Quando encontrou Marilyn Monroe para uma prova de sapatos, Salvatore Ferragamo descalçou a diva e observou os pés tamanho 34 como um arquiteto diante da fôrma de sua obra prima. Anos mais tarde, o caminhar exuberante de Marilyn seria atribuído aos calçados do estilista italiano.
A descrição acima está no livro Do tornozelo para baixo ( Ed. Casa da Palavra, 272 p.), da norte- americana Rachelle Bergstein, e ajuda a ilustrar o fascínio que os sapatos de luxo exercem sobre mulheres e homens. Para a autora, a atração por tais objetos ultrapassa a utilidade no vestuário – exclusivos, raros e muitas vezes difíceis de obter, eles hipnotizam.
Em meio à crise mundial, grifes apostam na globalização para seguir em frente: mesmo com a economia instável, viajar ficou mais fácil e a tecnologia criou um tipo de consumo imediatista.
No Brasil a expectativa é de que os gastos da população com calçados aumentem 10% em 2013, chegando aos R$ 40 bilhões dos quais 10% devem vir da classe A, com maior poder aquisitivo para arcar com os preços nada populares dos sapatos de luxo.
Confira três histórias de catarinenses apaixonadas por sapatos de luxo:
Foto: Jessé Giotti, Agência RBS
Louboutin antes da fama
por Bia Haddad, empresária de Florianópolis
Comecei cedo no mundo da moda e o contato com este universo despertou precocemente em mim a paixão por bolsas e sapatos. Paixão que com a globalização atual só aumentou. Ainda lembro como se fosse hoje, numa viagem a Paris ainda no final da década de 1990, de sair à procura da loja de um designer localizada no 1er arrondissement – designer este ainda pouco conhecido por aqui na época – atrás de um scarpin “ básico” preto ( high heel shoe black) com o solado vermelho, que tenho até hoje, muito antes mesmo do Christian Louboutin se tornar um “ fashion hit” no mundo todo.
Tempos depois fui apresentada a uma designer brasileira ( Francesca Giobbi) que desenvolvia modelos exclusivos, com produção artesanal, chegando a demorar dois dias para a produção de um só par. Enlouqueci!!! Acabamos nos tornando amigas e um dia ela brincou que eu possuía todos os seus modelos, o que não é uma verdade.
Em minhas viagens “ marco presença” nas lojas dos meus designers favoritos ( Louboutin, Chanel, Vuitton, Ferragamo, Valentino, Jimmy Choo, YSL...) e nos “ shoes saloon” das mais conceituadas lojas de departamentos das cidades que visito.
Aqui no Brasil continuo fiel aos sapatos da minha querida amiga Francesca.}
Não consigo voltar de qualquer viagem internacional sem pelo menos “ uma joia” nova para meu closet, tenho algumas raridades, algumas delas “ sold out” no mundo todo.
Para mim os sapatos fazem o diferencial em qualquer look, eles demonstram muito a minha identidade. Meu marido brinca que tenho uma coleção e apesar de ter dezenas destas joias, digo sempre que não...
O primeiro Chanel
por Maria Eduarda Haddad, estudante de Florianópolis
Apesar de ter recém completado 16 anos acho que minha paixão por sapatos é genética! Minha estreia na semana de moda de São Paulo e nos show rooms dos mais conhecidos designers nacionais foi aos seis anos sempre acompanhando minha mãe.
Tenho certeza que ela foi fundamental para que me tornasse “ apaixonada” por eles.
Os sapatos sempre despertaram um fascínio em mim, adorava andar pela casa com os “ maravilhosos” sapatos dela, muitas vezes escondida, brincando de sair à noite, de jantar fora... minha admiração era tanta que uma designer reconhecida nacionalmente e amiga da minha mãe sabendo disto desenvolveu um modelo infantil ( flat) de sua marca para mim ( Francesca Giobbi). Adorava saber que tinha um só meu! Os sapatos são um dos meus “ objetos” de desejo, são meus presentes de viagem, natal, aniversário...
Alguns marcaram “ momentos” inesquecíveis de minha vida, como o YSL “ patchwork” adquirido exclusivamente para a sessão de fotos para o meu “ book” de 15 anos em Nova York, o Jimmy Choo e o Louboutin escolhidos para usar na minha festa no El Divino, a minha primeira sapatilha Chanel adquirida na loja da Rodeo Drive na primeira viagem a LA....
A paixão é tanta que na última viagem fiquei enlouquecida com uma “ espadrilles” de couro Chanel do inverno 2014 que estava esgotada, enlouqueci meus pais, sendo necessário pedir em outro estado via Fedex. Estou totalmente “ in love” com ela!!!
A busca pelo salto perfeito
por Hellen Macarini, diretora executiva da revista Terapia do Luxo em Florianópolis
Foto: Charles Guerra, Agência RBS
Moda para mim é fantasia. Minha alma é totalmente carnavalesca, gosta de cores, brilhos e peças diferentes. Talvez este meu gosto tenha sido fortemente moldado por ter vivido a adolescência nos anos 1980, onde a moda era uma explosão de cores e exageros.
As vitrines de sapatos nessa época eram abarrotadas de cores que iam do laranja ao verde-limão, do turquesa ao amarelo, e eu queria todas. Sapatos e bolsas são minhas paixões, começo meus looks por eles, são as estrelas. Por isso sempre estou à procura, como em um garimpo da peça mais diferente, mais inusitada, mais original.
Chanel, Prada, Miu Miu são minhas marcas prediletas.
Karl Lagerfeld sempre se supera em inovações, umas das últimas mais comentadas foram os famosos clogs. Miuccia Prada recentemente lançou sua versão da sandália japonesa e modelos com pássaros que me fizeram sonhar. Alexander McQueen e sua coleção Atlântida de Platão, eternizada por Lady Gaga, para mim são verdadeiras obras de arte.
Charlotte Olympia tem minha admiração por trazer as suas criações elementos extremamente inusitados. É só ver a sandália com salto de poodles cor de rosa.
No Brasil Fernando Pires para mim ainda é o mais genial, mas gosto muito da NK Store, Tatiana Loureiro, Luiza Barcelos e Studio TMLS. Tenho muitos pares, muito além do que preciso, mas como uma colecionadora sempre estou em busca do próximo.
Minha última aquisição mistura algo que lembra um modelo Luiz XV, porém de bico redondo, em cetim com algo inusitado: um salto alto de píton turquesa! Com o que vou usá- lo? Com qualquer roupa. Como disse eles são as estrelas do look, os demais são coadjuvantes.
Na verdade eu me divirto com a moda e talvez eu não tenha saído dos anos 80, mesmo porque em se tratando de sapatos a máxima de que “ menos é mais” para mim é pura bobagem!!! A busca pelo salto perfeito Hellen Macarini, diretora executiva da revista digital Terapia do Luxo, de Florianópolis, usa sapato Miu Miu, comprado no Shopping JK em SP