Upiara Boschi | upiara.boschi@diario.com.brOs moradores da região central da pequena São João Batista, cidade de 26 mil habitantes localizada na Grande Florianópolis, se sentiram em Hollywood na madrugada deste sábado. "Cena de cinema" foi uma das expressões mais usadas para descrever a ação de 20 homens armados que, em menos de 10 minutos, tomaram uma região de quatro quarteirões, isolaram o posto da Polícia Militar, dinamitaram agências do Banco do Brasil e do Bradesco e roubaram o dinheiro de sete caixas eletrônicos.
O mecânico industrial Gilcimar Ribeiro estava acordado por volta das 3h30 da manhã de sábado, quando começou o ataque. Ele ouviu a freada de um dos quatro carros que faziam parte da operação e foi à janela. Ficou surpreso ao ver descerem os homens encapuzados e vestidos de preto, armados de fuzis e metralhadoras.
Ele conta que os homens foram se posicionando em pontos estratégicos para proteger a ação dos que explodiriam os caixas do Banco do Brasil. Um deles se colocou, fuzil na mão, na esquina da praça. Um carro ficou na esquina da rua de trás, onde se localiza o posto policial. O vigia do posto de gasolina que fica em frente à praça recebeu ordem de deixar o local. Os moradores que foram para janelas e sacadas conferir a movimentação também foram ameaçados. Alguns chegaram a filmar parte da ação.
— Quando as pessoas começaram a ir para as sacadas dos apartamentos, eles apontavam os fuzis com lanternas e mandavam entrar — conta Gilcimar.
Em seguida vieram as três explosões de dinamite — no Banco do Brasil e no Bradesco, localizado cerca de 100 metros adiante. Foi nessa hora que a maior parte dos moradores da região percebeu a operação criminosa.
— Eu acordei sem saber se aquilo era um trovão ou a explosão de um botijão de gás. A parede chegou a tremer. Fui até a janela, mas daqui não dava para ver nada. Só o pessoal do Cachorro Quente recolhendo tudo — lembra Jeferson James de Oliveira, que mora no mesmo local em que tem uma loja, ao lado do Banco do Brasil.
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A banca de cachorro quente a que ele se refere é mantida pela vizinho Laudomiro Poncio de Oliveira, o Zinho. Nas noites de sexta-feira e sábado, ele e a mulher Ana Zenilda atendem durante a madrugada. Zinho diz que ao ouvir o barulho da explosão, pensou que fosse um acidente de trânsito. Ao perceber que se tratava de um assalto ao banco vizinho, tratou de recolher o material e correr para casa.
— Não quis nem saber o que era, só subir pra casa — afirma Zinho, que garante que o episódio não vai impedir que o cachorro-quente funcione na madrugada deste domingo.
A mulher Ana Zenilda conta que ao chegarem em casa, também localizada ao lado da agência do Banco do Brasil, o resto da família (uma filha e três netas) já havia acordado com o barulho.
— Todo mundo tinha acordado com o barulho. O prédio tremeu. A gente deitou as crianças no chão — lembra.
Até mesmo no posto policial foi a primeira explosão que denunciou que algo diferente acontecia na noite de São João Batista. Segundo um dos policiais de plantão, ao ouvirem o primeiro estrondo vindo dos fundos do posto policial, ficou claro que era um ataque à agência bancária. Em seguida veio a ligação da Central de Operações da Polícia Militar (Copom) informando a explosão dos caixas eletrônicos denunciada pelos moradores. O Copom também alertou que os criminosos haviam colocado dois veículos de frente para a única saída do posto policial.
Dois policiais militares estavam de plantão em São João Batista na madrugada de sábado. Faltavam menos de cinco horas para o fim de seus turnos de 24 horas seguidas.