Com 21.492 votos, 1.373 a menos que o vencedor do pleito, Fernando Tureck (PMDB), o prefeito Magno Bollmann (PP) não conseguiu reeleger-se para um novo comando da prefeitura de São Bento do Sul. Nesta semana, ele recebeu o Evolução em seu gabinete para falar dos quatro anos de governo, das atuais obras em andamento, da reinauguração do Centro Cultural, do “horário de verão” adotado pelo Poder Executivo, da transição de governo, do possível Conselho de Ex-Prefeitos de São Bento do Sul e da sua rotina a partir de 1º de janeiro de 2013.
EVOLUÇÃO – Mais uma vez o prefeito Magno Bollmann nos recebe para este tipo tradicional de entrevista, com perguntas e respostas – ele que deixa o comando do Poder Executivo agora no dia 31 de dezembro. Como passam rapidamente quatro anos, não é, prefeito?
MAGNO BOLLMANN – Com certeza. Quando ocupamos bem o tempo, acabamos nem vendo este tempo passar. Foi muito trabalho que fizemos. Vamos, para legitimar essas ações que fizemos, imprimir uma revista-documento com todas as obras que nossa administração realizou. Será um documento que ficará para os arquivos do Município. São Bento do Sul passou de uma fase negra para uma fase... quer dizer, hoje não temos empregados para ocupar as vagas de empregos que existem. Isso, para mim, é a maior gratificação que pude presenciar durante estes quatro anos de governo. Saímos de oitocentos empregos negativos para um saldo positivo de quatro mil empregos novos durante nossa gestão. Isso é altamente gratificante. Essa era a maior reivindicação do povo, na época. Na aplicação de recursos para geração de novos empregos e para a vinda de novas empresas, a gestão anterior aplicou R$ 630 mil e nós investimos mais de R$ 5 milhões em Desenvolvimento Econômico. Isso fez com que acontecesse toda essa reviravolta na questão dos empregos em São Bento do Sul e na vinda de outras atividades para cá. Devemos, seguramente, ter mais de novecentos empreendimentos individuais (MEIs) e mais outras mil e quinhentas empresas. Ou seja, são cerca de duas mil e quatrocentas empresas que foram geradas nesse período de administração pública. Isso é dever cumprido! Tem também a questão da Saúde Pública. Temos em São Bento do Sul um exemplo de Saúde em Santa Catarina. Ainda antes do final do mandato, vamos fazer uma ampla divulgação deste projeto de informatização do setor, com o prontuário eletrônico. Com isso conseguiremos uma grande economia e será possível cobrir as lacunas, como a contratação de profissionais – especialistas em diferentes áreas –, além de racionalizar a Saúde, com melhor atendimento e sem a existência de filas. São Bento do Sul é uma das dez cidades do Brasil certificadas para este projeto de informatização da Saúde. Até dezembro queremos concluir todo o cadastramento dos pacientes para esta nova fórmula de atendimento na Saúde – principalmente para os mais necessitados. Nós investimos de 7% a 8% a mais do orçamento na Saúde. Eram 15% no setor – hoje são 22% ou 23%. Fizemos quatro novos Postos de Saúde. Ainda estamos implementando todas as reformas dos Postos de Saúde também. Esses eram, basicamente, os dois maiores pedidos da comunidade – a questão do emprego e a Saúde.
EVOLUÇÃO – Qual é a marca que o prefeito Magno Bollmann deixa para a história de São Bento do Sul?
MAGNO BOLLMANN – Acho que o maior legado que eu posso ter o prazer de levar junto com a comunidade de São Bento do Sul foi o grande relacionamento com toda a sociedade. Essa é a grande marca da nossa administração. Fizemos uma grande parceria com a sociedade civil organizada. Essa foi a “mágica” para a solução dos problemas de São Bento do Sul. Isso foi em várias áreas: na Saúde, no emprego, na pavimentação, na Cultura, etc. Fizemos também um atendimento significativo nos bairros. Também tivemos grandes parcerias com a Assembleia Legislativa, com o governo federal, com os deputados.
EVOLUÇÃO – Foram inúmeras viagens a Brasília!
MAGNO BOLLMANN – Sim. Tornamos São Bento do Sul uma vitrine em nível nacional. Não é por menos que ganhamos quatorze prêmios em nossa administração. Tenho orgulho de ser prefeito de São Bento do Sul – e estamos aqui para prestar contas sobre o que deixamos para a comunidade.
EVOLUÇÃO – Mas daqui a algumas décadas, o prefeito Magno será lembrado por uma marca. Seria a marca ambiental?
