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A história do povo cigano

Segunda, 20 de maio de 2013

 

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A moradia dos ciganos (Foto Divulgação)
 

Há muita controvérsia a respeito da verdadeira origem do povo cigano . Segundo uns seriam eles originários da Índia, outros atribuem sua origem ao Egito; ainda há aqueles que afirmam serem eles descendentes de Caim.

Na verdade torna-se bastante difícil estabelecer com certeza sua origem, pois trata-se de um povo que além de não possuir linguagem escrita, o que permitiria que ficasse gravada de alguma forma sua verdadeira história, mas também pela maneira como foram perseguidos através dos tempos , é fácil compreendermos que eles tenham procurado envolver-se em um clima de mistério, até  por uma simples  questão de sobrevivência. Levando-se em consideração também que suas atividades muitas vezes os levavam a trabalhar com magia, nada mais atrativo para despertar  a imaginação do povo do que esta aura de mistério que os envolvia e ainda envolve até os dias de hoje.

 

Tribos (Clãs)

Na verdade, de concreto, sabemos que os Ciganos (ROM, o homem cigano; ROMLI, a mulher cigana) agrupam-se em 7 (sete) grupos ou famílias:

• KALDERASH

• MOLDOWAIA

• SIBIAIA

• RORARANÊ

• HITALIHIÁ

• MATHIWIA

• KALÊ

 

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Interior de uma das barracas: higiêne e limpeza (Foto Pedro Skiba/Evolução)
  

Hábitos

A cultura Cigana nos oferece belos exemplos, que infelizmente a nossa cultura dos não ciganos (GAJE , homem não cigano; GAJI, mulher não cigana) parece ter esquecido nos atropelos da vida moderna. Dentre eles destaca-se o respeito e amor aos mais velhos, o amor e cuidados com as suas crianças, o sentimento de família. Para eles o velho representa a fonte de sabedoria e experiência que deve ser ouvida e acatada. A criança representa a possibilidade de continuidade, a certeza da preservação de sua cultura. Certamente não encontraremos um velho cigano em um asilo, nem tão pouco uma criança cigana em um orfanato, sequer abandonada pelas ruas. Uma cigana nunca pratica voluntariamente o aborto. O casamento para o Cigano representa a garantia da preservação. Um casamento entre o povo cigano é sempre muito comemorado, pois representa uma oportunidade de reunião e de alegria; não devemos esquecer que o cigano é acima de tudo um povo alegre, que gosta de dançar, de festejar. Geralmente atribuímos ao povo cigano o Dom de ler a sorte através das cartas (cartomancia) ou da leitura das mãos (quiromancia),  mas eles são um povo com uma habilidade privilegiada para a música. Muitos músicos famosos eram ciganos.

Aqui no Brasil tivemos muitos ciganos que para cá vieram  no início da colonização e além de alegrarem a corte aqui instalada com sua música, também muito contribuíram para a nossa expansão territorial, participando das entradas e bandeiras que desbravaram nosso território. Não fossem eles nômades e andarilhos. Dizem que um de nossos presidentes, aliás aquele que nos tempos modernos mais se envolveu com o abrir estradas e conquistar  o nosso próprio espaço era de origem cigana.

Antigamente os ciganos viviam sempre em barracas e viajavam em caravanas; atualmente muitos deles tornaram-se sedentários, talvez até pelas contingências da vida moderna, mas mesmos estes procuram de vez enquanto acampar, para de alguma forma preservar uma tradição.

 

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Utensílios de cozinha
  

Ciganos no Brasil

Roupas coloridas, tendas alegres e olhares atentos ao destino alheio. A maneira como o povo cigano se relaciona com a história brasileira o coloca na condição de agente e vítima das impressões que governantes, policiais e toda a sociedade criam sobre homens que tinham suas vidas alteradas pelo deslumbramento que causavam. [...]

Dos debates acadêmicos às conversas informais, os ciganos são retratados a partir de sentimentos que oscilam entre o fascínio que suas tradições exercem e os temores alimentados por estigmas e superstições atrelados ao seu estilo livre.

[...] Perseguidos ou incorporados à nossa hierarquia social, os ciganos são mais do que leitores do futuro, podendo ser considerados também escritores do nosso passado. [...]

(Dossiê Medo e Sedução, Revista de História, Biblioteca Nacional, n. 14, 2006, p. 15.)

Originários provavelmente da Índia, os ciganos chegaram ao Brasil na segunda metade do século XVI, expulsos de Portugal como degredados.

