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Ecletismo e Zetética - Mariano Soltys

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Escritor e advogado


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Filme “Se enlouquecer não se apaixone” e a adolescência

Terça, 13 de agosto de 2013


Essa película original foi um achado e a comédia pareceu de início mais um drama, porém trata do tema da convivência em um hospital psiquiátrico, onde um adolescente de 16 anos se interna por si mesmo, haja vista entender ser um suicida. Por uma crise em sua vida amorosa, tendo em vista a menina que o rapaz estar apaixonado ser namorada de seu melhor amigo, ocorreu dessa opção pelo internamento, o que de início não era a vontade do protagonista, que aos poucos vai fazendo amigos, os mais “irados”. Dos diretores Anna Boden e Ryan Fleck, o filme é muito interessante e superou minhas expectativas, em comparação a outros filmes com o título parecido, que geralmente são filmes de amor mal resolvido ou separação, já nesse é mais o sentido da existência que se torna o foco e o quanto nós estamos em vantagem na vida, apesar de muitas vezes reclamarmos da nossa.

O narrador em primeira pessoa, as cenas de sua imaginação, as conversas e bons toques de humor fazem do filme um bom momento de entretenimento, bem como de uma classificação de censura de apenas 12 anos, o que pode unir toda a família para a sua exibição. O roteiro é bem feito, talvez por ser uma adaptação de um livro, o que facilita o trabalho em se tratando de criatividade. Mas dentro do hospital o garoto conhece um amigo muito legal, o Bobby, que lhe indica e envolve na situação de todos, e que o apoia nos seus próprios conflitos. A existência na adolescência é mesmo uma fase de escolhas e conflitos de toda a ordem, e mesmo da “boca pra fora” é comum se falar em suicídio. O fato de se amar a namorada do amigo pode ser um conflito mais acentuado para um adolescente, onde pululam os hormônios. Mas ao entrar no hospital o rapaz conhece outra garota, Noelle, que convida ele para conversar e faz um jogo de perguntas e respostas, descobrindo mais sobre o mesmo. Ambos se divertem e interagem nas descobertas dele, que aos poucos se descobre com muitos talentos que jamais pensava ter, como ser exímio desenhista e um cantor de rock.

Os internados são pessoas bem “normais”, um judeu ortodoxo que tomou cem pastilhas de LSD e continua viajando, outro é companheiro de quarto do protagonista e que não sai da cama, outro tem fixações com a comida, outro é esquizofrênico e diz palavras desconexas e assim por diante. O seu amigo Bobby é que sofre realmente, quando deseja ver a filha e é impedido pela mãe dela, haja visto estar internado, o que faz este entrar em crise e jogar livros no chão. O ator Zach Galifianakis (de Se beber, não case), que faz o Bobby, é muito engraçado e nos bastidores e cenas excluídas pode-se perceber que este é puro improviso, valendo a pena ver suas constantes piadas e tiradas, palavrões e coisas que não entraram no filme talvez pela censura de idade desejada.

Parece que isso representa bem um existencialismo sartriano: “O outro é o inferno”. E a crise da adolescência é apenas temporal, algo que acontece e passa, enquanto viver com uma doença mental é muito mais profundo, e muitas vezes sem volta. E encontrar uma nova namorada, uma nova vida e nova esperança podem ser muitas vezes o remédio, uma vez que não se deve por certo ficar no conformismo, mas sim lutar para não entrar por engano no hospital psiquiátrico. E o personagem dá uma lição de vida ao ajudar e continuar apoiando os pacientes e seus amigos, compreendendo a situação, antes de meramente julgar, como o faz a maior parte da sociedade. Segundo Freud, o impulso de morte ou para matar é Tanatos, uma versão oposta do anjo do amor, o Eros, e o primeiro que inclina o ser a alimentar essas ideias mórbidas. E a adolescência é apenas uma fase de crise, não se comparando ao problema mental, que poder ser uma vida de crise. E viver é a lição do filme.



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