Cléverson Israel Minikovsky (Pensando e Repensado)
Advogado
Filósofo
Jornalista (DRT 3792/SC)
Platão resolveu o problema metafísico e epistemológico pressupondo um lastro virtual garante do real. Aristóteles fez o céu baixar e penetrar a matéria. O mundo das ideias de Platão se torna o mundo das formas. A forma casada com a matéria é a substância. Kant fala que ele fez na filosofia uma reviravolta copernicana. Enquanto para Aristóteles o sujeito, via abstração, gira em torno do objeto, para Kant os objetos giram em torno do sujeito, o sujeito é o centro. Habermas coloca o apriorismo no discurso, no consenso, na inteligência social. Assim, onde quer que esteja o apriorismo, é preciso que haja um apriorismo. Como teórico da metanarrativa não diria que A está certo, em prejuízo de B ou C, mas diria que todos estão certos. Na verdade, seguindo um raciocínio de Darwin para a noosfera poderíamos arranjar o seguinte esquema teórico: no princípio o que há é o mundo espiritual (Platão). Então do mundo espiritual emerge a natureza onde a razão iria radicar-se (Aristóteles). Mas quando a natureza torna-se objeto da investigação humana é angularizada a relação entre sujeito e objeto (Kant). E quando os esforços iluministas individuais tomam o corpo de uma democracia nasce a ética do consenso (Habermas). Então vem o quinto apriorismo: o da técnica, o da rede mundial de computadores. Daí o cabimento do que dissemos com Patrick Vicente e com Mariano Soltys em Crítica da Razão Cibernética. E para quem pensava que não mais é possível fazer metafísica, digo exatamente o contrário: ainda é possível fazer metafísica. Mas agora ela tem várias moradas e é mais complexa. E um sistema só vai dar conta de esgotar o fenômeno se contemplar todos estes eixos por nós suscitados acima. Ou melhor, suscitados não, apenas reconhecidos. Ao invés de mudarmos as coisas de lugar, cumpre, doravante, contemplar todos os lugares. O que se passa na prática não é muito diferente disso. Todos nós somos metafísicos. Há quem coloque o apriorismo na vida sexual, outros na vida profissional, outros no campo intelectual, e assim por diante. A filosofia, mais do que ser recomendativa, apenas sinaliza de que qualquer que seja nossa opção ela será sempre relativa e limitada.