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Ecletismo e Zetética - Mariano Soltys

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Escritor e advogado


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Outra felicidade

Quarta, 28 de agosto de 2013


As pessoas geralmente pensam na felicidade de um ponto de vista egocêntrico, no ocidente. No oriente não há a noção de uma felicidade sem o outro. De certo forma eles estão mais certos, por sermos seres sociais. A individualidade é uma marca do ocidental, mas nem sempre isso lhe traz o melhor ou mais vantajoso. Lembremos as conquistas que tivemos em uma coletividade, o aumento da força de trabalho, da produção, as batalhas, as caças de animais para a sobrevivência - o grupo foi superior ao indivíduo.

Com a felicidade também, quando ouvimos alguém dizer que queria ter uma fortuna, um carrão, uma bela mulher ou situações semelhantes, percebemos que tudo isso se projeta em uma coletividade, onde esse ser feliz quer dizer “eu sou melhor”, “eu sou isso”, “eu sou aquilo”. Não percebe, mas ele somente pode ser essas coisas porque existem outras pessoas para fabricar seu carrão, existe a mulher que é outra pessoa, existe o dinheiro que surge da casa da moeda onde trabalham outras pessoas etc. A felicidade parece ser assim sempre do coletivo, lembrando a lição oriental.

Pense que você é uma bolha transparente e espelhada – agora você reflete as outras pessoas que são bolhas iguais ou semelhantes. Perceba que existem bolhas dentro das bolhas refletidas e assim até o infinito. Isso prova que a parte está no todo e o todo na parte. Na natureza isso se revela uma lei e na medicina tradicional chinesa o corpo reflete o universo, é um em miniatura. Uma folha reflete uma parte da folha, essa parte reflete a planta. O conjunto é uma unidade e não há harmonia ou felicidade das partes em separado.

No ocidente uma criança é educada para fazer escolhas, pensar por si mesma, ser autoconfiante etc. No oriente os pais podem fazer as escolhas pela criança. Em alguns pontos há a desvantagem. Sendo a nossa vida de grande troca e renúncia em muitos aspectos, é temerário que se dê plena liberdade para fazer qualquer escolha, uma vez que pode trilhar por atos antiéticos com maior facilidade. E a felicidade parece ser algo que contamina, uma pessoa sorrindo faz muitos sorrirem. Basta ver um programa de comédia com alguém e o mesmo sozinho. Quando você vê com uma pessoa, cai na gargalhada. Mas no oriente há a noção de que a felicidade é tão importante quanto outras coisas, não a única coisa.

Vemos que a necessidade de algumas pessoas demonstrarem tristeza, depressão ou coisas semelhantes é uma forma de dizer que querem alegria. Falta geralmente um grupo, uma companhia de felicidade. Vemos de acordo com o que achamos, e esse é o problema e perigo. Deveríamos saber das coisas tendo uma visão do todo, do que os outros acham também. Uma terapia parece começar quando se conversa e se vê outro ponto de vista. De novo o “sol nascente” entende que uma visão do outro é que mais importa. Nem todas as ideias podem ser representadas por linguagem. Isso derruba em grande parte o saber ocidental, até em pensamentos mais contemporâneos na filosofia.

A felicidade talvez esteja conosco, mas não percebamos por não somarmos esforços nesse sentido. Pensar em “nós” na felicidade faz dela já ser outra, uma nova possibilidade. E para isso não basta retórica, pois ditado oriental dizia que uma carruagem barulhenta é vazia de conteúdo. Por isso uma pessoa notória não é bem vista por lá, mas uma pessoa modesta sim. No ocidente não, os mais sabichões e cheios de oratória são venerados, por aparência de inteligência. Não foi Lao Tsu que disse que quem sabe não fala, e quem fala não sabe? A felicidade é assim algo que compartilhamos, e que mesmo que busquemos de forma de isolamento, acabamos sempre por lembrar dos outros que refletem o nosso sorriso, como bolhas que vão refletindo esse mesmo sorriso até o infinito.



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