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Centenário: Uma data histórica para o grupo, para a cultura e para a cidade

Terça, 30 de abril de 2013

Banda Treml está completando 100 anos de existência

 

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Primeira formação, em 1913, na época conhecida como “Bandinha Furiosa”, e integrantes atuais: com um repertório originalmente alemão, a banda ampliou suas fronteiras com a música brasileira (Foto Divulgação)
 

 

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(Foto Divulgação)
  

Dia 1º de maio, quarta-feira –, os músicos da Banda Treml se organizam para as festividades da data. Em meio a ensaios, os preparativos finais são feitos. “A expectativa é grande – queremos um dia muito especial”, diz o presidente da banda, Márcio Brosowsky. Além da homenagem ao fundador da banda, João Treml (na praça homônima, às 10:00), o grupo também participará da inauguração de um monumento na praça Getúlio Vargas (às 11:00). No local também será reposta uma placa que nomeia o coreto de Affonso Treml, seguido de um almoço festivo no Ginástico (às 12:00). Um Concerto de Gala (às 20:00), também no Ginástico, será o último evento do dia, encerrando a data histórica para o grupo e para a cidade. Para os vinte e seis músicos da Banda Treml, a rotina é intensa. Em um ensaio recente, o maestro Luis Francisco Kamiensky ressaltou o fato. “A maratona não está sendo fácil”, disse ele aos músicos, elogiando-os pelo empenho. Um agradecimento especial foi feito ao presidente da banda – pela dedicação nos preparos do centenário.

Para Brosowsky, apenas a véspera do aniversário deve ser marcada por certa ansiedade. “O nervosismo surge nos últimos dias”, indica ele. Entre os músicos, a opinião divide-se. “O clima já está um pouco ansioso”, conta Alecsandro Xavier, trombonista na banda desde 1998. Para ele, não é apenas o concerto que é aguardado. “A gravação do CD aumenta bastante a expectativa”, revela, referindo-se ao álbum inédito que será gravado pela banda, apenas com músicas de compositores são-bentenses. São essas as músicas que constam no repertório do concerto do dia 1º, tornando o momento especial para o grupo. Antecipando um pouco da experiência do dia 1, sete músicos da Banda Treml participaram do desfile de aniversário de Rio Negrinho anteontem, quarta-feira 24. Os músicos abriram o desfile, em uma homenagem oferecida pela Escola de Música Professor Valdeci Maia. O aniversário da cidade coincide com a data de nascimento de Jorge Zipperer, que reuniu músicos em 1903 para tocar. O grupo se tornaria, em 1913, a Banda Treml. Devido à relação entre a banda e Zipperer, a direção da escola decidiu homenageá-la em seus cem anos de atividades.

 

LIVRE DE IMPOSIÇÕES EXTERNAS

A Banda Treml representa mais que uma entidade musical da cidade: a cultura e a tradição germânicas são mantidas através de sua atuação, em um percurso que se mistura à história da própria cidade e sua população. Raras bandas brasileiras alcançaram tal distinção de idade. O fato de a banda ser autônoma, livre de imposições externas, faz com que seu trabalho seja dirigido pelo simples apreço à música. Os músicos que integram o grupo não são remunerados – ainda assim, a adesão de novos membros é frequente. Para muitos, integrar o grupo é um orgulho – e um objetivo. Atualmente, dentre os vinte e seis músicos que formam a banda, há muitos jovens – em sua maioria oriundos da Escola de Música Donaldo Ritzmann. A perpetuação do grupo está diretamente relacionada a esses jovens e ao amor de todos os membros à música.

Com um repertório originalmente alemão, a banda ampliou suas fronteiras com a entrada de Pedro Bittencourt, que assumiu a regência em 1994. Músicas brasileiras, como valsas, serestas e dobrados, e internacionais, como o bolero, a marcha americana e a tarantela italiana, pontuam algumas apresentações. São as composições germânicas, entretanto, que ainda caracterizam o grupo, que realiza anualmente intercâmbios com bandas alemãs. De todas as suas características, a relação íntima que a Banda Treml mantém com a cidade na qual surgiu é a mais marcante. Eventos importantes da cidade contam com sua participação: festejos, enterros, desfiles. Uma ala do Museu Municipal é dedicada à história do grupo.

 

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Apresentação ainda no século passado: até agora, foram apenas cinco regentes (Foto Divulgação)
  

COMPOSIÇÃO DA OBRA

A cultura local é valorizada e divulgada através dos atos da Banda Treml, como as Retretas de Verão. Realizadas desde 1950, as retretas são apresentações feitas no coreto da praça central de São Bento do Sul. Durante os meses de verão, a banda sobe ao palco semanalmente, sempre às quartas-feiras, em uma das tradições mais singulares da cidade. Os 100 anos da Banda Treml serão comemorados com diversos eventos e ações, que celebram o notável marco alcançado pelos músicos. Os eventos ocorrem ao longo do ano inteiro, porém serão concentrados nos meses de maio, mês de aniversário da banda, e setembro, mês de aniversário de São Bento do Sul. O dia 1º de maio será dedicado, integralmente, à banda.

