Na segunda-feira, o ex-deputado federal Cláudio Vignatti será confirmado pelo convenção do PT como candidato do partido ao governo de Santa Catarina. No início da noite de sexta-feira, o petista recebeu a equipe do Diário Catarinense e falou sobre sua candidatura, sobre o apoio do rival Raimundo Colombo (PSD) á presidente Dilma Rousseff (PT) e foi enfático ao defender o fim das 36 secretarias regionais.
Diário Catarinense — O PT teve candidaturas próprias ao governo em SC desde 1998 e teve em todas elas a sina do terceiro lugar. Como o senhor pretende mudar essa história?
Claudio Vignatti — Dessa vez vamos ficar em primeiro (risos). Vamos construir a possibilidade de ser o primeiro. Essa eleição pode ser diferente de todas as outras porque o partido está animado para o processo. Em 2002, nós tivemos os melhores resultados, só não fizemos o governador. O partido está animado da mesma forma. Eu participei daquele momento, me elegi deputado federal, e percebo isso. A militância está animada. Nós fizemos um processo de debates sobre o programa de governo. Estamos fechando as diretrizes para inscrever no dia 5 e que vamos apresentar na convenção...
DC— Mas o crescimento do PT em SC na eleição de 2002 foi baseada na votação alcançada pela candidatura Lula. Agora, pela primeira vez, vocês vão compartilhar o presidenciável petista. Como fica essa situação?
Vignatti — Não tem problema. Nós já tivemos momentos em Santa Catarina três candidatos a presidente em um mesmo palanque. Isso sim é um problema. Quando Nelson Wedekin foi candidato a governador em 1994, o PSDB tinha o candidato ao Senado, eram três candidaturas a presidente. Isso é o maior conflito. Isso é difícil de explicar. É mais fácil explicar um programa nosso para a sociedade. O debate do modelo político vai tomar conta do processo eleitoral no Brasil. Nós vamos firmes na apresentação de um modelo, porque não governamos Santa Catarina nesse período. Não vamos falar mal desse Estado maravilhoso que é o nosso, mas vamos apresentar os problemas.
DC — O que o governo do PT faria diferente?
Vignatti — Nós temos um Estado hoje engessado pela quantidade de órgãos e secretarias e pela quantidade e volume de recursos que são gastos hoje pelo governo para manter os partidos na aliança. Hoje, o governo não precisa fazer uma gestão de excelência. Pode fazer um governo médio, nota quatro, mas dá um jeito de passar, porque nomeia tanta gente. O Estado tem 52 secretarias, com as regionais. Cria-se um processo onde não se resolvem as coisas. O governo estadual tem R$ 11 bilhões liberados pelo governo federal e não contratou 10% disso. Hoje falta policial, engenheiro, médico, professor, falta servidor público, mas não falta cargo de confiança para nomear. As secretarias regionais começaram com um processo de descentralização e hoje não existe descentralização. Qualquer dinheiro que um prefeito queira liberar, hoje ele tem que vir a Florianópolis resolver no governador. Então para quê regional? Então, a primeira coisa que a gente vai fazer é acabar com as regionais e fazer a descentralização de verdade do governo. A descentralização de recursos e a implantação de um orçamento participativo de fato.
DC — As secretarias regionais seriam fechadas?
Vignatti — As estruturas de secretaria regional serão fechadas. A primeira coisa que eu vou fazer como governador é mandar um projeto de lei para a Assembleia Legislativa fechando as secretarias regionais todas e criando a descentralização de fato. Vamos pegar o Fundo Social e transformar ele em investimento regional. Vamos efetivar o Conselho de Desenvolvimento Econômico de Santa Catarina com os conselhos nas regionais. Vamos descentralizar as ações de governo através de políticas.
DC — Como o senhor pretende desfazer essas estruturas, que são compostas também por funcionários comissionados e efetivos?
Vignatti — Tem muito terceirizado. Os funcionários de carreira ou são da Segurança, ou da Educação, ou do Deinfra, e eles vão ser aproveitados, porque esses órgãos estão na região. Criaram estruturas que são comitês eleitorais, não descentralizam. A ideia inicial do Luiz Henrique foi fantástica, de garantir que o Estado esteja perto das pessoas. Mas acho que os conselhos de desenvolvimento regional e a descentralização efetiva dos recursos é que vai fazer esse processo de fato. Não esse processo que muitas vezes nomeia pessoas que nem tem competência para tocar uma secretaria, só porque são um ex-deputado ou um ex-prefeito que não se elegeu.
DC — O senhor tem encontrado dificuldades em encontrar aliados de médio ou grande porte. Tem alguma expectativa de mudanças nesses últimos dias?
Vignatti — Nós estamos preparando chapa pura. O PT vai chegar na convenção com proposta de chapa pura. Se chegar algum partido que tenha nomes significativos, é claro que vamos discutir. Mas estamos preparando, de fato, chapa pura. Inclusive pelo encaminhamento de partidos que historicamente compunham conosco e que pela divisão do palanque Dilma estão sendo muito mais pragmáticos do que políticos no processo de decisão. O modelo que hoje se dá, com 52 secretarias de Estado e 32 órgãos, fica muito fácil acertar a posição de partidos em que a política não faz mais parte. Faz mais parte o pragmatismo para garantir a eleição do seu deputado. O projeto para o Estado não é o mais importante.
