Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
Facebook Jornal Evolução       (47) 99660-9995       Whatsapp Jornal Evolução (47) 99660-9995       E-mail

Dar nome aos bois

Terça, 19 de agosto de 2014


“Um homem é detido, encarcerado e açoitado, também achincalhado pelos que o prenderam; por deboche dos algozes, enquanto se esvai em sangue, é declarado “rei”, a quem, entre insultos e chicotadas, devem, pois, coroar. Ninguém pode salvá-lo naquele momento, nem mesmo se ele apelasse a Deus, de quem se acha Filho, ou a qualquer outro ser superior, aqui na Terra, que, comovido com tanto sofrimento, resolvesse, quem sabe, interceder em seu benefício. Ninguém. Só se ouvem, no vácuo do dia, os gemidos do infeliz mesclados aos risos sádicos dos guardas na prisão.

Essa pequena narrativa é uma passagem que todos devem conhecer: o teatro, desde a Idade Média, mais a pintura, a literatura e, depois, o cinema já exploraram demasiadamente esse tema, parecendo que os ímpetos de curiosidade em torno desse fato não se esgotam nunca. Acontecimento antigo, o relato transformou-se em arquétipo e em motivo histórico que sobrevive e resiste aos tempos com pequenas variações, sem que se altere o seu núcleo dramático. Afinal, sempre haverá prisioneiros nessas condições: uns injustiçados, comendo o pão que o diabo amassou; outros, cuja ação criminosa até poderia justificar o castigo, tornam-se alvo de indignação por parte das almas mais sensíveis, que não suportam saber que existem neste mundo tanta violência e barbaridade.

Mesmo ciente do desgaste do tema e das imagens universalmente conhecidas, o poeta e crítico literário José Paulo Paes compôs um texto lírico com essa matéria. O título “Do Novíssimo Testamento” já revela o aproveitamento da história daquele que mais influência tem exercido no pensamento cristão e na arte de uma maneira geral. O herói é Jesus Cristo, cujo drama da Paixão não para de ser reescrito ou encenado nos palcos do mundo inteiro. Eis o poema de José Paulo Paes, tirado do livro Resíduo, de 1980:

“e levaram-no maniatado e despindo-o o cobriram com uma capa de escarlata e tecendo uma coroa d’espinhos puseram-lha na cabeça e em sua mão direita uma cana e ajoelhando diante dele o escarneciam e cuspindo nele tiraram-lhe a cana e batiam-lhe com ela na cabeça e depois de o haverem escarnecido tiraram-lhe a capa vestiram-lhe os seus vestidos e o levaram a crucificar o secretário da segurança admitiu os excessos dos policiais e afirmou que já mandara abrir inquérito para punir os responsáveis”.

Usamos este texto para questionar, assim como o somos, porque determinadas pessoas que cometem delitos, a polícia fornece nome, idade, e até endereço. Por outras vezes apenas iniciais e nada mais. Qual o critério? Qual a Lei? O que impede que uns  sejam escrachados  e outros protegidos? Para o leitor o Jornal não publica determinados nomes porque ganhou dinheiro. Publica outros porque não quiseram pagar. Deixamos bem claro que não prendemos, não condenamos, não julgamos e não fazemos Boletins de Ocorrência. Também ficamos chateados mas não podemos publicar a informação que não tem fonte. Agora publicar iniciais é o mesmo que chorar em sepultura errada ou mandar lembranças para quem não se conhece. Afinal o protegido não é o cidadão comum e de bem. O protegido é o bandido até que nos provem o contrário.






Comente






Conteúdo relacionado





Inicial  |  Parceiros  |  Notícias  |  Colunistas  |  Sobre nós  |  Contato  | 

Contato
Fone: (47) 99660-9995
Celular / Whatsapp: (47) 99660-9995
E-mail: paskibagmail.com



© Copyright 2025 - Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
by SAMUCA