MAGNO BOLLMANN – A marca ambiental tem um grande legado para as gerações futuras. Por quê? Porque é o local onde o ser humano vive – é o seu meio ambiente. Com o passar do tempo, porém, esse local vai diminuindo. A massa vai ocupando os espaços. Se não cuidarmos desses espaços, estaremos produzindo um e ocupando e gastando um e meio. Isso é uma exploração que torna a vida insustentável no planeta. Essa é a grande preocupação que estamos tomando em São Bento do Sul. Tanto que fizemos um livro sobre isto – deixando registrada essa nossa marca, inclusive com diversos projetos. O PSA (Pagamento sobre Serviços Ambientais) é um deles. Inclusive estamos convidados para um congresso no oeste catarinense, no dia 29, para levarmos essa experiência para lá. Também já estão nos pedindo para atuarmos como consultoria em relação a este projeto.
EVOLUÇÃO – Projeto que, diga-se de passagem, foi parar na Rio+20.
MAGNO BOLLMANN – Exatamente. É como eu disse: tornamos São Bento do Sul uma vitrine nacional. Pode-se dizer que até em nível internacional, embora, infelizmente, não tenhamos conseguido executar um dos projetos fundamentais, o do Lixo Zero. Já temos o projeto – em parceria com uma universidade alemã e com empresas nacionais. Esse projeto envolve algo em torno de R$ 30 milhões. O projeto vai ficar no forno. Não vamos abandonar esse projeto. Inclusive já temos uma viagem marcada a Brasília para ver o posicionamento em relação ao projeto. A questão da rede de esgoto também será verificada nessa ocasião. Então, vejamos: tudo isso envolve a questão ambiental. Outro projeto inédito em Santa Catarina é a APA (Área de Proteção Ambiental) do Rio Vermelho/Humbold. Fizemos o Planejo de Manejo e Sustentabilidade daquela região. Ao instalarmos um posto da Polícia Ambiental naquela região, imaginávamos que teríamos um grande problema de relacionamento com aquele povo. Felizmente, a prática nos mostrou o outro lado da questão, em função de termos trabalhado com este povo por tanto tempo. Foi esse mesmo povo que nos deu resposta na eleição. Fico tremendamente gratificado com aquele povo que votou favoravelmente em nossa pessoa.
EVOLUÇÃO – Faltam algumas semanas para encerrar o seu mandato. Algumas obras – como o Contorno Norte e o Centro Administrativo – estariam paralisadas. Procede essa informação?
MAGNO BOLLMANN – Nenhuma obra está paralisada. Ainda ontem (terça 23) tive uma reunião com o cartorário, o senhor Miguel (Angelo Zanini Ortale), para avançarmos em relação ao lado oposto da obra (do Contorno Norte), ao lado da Padaria São Bento. Queremos fazer o alargamento e a macadamização dessa via. Em breve devo ir a Mafra (na Fatma) para verificar os licenciamentos. Pode ser muita pretensão, mas acredito que ainda vamos abrir um grande traço dessa via antes de sairmos da prefeitura. Sobre o Centro Administrativo, vamos entregá-lo pronto, com ajardinamento – só está faltando isso. Outro projeto – o Museu do Móvel –, que envolve a classe empresarial, infelizmente não será possível executar. Outras obras ainda vamos inaugurar. Na semana passada chamei aqui (no gabinete) todas as empreiteiras responsáveis, cobrando a execução das obras, mesmo porque existem datas específicas nas placas.
EVOLUÇÃO – Que sejam cumpridas!
MAGNO BOLLMANN – Que sejam cumpridas estas datas! Temos, por exemplo, as creches e a Praça de Cultura e Lazer em Serra Alta, além de ginásios de esportes, algumas escolas e Posto de Saúde.
EVOLUÇÃO – Ainda pegando o gancho do Contorno Norte, o senhor disse aqui mesmo, no gabinete, que, independente de continuar ou não à frente do Executivo, faria um Decreto para a futura expansão do Parque 23 de Setembro.
MAGNO BOLLMANN – Com certeza! Há duas ou três semanas, estivemos com o pessoal do Departamento Jurídico da prefeitura, porque vamos fazer este Decreto de Utilidade Pública. Já estamos mapeando estas áreas e estamos trabalhando na logística para este projeto. Temos uma grande preocupação em relação à preservação desta área, principalmente por causa do rio São Bento. Se mexermos naquela área, teremos um sério problema de retenção de água, o que poderia ter uma influência negativa nos bairros a jusante da via do Acesso Norte, ou seja, Oxford e outros bairros. Então é mais um motivo para preservamos aquela região toda, que é extremamente acidentada. Além disso, claro, tem o fato de haver muita flora e muita fauna naquela região central.