DC — Os nomes da majoritária estão definidos? Quem irá ao Senado, o deputado federal Décio Lima ou o deputado estadual Jailson Lima?
Vignatti — Um dos dois vai ser senador, pode ter certeza disso.
DC — E o vice?
Vignatti — Vou ter vice, pode ter certeza, e será um nome de impacto na eleição.
DC — O senhor não se sente constrangido de fazer campanha de oposição ao governador Raimundo Colombo (PSD) após ele ter sido elogiado pela presidente Dilma Rousseff?
Vignatti — Falar a favor de Santa Catarina é muito fácil, nós temos também que falar dos problemas. Eu não vou gastar meu tempo criticando o Colombo prioritariamente. E nem vou gastar meu tempo criticando o Paulo Bauer (PSDB), que fez parte desse governo até então. Eles vão ter que explicar as diferenças da aliança, nós vamos falar sobre o que queremos fazer diferente. Apontando os problemas da regionais, da educação, da segurança, da saúde, e mostrando o que vamos fazer melhor para o Estado. De certa forma, Santa Catarina criou um estado de excelência em qualidade de vida, mas temos problemas estruturais muito graves. Não temos um aeroporto bom no Estado, não temos uma rodovia duplicada que atravesse o Estado.
DC — Mas não são obras federais?
Vignatti — Pois, é. Mas e aí? Quem governou o Estado de Santa Catarina durante toda essa vida não fomos nós. Isso é uma responsabilidade também do Estado, que precisa priorizar isso. Nós precisamos ir atrás de resolver os problemas. Criar gabinete de gestão para resolver os problemas da BR-470, para garantia que a ferrovia aconteça. Quantos anos se promete ferrovia nesse Estado e não acontece?
DC — Mesmo quando são obras federais?
Vignatti — Falta atuação do Estado. Tem que estar presente, o governador tem que ser comandante. Não pode ser frouxo no processo de decisão política. A capacidade do governo hoje está demonstrada na ineficiência na contratação dos recursos financiados. São 11 anos de receita, um bolão de dinheiro que vem para Santa Catarina, e não tem a capacidade de contratação. O Estado está desmontado. Criaram um Estado máximo nos cargos de confiança e criaram um Estado mínimo na prestação de serviços.
DC — Nas últimas duas eleições, o PT tentou nacionalizar o debate da eleição estadual. Sua estratégia será diferente?
Vignatti — Vamos fazer um palanque com compromisso com o palanque nacional, mas nós queremos debater prioritariamente Santa Catarina. Queremos colocar Santa Catarina de frente para o novo cenário nacional. Precisamos crescer mais do que o dobro da média nacional. Temos capacidade e estamos crescendo menos do que a média nacional porque o governo do Estado não se colocou para essa nova realidade de desenvolvimento econômico e social do país. Precisamos estar de frente para essa realidade. Não temos que ter só a melhor empregabilidade. Temos que ter a melhor renda.
DC — Na sua avaliação, o que impediu o PT alcançar em Santa Catarina o mesmo protagonismo que tem nacionalmente? Chegar a um segundo turno, por exemplo.
Vignatti — Nós vamos chegar dessa vez. Vamos corrigir o passado com essa nova eleição.
DC — Mas o que faltou, qual é a autocrítica que o PT catarinense faz?
Vignatti — O PT sempre foi muito contundente, muito forte. O partido tem hoje a segunda bancada federal e a segunda bancada estadual. É o terceiro nas eleições municipais. Então é um partido forte, um partido contundente, mesmo não tendo chegado ao governo estadual. Não é diferente no Paraná, em São Paulo, em Minas. Mas nós podemos ganhar Paraná, São Paulo Minas e podemos ganhar Santa Catarina. Uma eleição é diferente da outra. Todas as eleições que passam, nós viemos crescendo. Teve a eleição de 2002, nós perdemos espaço político porque, eu acho, o PT errou ao não participar do governo Luiz Henrique. Temos uma autocrítica nesse sentido. Se tivéssemos composto aquele governo, ajudado ele a governar Santa Catarina naquele período, o partido poderia ser governo hoje e não o Raimundo Colombo. Nós ressuscitamos com essa decisão a direita em Santa Catarina. Erramos naquele momento, mas erramos porque tínhamos elegido a senadora mais votada, quase elegido o governador, feito as maiores bancadas e o PT achou que ia ganhar a eleição na próxima. Esquecemos que quem ia disputar a eleição com a gente seria o PMDB naquele momento. Mas, neste momento, o PMDB, que é o maior partido de Santa Catarina, está descontente. E está descontente porque experimentou o governo que está aí. Descontente, desconfortável. Nós não sabemos o que acontece domingo na convenção do PMDB.
DC — Ainda resta esperança de uma composição com o PMDB?
Vignatti — Acho muito difícil. Todos os episódios recentes demonstraram que o controle do Eduardo Pinho Moreira (presidente estadual do partido) é absoluto e ele deve ser o vice na composição com o Joares Ponticelli (PP). Mas eles vão ter que explicar porque estão todos juntos. Eles é que precisam explicar essa aliança.