Julia Antunes | julia.antunes@diario.com.br
Pelo segundo ano consecutivo, os cerca de 400 mil alunos de ensino fundamental da rede estadual vão começar o ano letivo sem uniforme novo. Dessa vez, o governo alega que para aumentar o salário dos professores foi preciso cortar verba de outros investimentos da Secretaria de Educação (SED).
O secretário da Educação, Marco Tebaldi, explica que por causa da nova folha de pagamento, que terá aumento de R$ 600 milhões, foi preciso cortar verbas de alguns setores, como a dos uniformes, que custavam cerca de R$ 70 milhões.
De acordo com ele, as gerências regionais também tiveram corte no orçamento, por causa do reajuste salarial dos docentes. Em 2011, não houve uniformes porque a licitação para compra das roupas foi suspensa.
Em 2010 — último ano em que as roupas foram entregues — cada aluno de ensino fundamental recebeu um agasalho, uma camiseta de manga longa, dois pares de meias, um par de tênis, uma bermuda, duas camisetas de manga curta e um par de chinelos. Os uniformes já não eram entregues aos cerca de 210 mil estudantes de ensino médio.
A ideia é que eles voltem em 2013. Para isso, a secretaria vai rever a distribuição do material porque muitos alunos não usavam o uniforme.
Já os kits, com cadernos, mochila, lápis de cor, borrachas, cola, régua, transferidor e outros materiais, que não foram entregues em 2011, voltaram a ser distribuídos a todos os alunos da rede estadual.
Para a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinte), Alvete Bedin, o gasto com os uniformes sempre foi visto como exagerado pelos professores. De acordo com ela, muitos alunos não usavam a roupa porque achavam a malha ruim e muito quente.
Importantes para segurança dos alunos, os uniformes também ajudavam famílias sem condições financeiras. A costureira Leila da Costa Ramos, que mora em Blumenau, está preocupada como fará para comprar roupas para as duas filhas. A comerciante Janice Silva, que mora em Biguaçu, diz que já esperava por isso, porque no ano passado os dois filhos, de sete e nove anos, também ficaram sem uniforme. Além disso, ela lembra que, quando entregues, eles chegavam só na metade do ano, depois que ela já tinha comprado agasalho e camisetas por conta própria.
— Pesa muito no orçamento.
O educador Antônio Pazeto acredita que todo o dinheiro em educação deve ter uma prioridade: a aprendizagem. Para isso, é preciso professores motivados, bem preparados e boas condições de infraestrutura:
— Partindo disso, o uniforme não se enquadra porque é um acessório.
Pazeto considera a roupa importante, principalmente para atender famílias sem condições financeiras.
O presidente do Conselho Estadual de Educação, Maurício Pereira, afirma que o ideal seria ter o uniforme e o aumento do salário.
— Como isso não é possível, o importante é valorizar os professores e cumprir o piso nacional do magistério — ressalta.