E agora?
Agora o país fica dividido de vez.
Tudo já fora transformado em uma grande partida de futebol.
E agora, em Brasília, saiu o placar: o resultado da partida.
Um time venceu, outro time perdeu.
Há os que vão dizer que perdemos todos. Há os que vão dizer que ganhamos todos.
Mas há de se ter coragem de chamar as coisas pelo nome: Infelizmente, o circo que armou-se em torno de algo tão sério reduziu nossa relação com política a isso: perdeu versus ganhou.
Na manhã de hoje, na Avenida Atlântica, viu-se, de um lado, um baile funk cheio de gente de morro, cheio de gente da periferia, cheio da gente que o transporte e a segurança pública querem barrar nas praias da zona sul nos domingos de sol.
Do outro, no mar, uma lancha cercada de jet skis exibia uma faixa pró impeachment. Moradores dos apartamentos duplex da orla aplaudiam.
A História ensina que luta de classe, pobres contra ricos, existe sim, sempre existiu, em todas as civilizações, e só acaba da seguinte forma: quando não há mais gente pobre.
Nesta manhã, esta divisão, antes velada, agora está às claras. O que não é necessariamente ruim.
Definitivamente divorciados, podemos parar de tampar o sol com a peneira do país cordial, tolerante e unido.
Nunca fomos este país.
Só seremos se primeiro reconhecermos isso.
Mas reconheçamos: hoje terminou uma partida.
E as torcidas de cada um dos dois times estão ainda mais afastadas uma das outras.
Uma delas, a que perdeu a partida, está enfurecida: certa de que houve um golpe sem militares e que este foi, a exemplo do último golpe que sofremos, em 1964, empreendido pela direita, pela FIESP e pela imprensa, que cooptou corações e mentes para ganharem as ruas pedindo a queda do governo.
Os acontecimentos das últimas semanas acordaram e uniram a militância de esquerda. Ela que estava adormecida fazia mais de década.
Militantes de esquerda, desde a época de Maria Antonieta, sabem mais sobre "esse negócio de manifestação de rua".
Prometem fazer das Olimpíadas no Rio, suas provas de rua, suas câmeras e holofotes, o veículo perfeito para mostrar ao mundo inteiro o que pensam.
A polícia irá reprimir, sabendo-se apoiada pela massa conservadora que saiu do armário em 2015, com violência desmedida. Manifestantes serão presos. A imprensa, ocupada com a cobertura dos Jogos Olímpicos, não irá dar a atenção devida. E tudo isso irá mobilizar ainda mais manifestantes.
Não serão meses fáceis.
A não ser que...
Bem, existem perguntas de um milhão de dólares.
E existem respostas de um milhão de dólares.
Se a resposta para as perguntas abaixo forem "sim", nem tudo está perdido. Poderá-se ao menos diminuir a cisão entre torcidas. Poderá-se até, quem sabe, uní-las.
Vamos às perguntas de um milhão de dólares:
1. A operação Lava Jato irá continuar com a mesma intensidade? Serão também punidos políticos da oposição acusados pelo Ministério Público e pela polícia federal?
2. Quem marchou nas ruas vestido de verde e amarelo, contra a corrupção, continuarará marchando e cobrando punição de todos os que estiverem envolvidos nela, seja de qual partido forem?
3. A imprensa continuará incansável, publicando e cobrando diariamente, começando já amanhã, segunda-feira, todos os escândalos de corrupção que foram apontados nos últimos meses?
"Sim" é a resposta de um milhão de dólares.
A curto prazo, o que determinará nossas vidas será o poder do sim.