O rebaixamento em massa de países da zona do euro reaqueceu um debate sobre a ampliação do fundo de resgate do bloco, mas os governos estão divididos sobre um possível aumento de suas contribuições, disse neste domingo uma autoridade da União Europeia. “Existe um debate. A questão ainda está aberta e não há até agora um consenso”, disse a autoridade sob condição de anonimato.
A chanceler alemã Angela Merkel, cujo país foi poupado pela ação da Standard & Poor’s, recusa-se a elevar a fatia de Berlim na Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês). A Alemanha, maior economia da Europa, já é o maior fiador da EFSF, que começou com € 440 bilhões mas tem atualmente € 250 bilhões após os resgates de Portugal e Irlanda. O fundo agora é considerado pequeno demais para ajudar Itália ou Espanha, respectivamente terceira e quarta economias. A Grécia já aguarda um segundo resgate.
A decisão da S&P de rebaixar nove países da zona do euro na sexta-feira, com destaque para França e Áustria, pode afetar a EFSF. “A EFSF pode perder seu triplo A para empréstimos a longo prazo”, se nada for feito para compensar os rebaixamentos de França e Áustria, disse a autoridade da UE.
A S&P havia alertado no mês passado que qualquer rebaixamento de um dos seis países com triplo A poderia levar a um corte similar para a EFSF. O rebaixamento deixou quatro países com triplo A: Finlândia, Alemanha, Luxemburgo e Holanda.
O comissário europeu de Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, criticou a decisão da Standard & Poor. Segundo ele, trata-se de uma medida inconsistente. O ministro das Finanças francês, François Baroin, por sua vez, disse que o país não permitirá que as agências ditem suas políticas.
O governo da Áustria afirmou que o rebaixamento de seu rating de crédito de AAA para AA+ foi uma medida incompreensível e ameaçava minar o progresso conseguido nas últimas semanas na crise da zona do euro. “É incompreensível quando uma das três agências de rating dos EUA decide avançar sozinha e rebaixar países da zona do euro, ou dar a eles uma perspectiva negativa”, afirmou um comunicado do governo austríaco.
O país criticou o que qualificou como levantamento desigual feito pela agência de diferentes países da zona do euro que antes tinham ratings AAA, “mesmo que as soluções estivessem e estejam sendo trabalhadas em cooperação próxima”. Viena trabalha “intensamente” em cortes de gastos, o Parlamento aprovou leis para reduzir o déficit e a Moody’s e a Fitch reafirmaram recentemente o rating AAA do país, lembrou o governo.
Dos 17 países da zona do euro, nove foram rebaixados na sexta-feira. A S&P baixou em dois graus as notas da Itália, Espanha, Portugal e Chipre. Os bônus da Itália agora são classificados como BBB+, o degrau mais baixo antes de o país perder o chamado grau de investimento, nível considerado seguro pelo mercado financeiro. França, Áustria, Malta, Eslováquia e Eslovênia caíram um degrau na classificação. A S&P manteve a nota máxima, AAA, de Alemanha, Finlândia, Holanda e Luxemburgo.
O presidente francês, Nicolás Sarkozy, disse ontem que seu país superará a crise. “A crise pode ser superada desde que tenhamos a vontade coletiva e a coragem para reformar o nosso país”, disse Sarkozy em um discurso na cidade de Amboise, no primeiro pronunciamento público após o anúncio do rebaixamento da nota da França. “Nós devemos resistir, devemos lutar, devemos mostrar coragem, devemos permanecer calmos”, afirmou ele.
Sarkozy garantiu que fará um discurso à nação no final do mês e falará aos franceses sobre “as decisões importantes que devem ser feitas sem demora”. Ele deve se reunir na quarta-feira com sindicatos e empregadores para tentar tornar o mercado de trabalho da França mais flexível e combater o desemprego antes das eleições presidenciais neste ano.
No sábado, o primeiro-ministro da França, François Fillon, afirmou que o rebaixamento era uma notícia “esperada” e não deve ser “dramatizada” ou mesmo “subestimada”. “As medidas orçamentárias que adotamos são suficientes”, garantiu a cem dias das próximas eleições presidenciais o chefe do executivo francês.
Apesar da confiança, ele não descartou novos ajustes se “necessário”, uma vez que exista “melhor visibilidade” sobre o crescimento econômico. Fillon se referiu à possibilidade de aplicar decisões fortes e, concretamente, de assumir “reformas estruturais” como reduzir “o custo do trabalho” para relançar o crescimento econômico, a partir da cúpula social que será realizada na França na quarta-feira.
“As agências de medição de risco não determinarão nossas políticas nem nossa agenda”, declarou Fillon, quem ressaltou que seu governo nunca escondeu “a gravidade da crise aos franceses”.
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, afirmou em uma visita à Grécia que chegou a hora de a Europa criar agências independentes de rating de crédito e acalmar o nervosismo dos mercados com as constantes especulações.
Durante uma pausa nas negociações com o ministro das Relações Exteriores grego, Westerwelle afirmou a repórteres acreditar que é muito importante dar a acordos e pactos realizados dentro da zona do euro uma chance real de funcionar. Ele acrescentou que essa é a única maneira de renovar a confiança dos mercados. Westerwelle também se reuniu com o primeiro-ministro, Lucas Papademos, e com o líder conservador Antonis Samaras.
No sábado, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o rebaixamento de nove países da zona do euro representará para a Europa um “longo caminho” a percorrer para recuoerar a confiança dos investidores.
Angela pediu que os países europeus apliquem “o quanto antes possível” o pacto previsto para fortalecer a disciplina fiscal. Ela acrescentou que os países da zona do euro devem estabelecer o mais rapidamente possível o chamado Mecanimo de Estabilidade Europeia, o fundo de resgate permanente. “Temos agora o desafio de implementar um acordo fiscal ainda mais rapidamente... e fazer isso de forma decidida, sem tentar atenuar a questão. Também trabalharemos particularmente para implementar o mecanismo de estabilidade permanente, o MEP, assim que possível. Isso é importante em relação à confiança do investidor”, disse a chanceler alemã durante uma reunião dos conservadores na cidade de Kiel, no norte da Alemanha.
A medida da S&P não foi uma surpresa, afirmou Angela Merkel. “É uma das três agências de classificação. Precisamos levar isso em conta. Não nos surpreendeu completamente, dadas as discussões das últimas semanas.”
Fonte: Jornal do Comércio RS