Presentes
Montanhas de flores de todas as cores, matizes e tamanhos, de jardins cuidados, de beira de estrada, de montanhas cantadas pelos poetas, todas ainda com o orvalho da manhã lapidado em brilhantes pelo sol. Flores das montanhas e seus córregos que deslizam entre pedras arredondadas pelo esforço de muitas águas passadas.
Cantos de canários, sabiás, pintassilgos, de barulhentos periquitos que saúdam a primavera. Canto triste e solitário e difícil do uirapuru. As mais belas canções que as gargantas dos homens podem produzir e as melodias que saem de cordas, palhetas, peles esticadas, metais que se debatem nas mãos de músicos. A batucada na caixa de fósforos, a dança dos dedos e o sorriso do dono dos dedos.
Monumentos de poder e de medo que o homem construiu e as provas de amor que deixou espalhadas por este vasto mundo nem tão vasto. Olhos para ver o mundo, olfato para sentir seus cheiros, ouvidos para sentir o ritmo de seu coração quando anoitece. Olhos para ver o mundo interno – o que se carrega em dias pesados - e balões para ajudar a carregá-lo e colorir o céu, e aquarelas para pintar o que sobra. A textura das folhas, a função dos caules, o escudo das cascas, a flexibilidade do bambu.
O brilho das estrelas e suas distâncias, e a dança das galáxias.
Todos os sabores dos frutos da terra, da chuva que cai e seu frescor, e a fúria das águas quando o rio é provocado. O caminho dos ventos e o embalo do mar. O carinho e o cuidado com as ondas e o azul e a vastidão dos oceanos. Os caminhos todos desenhados no mar. As estradas sinuosas, as vias retilíneas, as picadas perigosas, as infinitas rotas do ar.
As pontes, os pontilhões, as pinguelas – reais e imaginárias – que é necessário transpor para se encontrar.
A vida, o ocaso, o estoque de alegria, a reserva de tristeza, os tropeços, os desafios, a felicidade toda. A experiência do homem, seus devaneios, a imaginação de quem cria. O que foi, o que é, o possivelmente e o acaso.
O mistério da linguagem, a magia dos sinais, o fascínio dos povos a riqueza dos costumes, os labirintos da fé. A beleza das palavras e suas infinitas combinações.
Ofereça tudo isso em seu presente. Dê mais que isso: dê livros.