
Presidente da Câmara rebateu procurador-geral e falou que se trata de um "fato político"
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
A Procuradoria Geral da República (PGR) enviou documento ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo o afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), baseada em 11 motivos. De acordo com a PGR, a saída do peemedebista do cargo é necessária para o andamento das investigações em que ele é citado na Operação Lava-Jato, que apura um esquema bilionário de corrupção na Petrobras e outras empresas.A solicitação foi feita na noite de quarta-feira no gabinete do ministro do STF Teori Zavascki, relator da Lava-Jato.
Conselho de Ética notifica Cunha, e deputado tem 10 dias para defesa
A decisão sobre o afastamento cabe ao plenário da Corte, ainda sem data definida. Em resposta ao pedido, Cunha falou que se trata de um "fato político" e uma retaliação do procurador-geral, Rodrigo Janot, que o "escolheu para ser investigado".O presidente da Casa confirmou que tinha em sua casa cópia dos inquéritos contra ele e afirmou que as provas apresentadas por Janot foram retiradas do próprio inquérito, proveniente de depoimentos existentes. Veja, a seguir, os motivos da PGR para o afastamento de Eduardo Cunha:
1) Pressão para receber propina por meio de requerimentos na Comissão de Fiscalização referentes a Julio Camargo e o Grupo Mitsui
A PGR diz que dois requerimentos foram elaborados por Cunha, utilizando sua senha pessoal e login de rede, e que eles foram apenas inseridos no sistema da Câmara pela então deputada federal Solange Almeida. Após a autoria dos requerimentos vir à tona, Cunha exonerou Luis Carlos Eira do cargo de Diretor de Informática da Casa. Segundo a PGR, além do caso envolvendo as sondas, as práticas de "achaque" ocorreriam desde 2003.
2) Mesmos instrumentos de pressão utilizados contra o grupo Schahin
A PGR aponta que Eduardo Cunha estaria por trás de mais de 30 requerimentos e convocações feitas para pressionar os donos do grupo Schahin, com apoio do empresário Lúcio Bolonha Funaro. Salim Schahin descreveu com detalhes à Justiça a perseguição que a empresa teria sofrido dentro do Congresso, especialmente por parte de Cunha. A rixa ocorreria para beneficiar Funaro, que é adversário de Schahin.
3) Convocação da advogada Beatriz Catta Preta para a CPI da Petrobras
O objetivo dessa convocação, conforme a PGR, seria constrangê-la por ter auxiliado Julio Camargo a incriminar Eduardo Cunha. A PGR sublinha que o presidente da Câmara teria usado seus aliados para "constranger e intimidar quem ousou contrariar seus interesses". Beatriz é uma advogada criminalista que defendeu nove delatores da Lava-Jato.
4) Contratação da empresa de investigação Kroll pela Câmara por R$ 1 mi
A intenção de Eduardo Cunha ao contratar a Kroll, diz a PGR, seria descobrir algo para comprometer os acordos de delação premiada. A Procuradoria aponta que a Kroll tem "atuação controvertida no Brasil".
5) Pressão sobre o Grupo Schahin na CPI da Petrobras e convocação e afastamento do sigilo de parentes de Alberto Youssef

Cunha teria usado, segundo a PGR, a CPI para convocar parentes do doleiro Alberto Youssef (foto acima) como forma de pressão. Na delação premiada, o doleiro confirmou que Cunha recebeu propina oriunda da negociação de navios-sonda adquiridos da Samsung.
6) Manobras para viabilizar projetos de lei que poderiam evitar sua própria incriminação
A PGR afirma que Eduardo Cunha abusou do poder para mudar a lei e impedir que um delator corrija ou acrescente informações em depoimentos já prestados. É o projeto de lei nº 2755/2015, do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI)
7) Retaliação contra que contrariam seus interesses
Com a demissão do diretor de informática da Câmara, Luiz Eira, Cunha teria demonstrado, ressalta a PGR, que quem o contraria sofre consequências. Membros dabancada do PSOL e da Rede Sustentabilidade estariam sendo retaliados pelo presidente da Casa por levarem adiante a representação pela cassação dele no Conselho de Ética.
8) Participação em atos legislativos para favorecer bancos e empreiteiras e receber vantagens indevidas
Para aprovar parte de Medida Provisória de interesse do banco BTG Pactual, de André Esteves — preso pela Lava-Jato —, Cunha teria recebido vantagens indevidas, sustenta a PGR. Isso teria ocorrido em pelo menos mais 10 MPs.
9) Manobras para evitar punições no Conselho de Ética

Cunha responde a representação por quebra de decoro parlamentar e, para escapar de penalizações, teria utilizado, de acordo com a PGR, "manobras espúrias" como obstrução da pauta e início de sessão com a presença de quórum abaixo do exigido para votações.
10) Ameaças ao ex-relator do processo de cassação no Conselho de Ética
Um dos parlamentares do Conselho de Ética relatou à PGR que Fausto Pinato (PRB-SP) teria recebido ameaças e que sua família sofrera constrangimento durante um trajeto realizado de carro em Brasília. O responsável, segundo a Procuradoria, seria Eduardo Cunha.
11) Novas ameaças e oferta de propina ao ex-relator do processo de cassação

Após o afastamento do processo de cassação de Cunha, Pinato (foto acima) disse que foi abordado por pessoas em um aeroporto e que sofreu ameaças, além de ter recebido, de maneira velada, ofertas de vantagem ilítica pela sua posição de relator.