O deputado federal, Mauro Mariani (PMDB), está na outra ponta da disputa interna do partido que ocorrerá neste sábado. É ferrenho defensor de que a legenda tenha um candidato próprio a governador. Diz que trabalha para que não se repita o que houve na última eleição, a primeira desde o retorno ao voto direto em que o PMDB não teve candidato ao governo. Assim como o outro lado, que tem o senador Luiz Henrique como principal liderança e trabalha pela continuidade da aliança com o PSD, garante que seu lado sairá vitorioso.
Ele não tem a maior parte das lideranças da legenda ao seu lado - tem o apoio de apenas um dos 11 deputados da Alesc -, mas afirma contar com o apoio da base, a maioria dos delegados do partido, em especial no interior do Estado. E também faz previsões apocalípticas para o futuro político do PMDB caso deixa de lançar uma candidatura agora.
DC — O senhor é o maior defensor da candidatura própria. Como pretende convencer a maioria dos delegados do partido na pré-convenção?
Mauro Mariani — Eles já estão convencidos. A base do PMDB, isso é notório, a ampla maioria deseja a candidatura própria, por várias razões. Primeiro, porque é uma coligação feita pela cúpula partidária, mas que não permeia a base. E isso não sou eu que estou falando: os números do TRE dizem isso. O PSD foi adversário do PMDB nas eleições de 2012 para prefeito em 190 municípios do Estado. Segundo, o PMDB em Santa Catarina, em todas as eleições com exceção da última, apresentou candidatura - mesmo nos momentos mais difíceis. Está no nosso DNA. É o PMDB mais forte do Brasil por conta disso.
DC — Como seria fazer uma campanha como adversário de um governo que tem a participação do PMDB?
Mariani — Há uma ausência do governo pelo Estado, diferente do que foi com o governo municipalista do Paulo Afonso e com a descentralizado do Luiz Henrique. Praticamente acabou a descentralização. A secretarias regionais perderam suas funções. É um governo que vai contras os princípios do PMDB. O partido tem 180 mil filiados. Alguns peemedebistas, pequena parte, integra o governo e nós reconhecemos isto. Trezentas pessoas mais ou menos. Então alto lá: nem todo PMDB está no governo. Eu não vejo dificuldade nenhuma nisso. É um processo natural da política. Fizemos um compromisso em 2010 que vai até 2014. O processo eleitoral existe para renovar compromissos ou fazer novos.
DC — Se a tese de candidatura própria vencer, o senhor defende que o PMDB deixe os cargos no governo?
Mariani — Isso a executiva do partido vai ter que se reunir e tomar uma decisão. Se vai sair todo o partido, se sairá parte, qual vai ser o encaminhamento. Essa é uma discussão para ser feita depois do dia 26.
DC — Se o PMDB decidir pela candidatura própria, que outros partidos poderão fazer parte de uma aliança? O PT tem prioridade?
Mariani — Isso nós vamos tratar depois. Mas já existe uma sinalização clara do PT, do PDT, do PCdoB, do PROS, do PRB… Agora, nós só teremos legitimidade para iniciar as conversações depois de sábado.
DC — Com o PMDB na cabeça de chapa?
Mariani — Na cabeça de chapa, obviamente. Ninguém imagina que vamos sair da condição de vice para sermos vice de outro.
DC — É possível que o resultado da pré-convenção não reflita o sentimento da base do partido?
Mariani — A tendência é vencer a candidatura própria. Se acontecer isso, vai ser o maior racha da história do PMDB, com consequências imprevisíveis. O partido não vai com ânimo para a campanha. Vai haver reflexos inclusive nas votações proporcionais. Essa hipótese eu desconsidero totalmente. Andei todo Estado, visitei delegado por delegado, a maioria deles.
DC — Se vencer a tese da aliança com o governo Colombo, o senhor pretende disputar internamente uma vaga na majoritária?
Mariani — Saio a deputado federal. Disputo na proporcional, a estadual ou federal.
DC — O senador Luiz Henrique defende a aliança com o governo Colombo, mas o partido tem resistência à participação do PP nessa coligação.
Mariani — Nem existe uma proposta pública do atual governador ou do PSD para o PMDB. Qual é a proposta?
DC — O governador disse que a chapa ideal seria o PMDB de vice e o PP na vaga da candidatura ao Senado.
Mariani — Para ele é a ideal, para o PMDB seria uma tragédia.
DC — Ainda se vencer a tese de apoio ao governo Colombo, o senhor, que vem conversando com o PT, acredita numa aliança PSD-PMDB-PT?
Mariani — Não. O PT já descartou essa possibilidade. Já reuniram o partido e deixaram claro que não estarão com o Colombo de forma alguma. Mas deixaram aberto a possibilidade de estar com o PMDB se a legenda tiver uma candidatura.
DC — O senhor acredita que, se o PMDB apoiar o governo Colombo agora, será natural ficar com a cabeça de chapa em 2018?
Mariani — Se não existir candidatura do PMDB em 2014, não existirá em 2018. Ponto.
DC — Por que acredita isso?
Mariani — É óbvio, está claro. O PSD foi nosso adversário nas eleições municipais, quando o Colombo publicamente dizia 'eu reconheço que o PMDB teve um papel fundamental na minha eleição a senador e a governador e vou respeitar a geografia das urnas'. Na prática, em 2012, a primeira eleição pós vitória do governador eles vieram para cima do nosso partido. Qual o procedimento que chegará em 2016, nas outras eleições das prefeituras? Será que vão apoiar a eleição do Eliseu (Matos, prefeito de Lajes)? Como será o comportamento do PSD? Mais agressivo que na última. Não tenho dúvida disso. O PMDB vai sofrer um revés, o partido de Colombo vai crescer, por ter a Estrutura do governo, a máquina. Acredita que o PMDB enfraquecido vai ter condições de disputar o governo do Estado?
DC — Na sua opinião, o único caminho é ter candidato agora então?
Mariani — O cenário hoje é muito mais favorável para uma disputa do que era lá no passado. Eu penso que o PMDB tem toda condição de ir para essa eleição e estar no segundo turno. Aí é outra história, outra eleição, zera o processo. O debate político é importante. A eleição existe para isso. O que se pretende fazer em Santa Catarina é um pacotão. Reunir as maiores forças políticas do Estado em um mesmo palanque, não respeitando divergências históricas, para se manter no poder.