Segundo a reportagem, hoje uma água barrenta ocupa o lugar por onde passava o rio Liso até dois meses atrás. A equipe encontrou galhos, árvores e muita terra depois que houve um grande deslizamento, e a água acabou mudando de curso e invadiu três propriedades.
A quantidade de terra que caiu é impressionante, relata Júlio. Centenas de toneladas numa área de 14 mil metros quadrados. Ainda não se sabe o impacto sobre o ecossistema da região, nem a quantidade de peixes que já morreram com o deslizamento, explica a reportagem.
A equipe apurou que nesse lugar uma mineradora realizava extração de areia no morro. Ao remover a terra, o morro ficou sem sustentação e desmoronou. No novo curso que o rio Liso está abrindo, a terra ficou imprópria para agricultura. Um agricultor que plantava milho e feijão teve prejuízo e outro morador precisou abandonar a casa por causa do deslizamento de terra.

Empresa não existe mais
A reportagem apurou que a areia é abundante no solo de Porto União e criou, na cidade, um negócio lucrativo para as mineradoras. O Ministério Público, que investiga o caso, considera responsável a empresa Areial Ressaca que, segundo o MP, agiu desrespeitando o meio ambiente desde 2004, numa área de preservação permanente. Mas foi com o desmoronamento, no fim do ano passado, que o descaso com o meio ambiente chegou ao limite.
A equipe da RBS TV foi atrás da empresa e descobriu que a Areial Ressaca não existe mais. A reportagem conversou com uma mulher, que conta que a empresa era de dois irmãos que brigaram e não se falam mais.
O RBS Notícias teve acesso exclusivo a pareceres técnicos da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), o órgão que fiscaliza a extração de areia em Santa Catarina. Um deles, de 2008, relata extração em desacordo com as leis ambientais e licença vencida. A operação foi embargada e foi estipulada uma multa de R$ 45 mil.
Em 2009, estava tudo igual. Mais uma vez, embargo e multa, de R$ 20 mil. Em 2010, mais um parecer: a Areial Ressaca estava causando danos à vegetação e jogando material da extração para dentro do rio.
Mas como a mineradora teve a operação em São Miguel da Serra embargada duas vezes, em 2008 e 2009, e estava funcionando em 2010? A resposta está em outro documento exclusivo: técnicos da Fatma em Canoinhas fizeram os embargos, mas o desembargo, ou seja, a liberação, foi feita pela procuradoria jurídica da Fatma, em Florianópolis. O mesmo documento informa que a área de extração em São Miguel da Serra está abandonada desde 2011.