É provável que os primeiros ciganos degredados de Portugal tenham chegado ao Brasil nas décadas de 1560 e 1570. Há registros de ciganos acusados e condenados a cumprir pena no Reino que, por motivos pessoais, solicitaram a comutação da pena pelo degredo, sendo então enviados para a Colônia.

Por não conseguir êxito na integração dos ciganos à sociedade portuguesa, além da necessidade de povoar os territórios de além-mar, Portugal enviou vários indivíduos e suas famílias, primeiro para a África e depois para o Brasil. Esperava-se que os ciganos ajudassem a povoar áreas dos sertões nordestinos, ocupadas por índios. Apesar de serem considerados perigosos, o Reino preferia os ciganos aos indígenas.

A primeira lei portuguesa a impor o degredo data de 28 de agosto de 1592. Os homens deveriam se integrar à sociedade ou abandonar o Reino, em no máximo quatro meses, do contrário ficavam sujeitos à pena de morte e suas mulheres seriam degredadas de forma perpétua para o Brasil.

Um decreto de 18 de janeiro de 1677 impôs o degredo de ciganos para a Bahia ou para as capitanias do Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro, entre outras. Também o deportação entre colônias foi imposta a ciganos infratores por diversas vezes e sob vários pretextos. Houve ainda tentativas de separar homens e mulheres, com o objetivo da extinção dos ciganos como povo.

Não se tem conhecimento de documentação que contenha informações sobre a quantidade de ciganos deportados para o Brasil na época, nem para quais destinos ou por quais motivos, principalmente a partir de 1718, quando aumentou a  deportação de ciganos na política portuguesa.

Pereira da Costa, na sua obra Anais pernambucanos, traz informações sobre os  ciganos em Pernambuco no ano de 1718:

[...] Os ciganos andavam em bandos mais ou menos numerosos, e aqueles que não se entregavam à pilhagem, e a certos negócios, como a compra e venda de cavalos, nos quais os indivíduos pouco experientes sempre saíam logrados, eram geralmente caldeireiros ambulantes e onde quer que chegassem, levantavam as suas tendas, e saíam à procura de trabalho que consistia, especialmente, no conserto de objetos de latão e cobre. As mulheres, porém, importunas, astutas e minimamente loquazes, saíam a esmolar, e liam a buena dicha pelas linhas das mãos, predizendo a boa ou má-sorte do indivíduo, mediante uma remuneração qualquer. [...]

[...] Os ciganos diziam-se cristãos, mas batizavam os filhos várias vezes, como um laço armado aos obséquios e proteção dos compadres; e tinham a sua Germânia ou gíria particular a que o vulgo dava o nome de geringonça.

Documentos históricos comprovam que houve um grande crescimento populacional e econômico da comunidade cigana na Bahia. Salvador, a primeira capital colonial brasileira, tornou-se a cidade mais importante para os ciganos no Brasil.

Da Bahia, muitos deles foram em direção a Minas Gerais, causando desconforto para as autoridades da época, que tentaram de várias maneiras impedir a presença deles na região por ser considerado um povo desobediente e malcriado.

Existem notícias de ciganos em São Paulo, no ano de 1726, quando foram solicitadas providências às autoridades para sua expulsão, dentro de 24 horas, sob pena de serem presos, uma vez que era um povo afeito a jogos e outras perturbações. Em 1760, os vereadores paulistas resolveram expulsar um bando de ciganos composto de homens, mulheres e filhos, por causa de queixas da população, também num prazo máximo de 24 horas.

Há ciganos nos quatro cantos do território brasileiro desde os primórdios de sua história.

No século XIX, um grupo de ciganos acompanhou D. João VI na sua vinda para o Rio de Janeiro, em 1808. Eram artistas de teatro que vinham com a missão de distrair a Corte Portuguesa.

A partir da Primeira Guerra Mundial, 1914 a 1918, houve um grande número de famílias ciganas que imigraram para o Brasil, oriundos principalmente, de países do Leste Europeu. Ao chegar, eles se dedicaram ao comércio de burros, cavalos, ao artesanato de cobre, às atividades circenses, viviam em barracas e praticavam o nomadismo. Hoje, poucos ciganos ainda são nômades no Brasil.

De acordo com dados do Censo 2010 do IBGE, existem no País cerca de 800 mil ciganos. Pela primeira vez foram mapeados oficialmente os acampamentos ciganos no País. A pesquisa do IBGE encontrou assentamentos em 291 cidades brasileiras, concentradas, principalmente, no litoral das Regiões Sul, Sudeste e Nordeste, destacando-se o estado da Bahia, com o maior número de grupos. Vivem em tendas de lona, que são geralmente montadas em terrenos baldios.

