Após o acidente no terminal portuário de São Francisco do Sul, onde os funcionários Ismael de Oliveira Costa, 53 anos, e Álvaro José da Costa Júnior, 36, morreram ao ser atingidos por uma estrutura de ferro chamada popularmente de funil, estivadores e arrumadores de carga do porto criticaram a suposta falta de manutenção dos equipamentos usados nas atividades do terminal.
Conforme representantes dos sindicatos das categorias, o terminal já havia sido alertado para a necessidade de manutenção dos equipamentos.
Mesmo liberados, dezenas de funcionários continuaram nos arredores do porto comentando sobre a tragédia envolvendo os colegas.
— É muito comum que outros operários façam a limpeza da carga que cai quando é descarregada. Também não tinha caminhão pronto para o recebimento. Por muita sorte mais ninguém se feriu — comentou um trabalhador que viu o acidente.
Segundo colegas de trabalho, Ismael trabalhava há mais de duas décadas no porto e já estava providenciando a papelada para conseguir sua aposentadoria. Álvaro trabalhava há cerca de 15 anos no local e havia voltado de férias na última segunda-feira.
Tragédia no porto
O compartimento já estava cheio de soda em granel, com aproximadamente quatro toneladas, quando os quatro pilares de sustentação do reservatório quebraram, por volta das 9h. A parte de cima da estrutura desabou, despejando toda a carga usada para produtos de limpeza no chão.
Ismael, que trabalhava como arrumador de cargas operando o funil, acabou encoberto pelo pó de soda e morreu na hora. Como trabalhava na estiva, descarregando o navio, Álvaro voltava para a embarcação no momento do acidente.
Mas uma parte do funil também o prensou quando ele ainda subia as escadas do navio CS Caprice. Bombeiros e um médico do Samu, levado pelo helicóptero Águia da Polícia Militar até o terminal portuário, fizeram os primeiros procedimentos de socorro.
Álvaro chegou a ser levado de maca para uma ambulância, mas também não resistiu. O turno de trabalho deles havia começado duas horas antes do acidente e terminaria às 13h de ontem. Todas as atividades no terminal foram encerradas após a chegada das primeiras equipes de resgate.
O QUE DISSERAM
:: Os sindicalistas
Representantes dos sindicatos dos estivadores e dos arrumadores estivaram no terminal portuário momentos depois do acidente. As duas instituições afirmaram que já haviam alertado o terminal para a necessidade de manutenção dos equipamentos.
— É um caso de negligência. Alertamos várias vezes sobre os riscos de que algum acidente acontecesse com os equipamentos naquelas condições — critica o presidente do Sindicato dos Arrumadores de São Francisco do Sul, Claudionor Marcelino.
Segundo o sindicalista, os trabalhadores da categoria foram tomados por um clima de revolta após a tragédia. Na quarta-feira, o sindicato prometia suspender os trabalhos enquanto a segurança de outros funis em atividade no terminal não fosse verificada.
— Vamos pedir um laudo que ateste as condições de uso. É preciso que alguma empresa certifique que há segurança. Devemos esperar a conclusão das investigações antes de confirmar se há culpados ou se foi uma fatalidade — afirma o presidente do Sindicato dos Estivadores, Vander Luiz da Silva, diz que é cedo para apontar culpados.
:: Terminal Portuário Santa Catarina (TESC)
A assessoria do Terminal Portuário Santa Catarina (TESC), onde ocorreu o acidente, informou por nota que prestaria apoio aos familiares das vítimas e colaboraria com a investigação das causas da tragédia. Conforme a empresa, técnicos e engenheiros do terminal foram mobilizados para apurar todos os detalhes da operação.
Ainda segundo a empresa, operações de carga e descarga de produtos em granel ocorrem desde 2004 e fazem parte das atividades cotidianas do TESC. Os trabalhadores portuários, conforme divulgado em nota, são treinados e os equipamentos recebem manutenções "periódicas e necessárias para garantir a segurança dos procedimentos".
Desde que o terminal entrou em operação, segundo a assessoria do TESC, nenhum acidente com morte havia sido registrado.
AN