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Inédito fóssil: Um lagarto do velho mundo num antigo deserto da América do Sul

Terça, 01 de setembro de 2015

Trata-se de um lagarto com aproximadamente 80 milhões de anos, denominado de Gueragama sulamericana

 

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Equipe em campo (Foto Divulgação)
  

Mafra – Os pesquisadores do CENPALEO/Universidade do Contestado, Universidade de Alberta (Canadá) e Museu Nacional (UFRJ), tem o prazer de comunicar a descoberta de um inédito fóssil para o Brasil, que também foi publicado na quarta-feira, dia 26, no periódico científico Nature Communications (um dos periódicos multidisciplinares mais renomados do mundo) a descoberta de uma nova espécie de lagarto fóssil encontrado em território brasileiro.

A nova espécie foi denominada de Gueragama sulamericana, que significa Guera = antigo, agama = gênero feminino e sulamericana = proveniente da América do Sul. A descoberta foi realizada no município de Cruzeiro do Oeste, noroeste do Estado do Paraná, Brasil, com idade aproximada de 80 milhões anos (Cretáceo superior).

A descoberta de Gueragama sulamericana é de extrema significância por 3 motivos principais:

1- Um dos maiores grupos de lagartos viventes são os lagartos iguanídeos (representados por mais de 1.700 espécies viventes, mais as fósseis). Este se divide entre os iguanídeos Acrodonta (informalmente, acrodontes), que existem atualmente apenas nos continentes do Velho Mundo, e nos iguanídeos não-acrodontes, que habitam predominantemente as Américas (além de Madagascar e algumas ilhas do Oceano Pacífico). Gueragama sulamericana é um lagarto acrodonte, sendo, portanto, o primeiro registro (fóssil ou vivente) de todo este grupo de répteis na América do Sul.

2- Os fósseis mais antigos de acrodontes têm cerca de 180-160 milhões de anos (MA) e foram encontrados na Índia, que fazia parte do antigo supercontinente de Gondwana (juntamente com as atuais massas de terra do hemisfério sul). Este grupo se dispersou pela Ásia durante o Cretáceo Superior (83-66 MA), e muito posteriormente (durante o Cenozóico, entre 66 MA atrás até o presente), pelo resto do Velho Mundo (África e Europa). A descoberta de Gueragama sulamericana indica que a dispersão deste grupo de répteis pelo hemisfério sul se deu muito antes do que se imaginava, e que os acrodontes alcançaram uma distribuição em escala global antes do Cenozóico.

3- A origem da fauna de lagartos e serpentes da América do Sul, importantes componentes da biodiversidade atual deste continente, continua um mistério. Porém, a descoberta de Gueragama sulamericana ajuda a compreender um pouco mais dessa origem. Gueragama sulamericana indica que, pelo menos parte desta fauna primitiva de lagartos sul americanos eram mais proximamente relacionados a grupos que hoje estão em outros continentes, do que a grupos atualmente habitando o Brasil e o resto da América do Sul.

Os especialistas em répteis da Universidade de Alberta (em Edmonton, Canadá) Tiago Rodrigues Simões (aluno de doutorado) e o Dr. Michael Caldwell, foram fundamentais para a caracterização paleobiológica e filogenética desta nova espécie, que apresentava um tamanho aproximado de 15 cm, e provavelmente viviam em tocas neste deserto durante boa parte do dia.

Segundo o geólogo Dr. Luiz Carlos Weinschütz (CENPALEO/Universidade do Contestado, Mafra, Brasil), coordenador dos trabalhos de campo, “entre 87 a 75 milhões de anos, grande parte do centro-oeste, sudeste e sul do Brasil compunham um grande deserto, conhecido hoje na comunidade geocientífica como “Deserto Caiuá”, onde esta espécie habitava o entorno de possíveis áreas úmidas, como oásis, convivendo com tapejarídeos (grupo de pterossauros) como a espécie Caiuajara drobuskii, descrita para o mesmo local”. Esporadicamente chuvas tempestuosas assolavam o local e carreavam ossos, carcaças de animais e sedimentos para o fundo destes lagos de forma caótica, causando a desarticulação dos esqueletos e seu empilhamento desordenado, dificultando assim a identificação.

 

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Gueragama sulamericana (Foto Divulgação)
 

Para o paleontólogo MSc. Everton Wilner (CENPALEO/Universidade do Contestado, Mafra, Brasil), “a qualidade de preservação do exemplar, que é composto por uma mandíbula esquerda com dentes medindo aproximadamente 18 mm em seu comprimento maior, e outros pequenos fragmentos de maxila e dentes, compõem uma das amostras de idade cretácea mais completa para este grupo. Tal fato possibilitou além da descrição de uma nova espécie a construção de um estudo filogenético completo”. O professor Everton ainda ressalta que graças a esse tipo de integração que há entre universidades brasileiras e estrangeiras é possível desenvolver com grande envergadura o entendimento sobre o passado da vida na Terra, visto que cada especialidade dentro da paleontologia é bem vinda para a construção do conhecimento, não apenas acadêmico-científico, mas também social.

Neste estudo também participou do Dr. Alexander Kellner, do Museu Nacional/UFRJ (Rio de Janeiro, Brasil), que há vários anos vem colaborando com as pesquisas no Município de Cruzeiro do Oeste, PR. Para o Prof. Kellner “esta descoberta demonstra o enorme potencial do Brasil para contribuir com o conhecimento da evolução dos vertebrados, o que pode ser exemplificado com o depósito de Cruzeiro do Oeste. Se com pouca verba já fazemos descobertas importantes, imagina se houvesse um investimento substancial na paleontologia brasileira”.

Esta pesquisa contou com a participação das seguintes instituições: Universidade do Contestado/CENPALEO; Museu Nacional/UFRJ; Universidade de Alberta, teve o apoio logístico da Prefeitura Municipal de Cruzeiro do Oeste, PR e foi autorizada pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) conforme processo 48400-000807/2012-94.

A Reitora, professora Solange Sprandel da Silva, parabeniza os pesquisadores geólogo Dr. Luiz Carlos Weinschütz e paleontólogo MSc. Everton Wilner, do CENPALEO pela descoberta importante na Paleontologia brasileira. “Mais uma vez a pesquisa realizada na UnC se destaca em nível internacional”, afirma a Reitora.



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