EVOLUÇÃO – Por conta da legislação em período eleitoral, o senhor não conseguiu inaugurar o Centro Cultural Dr. Genésio Tureck. A sua alegria não foi menor por causa disso, certo?
MAGNO BOLLMANN – Não foi menor. Eu até queria ir lá figurar como palhaço (risos) para poder participar do evento. Porém, o Jurídico me aconselhou a não fazê-lo... Quero dizer, porém, que fico muito feliz. Tem toda uma programação da Fundação Cultural para a área – inclusive com filmes.
EVOLUÇÃO – Na última segunda-feira começou o “horário de verão” da prefeitura. Isso é contenção de gastos? É para fechar as contas? Para respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal? Por que o senhor tomou essa atitude?
MAGNO BOLLMANN – É para podermos fechar as contas, logicamente, mas também – é fundamental que se diga! – para que possamos terminar nossas obras. Com o “horário de verão”, haverá uma boa economia. Com essa medida, economizaremos, por exemplo, muita energia.
EVOLUÇÃO – Vamos falar um pouco da campanha política e da sua não-reeleição. Quando o senhor viu que seu nome estava sendo colocado à disposição para concorrer novamente, o seu sentimento era um. Agora a campanha já acabou e o resultado da eleição já foi divulgado. Qual é o seu sentimento agora?
MAGNO BOLLMANN – O meu sentimento, hoje, é de dever cumprido. Coloco isso acima de tudo. De cabeça erguida, vou tocar minha vida normalmente. Quando se entra em um jogo político, ou você é ganhador ou é perdedor. Isso faz parte. Tenho uma filosofia de vida: todo embate que não me mata, me enrijece. Hoje estou mais maduro e estou mais forte do que antes. Ainda tenho fôlego para muita vida pela frente. Então, cada vez me conscientizo que nunca podemos baixar a bandeira. Quando se cumpre algo em relação ao que você se comprometeu a fazer, você está em paz consigo mesmo e com a sociedade – que me deu uma grande vitória na eleição retrasada. Essa eleição, a atual, nos deixou em uma condição de agradecimento ao eleitor. Considero essa eleição empatada, porque houve uma diferença de seiscentos e oitenta votos para cá ou para lá, representando em torno de 1,4% de diferença. Isso, para mim, nem é diferença. Porém, a democracia se fez valer – e isso eu respeito.
EVOLUÇÃO – Mas em 2008 o senhor ganhou com o apoio da maioria. O candidato vencedor desta fez, o Fernando Tureck, do PMDB, ganhou com um número “x” de votos, mas os votos dos outros, somados, são superiores aos votos que ele recebeu.
MAGNO BOLLMANN – Entendo essa lógica também. Como a democracia está pautada em normas e regida por leis, tenho que respeitar o resultado. Absolutamente tenho meu respeito por aqueles que ganharam a eleição. Eu, particularmente, continuo do mesmo jeito no que diz respeito ao nosso relacionamento, independente de política partidária. Não é porque um pertence a um time e outro pertence a outro time que não se deve conversar, que não se deve ter o melhor relacionamento possível com quem se saiu vencedor ou perdedor. Ainda diria que fomos vencedores em uma grande questão: no Legislativo. Historicamente, na Câmara (de Vereadores), nunca se fez uma eleição tão vantajosa em relação à oposição. Isso também é gratificante. O Legislativo é de fundamental importância na administração pública municipal, como agente fiscalizador do que acontece na prefeitura.
EVOLUÇÃO – Poderíamos perguntar para cientistas políticos, para jornalistas, para comentaristas e outros “istas”, mas vamos perguntar ao próprio: o que deu errado?
MAGNO BOLLMANN – Eu diria que foram pequenos detalhes. Pequenos detalhes! Outro dia encontrei uma “margarida”, uma mulher responsável pela limpeza pública. Vou fazer um relato do que ela me falou no sábado passado (dia 20), quando vim aqui para a prefeitura. Ele me dizia o seguinte: “Magno, que pena que não ganhamos a eleição, porque nós votamos no senhor”. Eu disse para ela: “Mas isso faz parte do nosso trabalho”. “Pois é, mas eu digo o seguinte: minhas vizinhas, lá no bairro Centenário, que não tinham necessidade de receber o que receberam – eram empregadas de supermercado –, receberam cestas básicas”. Ela me disse que, por isso, perdemos a eleição. Então, são detalhes. Comungo isso com elas. Diga-se que o trabalho foi feito – e foi intensamente trabalhado. Quero agradecer à equipe da coordenação, aos cabos eleitorais, aos candidatos a vereador.