Em São Paulo, há informações sobre acampamentos em 25 municípios, entre os quais a capital, Sorocaba e Campinas. A maioria dos ciganos vive do comércio e as mulheres se dedicam a leitura de mão. Grande parte da população cigana vive em casas e não praticam mais o nomadismo.

Não foram encontrados acampamentos nos estados do Amapá, Roraima, Amazonas, Rondônia e Acre.

De uma maneira geral, há uma taxa muito alta de analfabetismo entre eles, além de não estarem incluídos em programas governamentais de assistência social à saúde ou educação.

 

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Hoje, existem dois grandes grupos de ciganos no País:

•  o Calon, oriundo de Portugal, que fala o dialeto caló, é tradicionalmente nômade, ligado ao comércio de cavalos, carros, correntes e artefatos imitando ouro. As mulheres praticam a quiromancia em praças públicas, exibem dentes de ouro e pintas (sinais) no rosto;

•  o Rom, vindos principalmente do Leste Europeu e que falam a língua romance (romani). No Brasil, encontram-se ciganos dos seguintes subgrupos Rom: Kalderash que se dizem “puros”, alguns ainda nômades, trabalhando no comércio de carros e as mulheres na quiromancia e cartomancia; Macwaia ou Matchuai, vindos basicamente da Sérvia (antiga Iugoslávia), vivem sedentários em grandes cidades, não se identificam com o vestuário cigano e, na sua maioria, sobrevivem de atividades da arte advinhatória; Horahane, de origem turca ou árabe, com atividades semelhantes aos Matchuaias. Vivem principalmente no Rio de Janeiro e só poucos ainda são nômades; Lovaria, um grupo de poucas pessoas que se dedica ao comércio e à criação de cavalos e é basicamente sedentário; e os Rudari, também em número reduzido, dedicados ao artesanato de ouro e madeira, sedentários e que também vivem basicamente no Rio de Janeiro.

No sertão da Paraíba, numa área menos nobre de Sousa, município localizado a 420 quilômetros de João Pessoa, há uma comunidade de ciganos do ramo dos Calons que, por questões de sobrevivência, deixou de lado o nomadismo e fincou raízes no local há mais de 25 anos. Apesar da falta de informações oficiais sobre a quantidade de habitantes, é composta por cerca de duzentas famílias e considerada a maior comunidade cigana do Brasil. Eles moram em casas simples, de alvenaria ou taipa, e vivem em condições muito precárias. Não têm acesso aos serviços públicos básicos e enfrentam problemas comuns às comunidades carentes como o desemprego e o alcoolismo.

As primeiras discussões sobre a inclusão dos ciganos aos direitos sociais só começaram no País a partir de 2002. Pela Constituição Federal de 1988, a etnia cigana foi incluída na classificação de minorias étnicas.

Atualmente, foram concretizadas algumas ações governamentais a nível nacional:  a instituição do Dia Nacional do Cigano, comemorado em 24 de maio, em homenagem à sua padroeira, Santa Sara Kali; a criação do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) e a publicação de uma cartilha de direitos da cidadania cigana. Existem também algumas ações pontuais e regionalizadas, fruto de articulações com outros segmentos da sociedade civil organizada.

Para o povo cigano é muito importante o sentimento de pertencer a um grupo, a um clã ou tribo e o cumprimento do código da etnia. Os seus dialetos (romani, sinto, caló entre outros) são ágrafos, ou seja, não possuem escrita e o nomadismo, reconhecido como uma referência da identidade cigana, em muitos casos, lhes foi imposto devido às constantes perseguições, preconceitos e hostilidade de que foram e continuam sendo vítimas.

GASPAR, Lúcia. Ciganos no Brasil. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: . Acesso em: dia 13 de maio de 2013.

 

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O guardião do acampamento
  

Ciganos em São Bento do Sul

Às margens da SC-301, trecho das 27 curvas, ao lado da entrada  da recreativa da Oxford, o colorido das barracas e das roupas penduradas para secar chamam a atenção pois ali está instalado um acampamento de ciganos, todos de origem brasileira, gaúchos, e uma tribo composta por parentes. De início o que chama a atenção são os veículos utilizados pelos mesmo todos em bom estado de conservação e relativamente novos. As barracas que abrigam cada família também apresentam condições de higiene favoráveis, panelas brilhando, cobertas – com fartura – todas muito bem acomodadas e limpas. Cada família prepara sua refeição. Apenas as mulheres usam trajes chamativos, vestidos longos e coloridos. Os ciganos homens, já se trajam de acordo com a moda contemporânea. Um detalhe que chama a atenção que todos, principalmente os adultos possuem os dentes, todos, recobertos por ouro. As mulheres não se deixam fotografar, nem os grupos familiares.

