Os dias sem contato com a família, as condições precárias de higiene e alimentação durante o tempo em que permaneceu presa na China são lembranças que a modeloAmanda Griza, 19 anos, terá para sempre. Mas como se não bastassem, a jovem voltou para o Brasil com a memória recheada de traumas, como as humilhações sofridas durante os 17 dias de prisão.
No aconchego do lar em Balneário Camboriú, na presença aliviada dos pais, a jovem recebeu a reportagem do Sol Diário para uma conversa. Com um tom mais de revolta que de tristeza ela lembrou das situações na prisão. Segundo a jovem, por mais de uma ocasião, ela e as demais modelos presas foram obrigadas a dançar na presença de policiais chineses.
— Eles nos obrigaram a dançar para eles. estávamos em fila e tínhamos que dançar enquanto eles filmavam e riam. Nós chorávamos e dançávamos ao mesmo tempo — detalha.
O momento mais difícil durante a detenção, segundo a jovem, foi quando logo nas primeiras horas ela foi levada para uma espécie de solitária. Todas as modelos presas, conforme Amanda, já estavam nervosas e começaram a gritar e chorar.
Amanda conta que chorava e andava de um lado para o outro na sala onde todas estavam quando foi "arrastada" para outra sala. Lá, ela permaneceu sozinha e dormiu sobre cadeiras de metal.
Segundo a jovem outras modelos chegaram a apanhar da polícia chinesa que constantemente as ameaçava com os cassetetes. Os policiais também teriam ameaçado queimar as jovens com cigarros:
— Foi horrível, era muita tortura o tempo todo. Eu me pegava sentada olhando para a parede, parecia um sonho e eu queria acordar.
As condições de alimentação e higiene também eram precárias. Amanda teve direito a apenas um banho por dia na detenção e o banheiro era aberto. As refeições eram basicamente arroz, legumes e um pão de manhã e um no entardecer.
— A última refeição era às quatro da tarde e ficávamos até o dia seguinte sem comer nada. Mas era tudo tão nojento que eu só comia para me manter de pé — lembra.
Na manhã desta terça-feira, após passar a noite na própria cama em casa, Amanda ainda não tinha conseguido se alimentar direito, mas pelo menos uma de suas vontades a modelo matou:
— Comi chocolate, estava com muita vontade. Agora quero comer comida saudável, sempre me cuidei muito e quero voltar a me cuidar.
Entenda o caso
Na quinta-feira, 8 de maio, uma chamada inesperada da filha provocou um turbilhão na vida da família Griza. A modelo gaúcha Amanda, 19 anos, usou um aplicativo de mensagens de voz para narrar ao vivo para os pais, Edson e Elena, sua prisão na China.
Natural de Osório e com a família radicada em Balneário Camboriú, Amanda trabalhava desde fevereiro no país asiático. Chamada pela agência para uma seleção de modelos, foi surpreendida quando o casting se revelou uma armadilha. A polícia chinesa montou uma operação para deter trabalhadores com problemas em vistos. A brasileira acabou detida num grupo com cerca de 60 modelos de diversas nacionalidades.