Um dia após desembarcar do governo federal, o PMDB realizou uma sessão solene na Câmara dos Deputados para comemorar os 50 anos de existência do partido. Em discurso, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), citou a atual crise política e disse que, “diante da tempestade”, o PMDB sempre se mostrou um “porto seguro”.
A decisão de romper com o Palácio do Planalto e entregar todos os cargos na esfera federal foi tomada pelo diretório nacional em uma sessão na terça-feira (29) que levou menos de cinco minutos e ocorreu sob gritos de “fora, PT”.
“Diante da tempestade, o PMDB se mostra como sempre se mostrou: um porto seguro”, afirmou Cunha a poucos parlamentares presentes à sessão solene. Em nenhum momento ele fez menção ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em tramitação na Câmara.
Ainda em referência à saída do governo, Cunha disse que, embora a sigla tivesse diferentes correntes, conseguia se unir nos “momentos cruciais”. “Em todos os momentos cruciais do país, soube se juntar e, a exemplo do que ocorreu ontem, por aclamação ou consenso, acabar trilhando o seu destino”, afirmou o deputado.
Cunha disse ainda que “delineia-se um novo horizonte e um novo futuro” no país e o PMDB“não vai faltar” com o Brasil. “Nesse momento crucial da vida nacional e da vida política brasileira, o PMDB, que sempre soube se pautar pela defesa do interesse público e pelos maiores interesses do nosso país, não falou e não vai faltar com o nosso país e com a nossa população”, declarou.
Ele fez diversas citações à crise política e lembrou do documento intitulado “Uma ponte para o futuro”, apresentado em outubro pelo PMDB com propostas políticas. “Nele se identificam as razões que levaram o país ao caos econômico”, ressaltou.
Segundo Cunha, o país passa por uma situação “de extrema delicadeza”, mas as instituições estão fortalecidas. “O meio centenário do PMDB coincide com um momento político conturbado e pujante (...) O país passa por uma situação de extrema delicadeza na qual as instituições têm sido insistentemente testadas e correspondidas”, destacou.
Ele ressaltou a capilaridade do partido pelo país, lembrando que a legenda tem a maior bancada da Câmara e do Senado, o maior número de deputados estaduais, de prefeitos, governadores e vereadores. “É o maior arco político do nosso país”, disse Cunha.
Eliseu Padilha
Ex-ministro do governo Dilma, Eliseu Padilha, que é segundo vice-presidente do PMDB e um dos principais articulares políticos do partido, também destacou a atual crise política e, sem citar o processo de impeachment, disse que o PMDB, quando chamado, sempre se fez presente.
“Queremos, sim ser o PMDB de sempre. O PMDB que, historicamente, nos momentos em que o Brasil chamou, disse: ‘Presente’”, afirmou Padilha.
Ele comentou o desembarque do governo e disse que a saída correspondia à ânsia da base partidária para que o partido assumisse protagonismo. “De 10 peemedebistas, 11 queriam e querem a candidatura própria [em 2018], um projeto próprio para ao Brasil”, afirmou Padilha.
O ex-ministro sustentou ainda que a legenda “sempre foi um fator de estabilização” e que não seria agora que iria ajudar a desestabilizar o cenário político. “Não faremos nada, absolutamente, que contrarie o plano institucional”, disse.
Líder na Câmara
Sem fazer menção ao desembarque do governo, o líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ), que nos últimos meses havia se aproximado do Palácio do Planalto, lembrou que o partido é formado por diferentes correntes e reconheceu haver “grandes divergências dentro do PMDB”.
No entanto, em tom conciliador, disse que essas divergências não fragilizavam a legenda mas, ao contrário, "são a força-motriz que engrandece o PMDB". “A divergência é muito mais sábia porque permite se aproveitar um pouco da opinião de um, um pouco da opinião de outro”, disse Picciani, que se ausentou da reunião do diretório que sacramentou a ruptura com o governo.
Depois de cerca de 20 minutos do início da sessão, Cunha deixou o plenário e passou o comando da sessão solene para deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG) que havia sugerido a sua realização.
Em nome do PMDB, o deputado Edinho Araújo (PMDB-SP) fez uma breve fala focando na trajetória história da sigla e citando peemedebistas ilustres, como Ulysses Guimarães.