Além de frustrar os planos de quem esperava conseguir um emprego no fim do ano, a crise internacional também produziu impactos negativos nas contas externas do país, levando o Banco Central a admitir que os efeitos da incerteza econômica em 2012 serão piores do que o esperado. A instituição revisou a projeção para o rombo nas transações correntes com outros países de US$ 53 bilhões, esperados para este ano, para US$ 65 bilhões no ano que vem. A expectativa negativa também fez a autoridade monetária reduzir em US$ 15 bilhões, de US$ 65 bilhões para US$ 50 bilhões, a estimativa para o ingresso de investimentos estrangeiros (veja o quadro) e elevar em US$ 1,6 bilhão a aposta no volume de recursos que as filiais de empresas no Brasil remeterão ao exterior para suprir o caixa de suas matrizes.
Um dos principais canais de transmissão da crise em 2012, de acordo com o próprio BC, será a balança comercial, que sofrerá com um comércio mundial menos dinâmico. "2011 deve encerrar com alta de 29% nas exportações e nossa previsão para o ano que vem incorpora um avanço de apenas 4%. Será uma desaceleração considerável", ressaltou o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel. A dificuldade em vender os produtos brasileiros no exterior será combinada, segundo a instituição, com o crescimento mais acentuado das importações, reduzindo o saldo da conta comercial de US$ 28 bilhões para US$ 23 bilhões.
Em novembro, o rombo na conta-corrente brasileira foi de US$ 6,8 bilhões, maior valor mensal desde que o BC começou a fazer o levantamento, em 1947, totalizando US$ 45,8 bilhões no ano. No resultado do mês passado, o que mais pesou foi o envio de US$ 4,2 bilhões ao exterior em forma de lucros e dividendos. Embora tenha dito que a relação das remessas com a crise está menos evidente do que em 2008, o chefe do departamento econômico admitiu que parte do movimento se deve à necessidade de capitais pelas múltis. "É possível, mas não é tão claro como era em 2008. Não há um fluxo contínuo de recursos", ponderou.
Viagens
Para a economista Adriana Dupita, do Banco Santander, apesar de os números menores, o Brasil tem uma situação confortável em relação às contas externas. "De fato, a balança comercial não será das melhores. Mas, em relação ao financiamento (do rombo nas transações correntes), o país continuará bem. Todos os mercados estão recebendo menos dinheiro, inclusive a economia brasileira. Porém, a nossa dependência diminuiu", comentou.
Parte desse financiamento em novembro ingressou no país por meio do Investimento Estrangeiro Direto (IED), que totalizou
US$ 4 bilhões em novembro e somou US$ 60 bilhões no ano, valor recorde. A despeito da redução da estimativa para o ano que vem (US$ 50 bilhões), o BC não prevê dificuldades para cobrir o rombo nas contas externas em 2012. "O IED não se acomodou de forma significativa. Mesmo com a crise, e apesar da incerteza maior, o volume previsto ainda é expressivo", afirmou Maciel.
A crise também moderou os gastos dos brasileiros com viagens internacionais. Apesar de acumular um buraco de US$ 13,2 bilhões no ano, o deficit desacelerou nos últimos quatro meses e, em novembro, registrou US$ 977 milhões. Os dispêndios menores fizeram o BC reduzir a previsão para o rombo deste ano, de US$ 16 bilhões para US$ 14,3 bilhões. Em 2012, o deficit deve somar US$ 14,5 bilhões.
Fonte: Correio Braziliense