A data, entretanto, é apenas um dos momentos da comemoração. Desde o ano passado, a banda planeja seu centenário. Um livro sobre a história da Banda Treml está sendo escrito pelo historiador Wilson de Oliveira Neto – a publicação deve ser lançada no fim do ano. A composição da obra conta com a participação da população da cidade, que envia fotos e relatos para a produção do livro. Um novo CD será gravado, contando apenas com composições de músicos são-bentenses, em um resgate das músicas locais. Oito vinis da banda foram remasterizados e serão lançados em quatro CDs. A digitalização e a prensagem dos CDs foram feitas com o apoio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura de São Bento do Sul (Simdec) e os álbuns estarão à disposição no comércio local.

 

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João Treml, que empresta seu nome a praça local, é o fundador da banda (Foto Elvis Lozeiko/Evolução)
  

DIFICULDADES DUIRANTE A GRANDE GUERRA

Em 1903, Jorge Zipperer criou uma banda para animar as atividades da Sociedade dos Atiradores de São Bento. Quando ele e seu sócio, Andreas Ehrl Filho, mudaram-se para a cidade vizinha, Rio Negrinho, deixaram a banda, que passou ao comando de João Treml. Uma reformulação foi promovida e resultou na atual Banda Treml. Apesar de a banda já estar reunida antes desse dia, a data de 1º de maio foi escolhida para marcar seu aniversário. Em 1913, uma empresa solicitou uma apresentação para a data e os músicos foram reunidos. O sucesso do evento marcou o começo oficial das atividades do grupo, que mantém-se até hoje. Ao longo destes 100 anos, a banda vivenciou momentos importantes da cidade, assim como experiências marcantes para os músicos. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, houve dificuldades para o grupo, devido às restrições à cultura germânica.

Foi nesse período, entretanto, que um prefeito de São Bento do Sul convidou os músicos a apresentaram-se no coreto da praça central, a atual praça Getúlio Vargas, resultando nas tradicionais Retretas de Verão. Já naquela época, a Banda Treml animava desfiles cívicos e festivos, sempre à frente da Sociedade dos Atiradores, além de encabeçar as procissões de Corpus Christi e da Sexta-Feira Santa, conduzir enterros, animar as festas de igreja, as festas escolares, os Bailes do Chope em São Bento e em várias cidades de Santa Catarina, Paraná, e até de outros Estados.

Até agora, cinco maestros regeram a banda. De 1913 a 1940, o fundador da banda, João Treml; de 1940 a 1980, seu filho Afonso Treml; de 1980 a 1993, Mathias Herzer; de 1994 a 2012, Pedro Bittencourt, que passou a batuta à Luis Francisco Kamiensky, atual regente do grupo. Hoje a banda encontra-se renovada, com a presença de muitos jovens, incluindo mulheres (cuja participação começou apenas em meados de 1996), entre os seus integrantes. São pessoas que procuram levar adiante a tradição da música na cidade e na região. E que também são responsáveis por essa iniciativa, que está prestes a completar o seu primeiro centenário.

 

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Wilson de Oliveira Neto: pesquisa e redação do livro que contará a trajetória da banda (Foto Divulgação)
 

O RELATO EM FORMA DE LIVRO

Há cerca de um ano, os momentos de folga de Wilson de Oliveira Neto passaram a ser dedicados a uma causa única. O historiador é o responsável pela pesquisa e redação do livro que contará a trajetória de 100 anos da banda. “Está em fase de finalização – no próximo mês devem ser entregues os originais”, conta. A pesquisa documental teve por base arquivos e muitos materiais jornalísticos, publicados em meios de comunicação como “O Aço”, “Tribuna da Serra” e “Tribuna de São Bento”, todos encontrados no Arquivo Histórico de São Bento do Sul. Membros e ex-integrantes da banda também tiveram importante participação na montagem dessa história: além das entrevistas, álbuns completos de fotografias foram cedidas ao historiador, que reconstitui a história do grupo.

A relação da Banda Treml com São Bento do Sul não passou despercebida. “Existe uma relação, principalmente com a tradição alemã e boêmia, da República Tcheca”, conta Wilson. Natural das áreas de colonização europeia do sul brasileiro, o desejo de perpetuação cultural é expressivo na cidade. “A banda reflete essa tendência de manter o passado”, analisa o historiador. Em meio às pesquisas para a redação da obra, Wilson descobriu momentos importantes e curiosos da história da banda. Um deles foi o fim da Segunda Guerra Mundial. No dia 7 de maio de 1945, a notícia do fim da guerra chegou à cidade. A reação da população foi manifestada em uma grande festa, que interrompeu todas as outras atividades do município. “E a Banda Treml tocou nesse dia”, revela Wilson.

Uma banda tradicionalmente germânica encabeçou a celebração pela derrota nazista, demonstrando que apesar do saudosismo em relação à pátria dos ancestrais, essa é uma banda brasileira. Outro dado interessante passou-se ao longo da guerra. Enquanto alemães sofriam restrições ao uso de seu idioma e tinham seus bens confiscados, sendo a Sociedade Literária e a Sociedade Atiradores fechadas, a Banda Treml não parou com suas atividades. Mesmo no período mais turbulento para os alemães, a banda permaneceu alegrando bailes e eventos, tradicionais na cidade. “É uma relação de afetividade da cidade para com a banda”, analisa Wilson. “E também a ideia de que medidas de nacionalidade tinham limite”, completa. Esse hibridismo cultural é o que, até hoje, caracteriza a banda, um tanto alemã, um tanto brasileira. Mantendo as tradições germânicas em terras brasileiras, a Banda Treml segue sua trajetória de convívio com a cidade e sua população.



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