Um pacto de morte entre dois jovens de 16 anos em uma instituição de ensino em Sombrio, no Sul do Estado, chocou a comunidade, surpreendida pela agressividade do fato. Segundo a confissão de um dos meninos, o acordo entre eles era para que um ajudasse o outro a morrer. Quando um deles morreu asfixiado, perto de 14h de segunda-feira, no banheiro da unidade urbana do Instituto Federal Catarinense (IFC), o outro ficou assustado e tentou pedir ajuda. O jovem que desistiu do pacto confessou o acordo e foi apreendido pela Polícia Civil. Os dois teriam um relacionamento amoroso há pelo menos quatro meses.
Anderson Sartori, coordenador geral da instituição, conta que um professor viu o adolescente saindo do banheiro na tarde de segunda-feira com uma atitude estranha. Depois que o docente o viu, o menino voltou para o banheiro. Em seguida, o professor foi atrás dele, encontrou o outro estudante morto e chamou a polícia. Sartori explica que como o ensino da instituição é integrado, a relação com os alunos é bem próxima.
— Eles ficam aqui das oito da manhã às cinco da tarde, então a gente tem um contato com eles, convive, conhece quase como uma família no dia a dia. Por isso foi um choque pra todo mundo o que aconteceu — conta ele.
Uma das razões pelas quais o acontecimento foi tão chocante, segundo o diretor, é o fato de os meninos serem tranquilos, reservados e nunca terem apresentado qualquer problema de notas ou de comportamento. Segundo ele, foi algo que aconteceu "sem mais nem menos".
— A gente não sabe direito se foi mesmo um pacto de morte. Até agora a gente não conseguiu falar com ele (estudante). São meninos tranquilos. A gente nunca teve problema de agressividade com eles. Não tinham inimizade com ninguém. Foi uma coisa que chocou todo mundo porque foi imprevisível — aponta o diretor.
Rose Mara dos Santos, assistente de alunos, convivia diariamente com os garotos e foi uma das servidoras da instituição que entrou em choque com o ocorrido.
— Eu não tenho o que dizer, só que a gente está muito chocado. Todos nós estamos. Nunca na vida pensamos que eles iam fazer isso — desabafa ela, com os olhos marejados.
Em nota de pesar, a instituição lamentou a morte do estudante Arthur Hobold da Rosa, da turma do 2º ano do Curso Técnico em Informática integrado ao Ensino Médio. A instituição também comunicou a suspensão das aulas nesta terça-feira. O IFC estuda a possibilidade de prolongar a medida até sexta-feira, com o objetivo de preparar um programa pedagógico e religioso para receber melhor os alunos e colaboradores na próxima semana, que, segundo Sartori, deve ser uma etapa mais complicada.
Garoto responderá por ato infracional
Como o outro jovem envolvido no pacto é menor de idade, ele deverá responder pelo o que a polícia tecnicamente considera um ato infracional de homicídio doloso, quando há intenção de matar. O Ministério Público do Estado pode apresentar pedido para internação provisória do adolescente por no máximo 45 dias. A promotora Elizandra Porto, da 2ª promotoria de Justiça de Sombrio, disse por meio de assessoria que não vai comentar o caso.
Segundo o delegado da Polícia Civil Luis Otávio Pohlmann, responsável pela investigação, o adolescente de 16 anos confessou ter ajudado na morte do colega. O Instituto Geral de Perícias, em Florianópolis, analisará o material encontrado no banheiro do IFC. Uma seringa e uma agulha estavam ao lado do corpo que, segundo Pohlmann, apresentava sinais de asfixia, estocadas de agulha e marcas de arranhões no pescoço.
O policial militar Lumertz, que com mais dois colegas atendeu a ocorrência no IFC, afirmou que ao chegar na instituição teria ficado evidente de que estudantes e professores sabiam do relacionamento entre os dois rapazes. Conforme apuração feita no local, a vítima seria mais introvertida e não costumava expor sentimentos. O outro teria um perfil menos retraído.