O sociólogo italiano Domenico De Masi, autor conhecido no Brasil pela publicação do livro "O Ócio criativo", disse em entrevista "que apesar da desigualdade social, o Brasil pode colaborar para a construção de um novo modelo social para o mundo". Reforça a sua tese afirmando que o patrimônio histórico e cultural do país é insubstituível, e isto poderá se...
r um trunfo para a formação do que ele chama de "novo modelo global", através das contribuições dos intelectuais, designando a estes de depositários de tais contribuições. Culmina a sua avaliação propondo que eles (os intelectuais) "podem conferir a este modelo uma dimensão ecumênica", destacando ainda "fatores positivos, como o sincretismo, a postura positiva em relação à vida e a aversão à guerra". Muito bem, seria um discurso interessante, não fora a capa de subjetividades que encobrem o raciocínio sociológico do professor Masi. Penso que intelectual algum no Brasil, ou em qualquer lugar deste planeta, se anime a pensar na possibilidade de "um modelo de existência de dimensão ecumênica, como se por um passe de mágica as profundas diferenças de posições ideológicas dos indivíduos pudessem ser "resfriadas" por mecanismos de suaves interpretações teóricas. Em seguida, o ilustre professor, à maneira de um respeitável guru de cursinhos de finais-de-semana, sugere uma postura positiva em relação à vida, de maneira que a positividade dessa influência tenha uma força política universal que resolva as distâncias abissais entre a riqueza aviltante dos grandes grupos e instituições corporativas e a miséria deplorável de milhões de pessoas vivendo à margem do mínimo acesso à cidadania. Ainda que o professor Masi recorra à realidade da internet para mostrar que a cultura e a informação adquiriram um perfil expansivo, e por isso o conhecimento hoje viaja em todas direções, e como consequência as redes sociais desenvolvem novas direções e estimulam novas motivações, seja no modo de encarar a existência no vestir, no comer, no consumir, enfim, no estar no mundo, as possibilidades de mudanças na base da estrutura do nosso modelo econômico não revelam, nem de longe, uma perspectiva de transformação de curto ou médio prazo, porque definitivamente o cerne da representação política no Brasil é de divisões entre os gestores do poder. É evidente que alguns ganhos são apanhados no caminho de um desenvolvimento um tanto vegetativo, mas é o que temos e o que os que podem e mandam consentem em oferecer. O resto, é tertúlia de intelectual.
Daladier Carlos
30 janeiro, 2014
(*) entrevista publicada em O GLOBO de 26 janeiro, 2014, página 49.