 

Os ciganos gaudérios

Nossa reportagem foi recebida pelo senhor Valdemar Galvão, 58 anos, gaúcho de nascimento, natural de Machadinho, três filhos (36, 28 e uma moça com 19) que diz ter ingressado na tribo como motorista de uma senhora cigana. Acostumei a conviver com eles estar sempre viajando, casei na tribo e até hoje estamos juntos. Isto já faz 40 anos.  Ele explica também que quanto ao casamento cigano, que antigamente era permitido apenas entre os membros da tribo, hoje misturou tudo. Aqui na tribo se casa com alemão, brasileiro, italiano, índio misturado, não há mais a escolha de noivos pelos pais. Atualmente os jovens escolhem seus pares. Todos do grupo são parentes, cunhados, filhos, sobrinhos e ao invés de cada um viajar só, o fazem em grupo (tribo), até por maior segurança. Ao contrário do que era antigamente, os atuais ciganos possuem suas propriedades, embora mantenham as características de nômades. A sede da tribo é em Cruz Alta no Rio Grande do Sul  onde eles possuem suas casas e de lá fazem os deslocamentos de preferência pela região da Serra Catarinense e Vale do Itajaí. Ele justifica o domicilio em Cruz Alta devido aos estudos das crianças afirmando que todos são alfabetizados, sabem ler e escrever. Nossos filhos não estudam para serem doutores ou possuir outra formação, apenas para serem alfabetizados. Nos acampamentos também existe uma “professora” da própria tribo que se encarrega de dar continuidade a alfabetização quando estão em trânsito. Valdemar que é uma espécie de vice-líder do grupo, o titular estava viajando, explica que hoje já não há aquela grande rejeição quando eles chegam em uma cidade. Até porque diz ele, fazem contato com a prefeitura, pedem autorização para ocupar os terrenos, e desmistificaram-se aquelas lendas de que cigano rouba crianças, animais e sempre representava medo para pessoas. Ainda hoje muitas lojas da cidade não gostam da presença de ciganos em seu interior, e diz a lenda que as mulheres tem medo de vassoura, por isso é bom colocar uma na porta que elas vão embora.  Hoje freqüentamos quase sempre os mesmo lugares onde já possuímos amigos e conhecidos e não perturbamos ninguém, afirma Valdemar.

 

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O jovem Diego e Valdemar nosso entrevistado
  

Hábito de viajar e sobrevivência

Valdemar contou também que as suas viagens são programadas de acordo com as regiões, o inverno e o verão. Registra que liberdade de viver em barracas é ter a oportunidade de colocar a casa onde quer e estar sempre em contato com a natureza. Também não existe mais o hábito que ciganos fabricavam tachos e panelas de cobre, isso ficou no tempo das carroças e viajar a cavalo. Hoje a sobrevivência da tribo se dá pela venda de cobertores, lençóis, pequenas panelas de alumínio e também a comercialização de veículos. São como revendas ambulantes. Embora as informações sejam que os ciganos são originários da Índia, Valdemar faz questão de dizer que o cigano mesmo é Árabe. Nós, os mais velhos já somos descendentes de brasileiro e ainda de cruzamento com  índios. Católicos, celebram seus casamentos na Igreja e também batizam seus filhos. A tribo que está em São Bento do Sul é composta de oito família e reúne cerca de 20 pessoas. Quando tem um casamento na tribo dura a festa até duas semanas e aí reúnem-se integrantes de outras tribos para celebrar. Muita dança, comida e bebida. Igualmente reunindo todos quando do luto.  Hoje o folclore cigano nas comemorações é a dança gaúcha. Sobre os dentes revestidos em ouro, Valdemar explica que é um costume da tribo de várias gerações. Tudo que é ouro, normalmente é derretido para recobrir os dentes e deixar o sorriso amarelo e brilhante. As barracas são iluminadas  por gerador próprio, possuem televisão.

 

Quem nasce na barraca, mora na barraca

Diego, um jovem de 14 anos, diz gostar da vida que leva e não tem vontade de deixar o grupo. Ele diz saber ler e escrever e gostar quando ocorrem reuniões com outras tribos. Já o jovem Igor que vive com a mãe e os avós (seu pai é falecido), também diz gostar muito de viajar como ensina a  tradição. Perguntado sobre as namoradas disse que elas estão pelo mundo. 



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