu, e colocou à disposição da comunidades os telefones 190 e 181 para denúncias de policiais que fazem "bicos".
O comandante ressaltou que o estatuto da PM exige dedicação integral, com exceção de trabalhos de docência e na saúde. Acrescentou que desde 2005 existe uma norma interna que proíbe qualquer atividade paralela no ramo da segurança. No momento da morte de Caldart, os cinco PMs estavam em horário de folga.
Gomes ainda rebateu que o termo milícia, usado pela OAB, não é apropriado, pois milícia pressupõe a ausência do Estado, com territorialização, mas, segundo ele, o Estado agiu prontamente ao saber do que tinha acontecido em Palhoça.
— Não se pode confundir milícia com quadrilha — diz.
Para a Associação de Praças do Estado de Santa Catarina (Aprasc) a criação do grupo de trabalho é positiva. O presidente da entidade, Edson Fortuna, no entanto, pondera que a PM precisa também fiscalizar quem contrata os serviços dos policiais:
—É positivo, mas não resolve o problema original. O bico é só a ponta do iceberg. Gostaríamos que esse assunto fosse tratado com a seriedade que deveria ser tratado — aponta.
Fortuna conclui que a corporação não deve tratar a ação somente como fiscalização, mas também de orientação.
O advogado Roberto Caldart foi morto terça-feira à tarde, num terreno na Barra de Aririú. Ele defendia moradores de quitinetes que ficam no terreno e foi agredido com um soco na traqueia.
No grupo de sete pessoas onde ocorreu a agressão estavam cinco policiais que já foram identificados, afastados pela PM até o fim da investigação e estão presos em seus batalhões.
DC