EVOLUÇÃO – Vem aí uma transição de governo. Vimos em outro órgão de imprensa que o senhor teria dito que vai dar o mesmo tratamento ao novo governo que o seu governo recebeu da antiga administração. É isso mesmo?
MAGNO BOLLMANN – Em primeiro lugar, quero desmentir tudo. Não falei, em momento algum, sobre isso. É uma tremenda sem-vergonhice. Nunca falei isso. Isso é um tipo de chantagem que eu não gosto e repudio. Deixo meu voto de repúdio! Desde o início falo – e sempre falei – que haverá a maior clareza na transição. Seremos bem diferentes do que nós recebemos, porque não houve transição. Foi uma transição de uma hora, uma transição de sem-vergonha, porque aquilo não foi transição. Isso é vender o que não existe. A nossa transição, porém, vai ser muito transparente.
EVOLUÇÃO – O que dizer, de maneira geral, ao governo que assume em 1º de janeiro?
MAGNO BOLLMANN – Não vejo perspectivas, ao menos num primeiro momento, de um governo de sucesso como o nosso. Mas, com o avançar do tempo, desejo a eles toda a felicidade do mundo e todo o bom trabalho. Não sou daqueles adeptos do “quanto pior, melhor”. Eu sofri isso na minha transição. Desejaram para mim o “quanto pior, melhor” – para eles. O que desejo para eles é o “quanto melhor, melhor” – para a comunidade de São Bento do Sul.
EVOLUÇÃO – O prefeito eleito, Fernando Tureck, já disse – e colocou no plano de governo – que existe a possibilidade de se criar um Conselho de Ex-Prefeitos de São Bento do Sul. O senhor estará apto a participar deste conselho?
MAGNO BOLLMANN – Se for chamado, não me nego a participar de nenhuma ação produtiva, desde que haja interesses para somar à sociedade.
EVOLUÇÃO – O senhor deixaria totalmente a bandeira partidária de lado?
MAGNO BOLLMANN – Totalmente. A exemplo do que deixei no governo passado, quando participei da administração, a convite, na questão do Plano Diretor, em relação ao Meio Ambiente.
EVOLUÇÃO – No governo Mallon?
MAGNO BOLLMANN – No governo Mallon. Por isso não admito esses ranços políticos. Não sou chegado a esse tipo de trabalho, mesmo com os meus opositores.
EVOLUÇÃO – Bom, a partir de 1º de janeiro, o senhor terá muito mais tempo livre. Como será sua rotina?
MAGNO BOLLMANN – Fiz uma série de reflexões. Sabe que eu precisava de um tempo de descanso? Minha luta aqui foi muito árdua, muito penosa. Não por dificuldades que encontrei na administração pública, mas pelo empenho com que me dediquei à administração. Junto comigo, toda a administração se empenhou para dar o melhor de si – vide os prêmios que recebemos. Então, agora eu preciso descansar, preciso sair dessa rotina. Vou me dedicar ao meu trabalho, principalmente na questão ambiental – quero escrever mais um livro. Provavelmente vou me dedicar à consultoria em relação ao PSA, que é um projeto fantástico que desenvolvemos em São Bento do Sul. Aliás, ainda antes de encerrarmos esta administração, queremos deixar um Memorial do PSA instalado e já inaugurado lá na região de Rio Vermelho Povoado.
EVOLUÇÃO – Muito bem. Conversamos, mais uma vez, com o prefeito Magno Bollmann, que no dia 31 de dezembro deixará oficialmente o comando da prefeitura. Algo mais para deixar registrado nesta entrevista que, talvez, seja a última neste formato?
MAGNO BOLLMANN – Bom, quero particularmente agradecer à imprensa e a todos os meios de comunicação, que me ajudaram e que até me criticaram positivamente – não faço nenhuma objeção a isso. Conseguimos cumprir o nosso plano de governo de 98% a 99%, até porque o Instituto de Planejamento será votado ainda este ano – o que era uma das nossas metas. O que não conseguimos finalizar é a PPP – Participação Público-Privada, para, por exemplo, a nossa rodoviária. Infelizmente não foi possível ser finalizado, porque ele ainda está sendo executado pela Amunesc (Associação dos Municípios do Nordeste de Santa Catarina). Por fim, quero fazer um agradecimento aos nossos eleitores, à minha família e à imprensa, bem como a todos os funcionários, pela colaboração que nos deram durante estes quatro anos de administração pública em São Bento do Sul.