Cléverson Israel Minikovsky (Pensando e Repensado)
Advogado
Filósofo
Jornalista (DRT 3792/SC)
Por Piotr Smirnoff
Diria que se existe uma lógica na História ela está diretamente ligada ao desenvolvimento do cristianismo. Com o advento do cristianismo a Igreja de Atos dos Apóstolos, através de seus exemplos de heroísmo e martírio caminha para a aquisição de prestígio social. O prestígio social se torna tamanho que os cristãos tomam para si o governo do mundo. E com Constantino a igreja se burocratiza, se institucionaliza, se juridiciza. E a estatização da religião cristã redunda na liturgia e no engessamento do cristianismo. A ponto de a rigidez causar tamanho distanciamento do propósito original e genuíno do cristianismo de formas a precipitar e dar causa à Reforma Protestante. E no que redunda a Reforma Protestante? Diria que o lado mais belo da Reforma Protestante é a superação da proposta de Lutero. O que se vislumbra hoje não é luteranismo, calvinismo ou seja lá o que for. O que se vislumbra é cristianismo saudável e de melhor qualidade. E o que visa este cristianismo de excelente qualidade? Simples: ele visa estabelecer o governo de Cristo na terra. E faz e prega isto de uma maneira tão bela que está angariando muita gente. O ministério apostólico dos evangélicos está acrescendo dia a dia mais e mais pessoas. E os neoconvertidos por sua vez promovem efeito multiplicador anunciando as bênçãos que Deus tem proporcionado em suas vidas. De tal sorte que o cristianismo será reinventado. E quando ele for hegemônico e o catolicismo não passar de uma lembrança do passado novamente os cristãos terão o governo da terra. E o que vai acontecer quando os cristãos novamente tiverem o governo da terra? Simples: irão se desgastar como todo aquele que é governo se desgasta. E nova onda, semelhante ao processo de romanização pré-medieval, vai acontecer. E novamente nova cracas apegar-se-ão ao cristianismo. E ele aspirará a pureza do passado. E novos reformadores virão. E a História do Ocidente e por consequência a História da humanidade consistirá neste ciclo e rejuvenescimento e envelhecimento de estruturas eclesiásticas cristãs. Porque os objetivos do cristianismo são dois: ser governo e ser puro. Quando for puro quererá ser governo e quando for governo quererá resgatar a pureza. Muitas idades médias e muitas modernidades sobrevirão. E todo este grande movimento de megaciclos apenas mostrará a capacidade da cultura cristã de reinventar-se. Justamente por haver no cristianismo elementos de conservação e de mudança é que ele sempre será a grande resposta para o homem de hoje e de amanhã. E é claro que todas estas idas e vindas atingirá diretamente o pensamento humano do que a tradição filosófica é o melhor espelho. Avivamento produz esfriamento e esfriamento produz avivamento. A contradição move o cristianismo. E a contradição é interna. O cristianismo nunca morrerá porque ele é o que tudo de perene é: algo essencialmente em eterno processo de trânsito e mudança. A única coisa que não muda no cristianismo é a mudança. O cristianismo é o eterno “arrependei-vos” sendo que o ser humano, falho que é, sempre tem do que se arrepender. Entre casamentos e divórcios com o mundo situa-se o cristianismo. É difícil não se imiscuir com que se é casado. Difícil mesmo. O mundo evangélico está fazendo o trabalho de formiga: cabeça a cabeça. E quando a soma das individualidades for a maioria absoluta novos tempos virão. Quem sabe com a invenção de uma nova Idade Média tenhamos uma vez mais uma sociedade estável, menos suscetível a mudanças. O que o homem de hoje não suporta mais é o ciclo absurdo e veloz de mudanças. Nenhuma outra força além do cristianismo é capaz de tragar para dentro de si uma humanidade inteira mais de uma vez. Só é possível substituir um cristianismo mal compreendido por outro mais esclarecido. Mas nada consegue ser melhor do que cristianismo. No fundo tudo mede o grau de pureza com que lemos as Sagradas Escrituras. O cristianismo que ataca as portas do inferno é puritano e literal. O cristianismo que se defende das portas do inferno está montados sobre cultura erudita, ciência, filosofia e poder. O cristianismo revolucionário prega para as massas e quando está plenamente constituído aliança-se com os ricos, sábios e poderosos. A obra da cruz fez mais que salvar homens e mulheres que aceitaram a palavra e que se fizeram batizar, ela disse como a História humana progrediria e consubstanciar-se-ia. Há uma troca entre conter e estar contido. A Igreja nega o mundo mas se alimenta de almas que estão no mundo. Há uma codependência entre o profano e o sagrado. O cristianismo cristianiza o mundo e o mundo mundaniza o cristianismo. O pêndulo está fazendo apenas seu segundo movimento, mas antes do final dos tempos poderá repetir várias e várias vezes este ciclo.