Horas antes de morrer com um tiro na cabeça, na frente de uma boate de Canoinhas, no Planalto Norte, o estudante de logística Alexandre Cruz, de 21 anos, que morava em Joinville, se despediu de cada um dos familiares com um abraço. Ele participava de um jantar de formatura de uma prima na sexta-feira à noite.
— Ele abraçou um por um. Parecia estar adivinhando – disse o pai, Gilberto Cruz, segunda-feira à tarde, lembrando os últimos momentos do filho caçula.
Horas depois de se despedir, Alexandre saiu com amigos e, na hora de voltar para casa, levou um tiro na altura do olho, disparado por outro jovem, John Lenon Moreira Alves, de 18 anos, na saída da balada, em frente à Vila Multishow, uma boate que faz parte de um complexo de eventos na BR-280.
Numa tentativa de se vingar dos seguranças que o tiraram de dentro da boate, John Lenon abriu fogo contra dezenas de pessoas que saíam da boate, por volta das 4h30 da madrugada de sábado.
Nos bares e no comércio de Canoinhas, o ato inconsequente e violento do rapaz foi o principal assunto nas rodas de conversa da cidade. Na madrugada do atentado, bombeiros, policiais militares e socorristas que estavam a uma hora do fim do plantão se negaram a ir embora e continuaram atendendo aos feridos. A mobilização foi tão grande na cidade que algumas fábricas liberaram seus funcionários do turno do sábado pela manhã para procurar parentes e saber se estava tudo bem com eles.
Na segunda-feira, a onda de solidariedade deu lugar à caçada ao homem que estava dirigindo o carro de onde John Lenon atirou. A Polícia Militar, policiais da Divisão de Investigação Criminal (DIC) e investigadores tentavam capturar o rapaz que, segundo testemunhas, teria levado John Lenon até à frente da boate para a vingança.
A polícia suspeita que um dos quatro homens ouvidos ainda no sábado pode estar mentindo. Até o fim da tarde de segunda-feira, ninguém havia sido preso. O delegado regional Rui Orestes Kuchnir está liderando a investigação. Segunda-feira, ele disse apenas que estava empenhado em prender o homem e não deu detalhes da investigação à imprensa.
Investigação
John Lenon deve continuar preso na Unidade Prisional Avançada (UPA) de Canoinhas, à disposição da Justiça. Ele preferiu não falar com os policiais após o flagrante. John Lenon já se envolveu em furtos e outras confusões quando ainda era adolescente. Havia sido preso em flagrante no dia 3 de dezembro do ano passado por dirigir embriagado e respondia a um termo circunstanciado do dia 20 de setembro de 2013.
John Lenon se negou a ajudar a polícia a buscar outro jovem que estava no carro com ele no momento dos disparos. Na manhã de sábado, quatro suspeitos chegaram a ser detidos. A polícia quer saber quem era o motorista do carro e onde está a arma usada nos disparos.
Os quatro foram liberados por falta de provas. Segundo o delegado, há várias testemunhas do crime e a investigação deve prosseguir durante a semana. De acordo com o escrivão Leandro Vier, ele foi levado direto para a UPA de Canoinhas e vai responder por homicídio doloso (quando há intenção de matar).
Alegria deu lugar ao luto
O pai de Alexandre Cruz chora a cada lembrança do rapaz, que se formaria no meio do ano e tinha o sonho de voltar para Canoinhas e trabalhar com a família. A prima, Monique Cruz, que se formaria em direito no sábado, colou grau separadamente da turma. Ela havia promovido um jantar na sexta-feira à noite, o que atraiu familiares de todo o Estado para o encontro. A alegria deu lugar ao luto. A semana começou estranha para a família Cruz.
— Nunca perdemos ninguém assim, pela violência — disse a tia Jacira.
Na sala da casa onde ele morava, as fotos de Alexandre, ou Xande, como a família ainda o chama, são a maioria. Elas estão espalhadas em porta-retratos nas paredes e sobre a lareira, quase sempre na companhia do irmão mais velho.
Uma das imagens, feitas dois dias antes, em frente a um pé de jabuticaba do quintal, foi parar na capa do perfil do Facebook do irmão. Em vez de imagens sombrias de luto, Rodrigo resolveu homenagear Xande com a foto dos dois, sorridentes.
— A gente tenta encontrar uma explicação, mas ela não existe. Estávamos vivendo uma fase muito boa — diz o pai Gilberto, lembrando que, meses antes, o motivo de preocupação dos pais era o irmão mais velho de Alexandre, Rodrigo, que permaneceu sete meses num intercâmbio na Irlanda.
— Agora estávamos todos juntos, esperando o Xande se formar para voltar para casa –—disse.
O pai de Alexandre chegou a se encontrar com os pais de John Lenon na delegacia. Mesmo inconsolável pela perda do filho caçula, ele diz não ter qualquer mágoa ou sentimento de vingança.
— Não desejo isso para ninguém. Eu disse que o filho deles não poderia ter feito o que fez. Agora estamos todos destruídos — disse.