O corpo do policial rodoviário federal Leonardo Valgas Santos, 36 anos será velado durante a noite desta sexta-feira no Cemitério do Itacurubi, em Florianópolis. Às 8h será levado Balneário Camboriú, no Litoral Norte, onde será cremado. Valgas foi morto no Bairro Coqueiros, na região continental da Capital, na manhã desta sexta-feira, quando perseguia um Palio suspeito desde a Via Expressa.
De moto, Valgas perseguia o carro suspeito. Na Rua Desembargador Tavares da Cunha Mello, endereço de classe média, na chamada Via Gastronômica de Coqueiros, o carro parou e os bandidos fizeram menção de que se entregariam.
Em seguida, deram marcha à ré até bater na moto, e um deles atirou no policial, que morreu pouco depois. Um colega de Valgas, que também perseguia os suspeitos, não conseguiu acompanhá-lo na ação e chegou quando o policial já havia sido alvejado.
Durante todo o dia, mais de cem policiais de carro e helicóptero fizeram uma varredura na Grande Florianópolis. Até hotéis foram revistados. Uma rede de informação, formada pelo Ministério Público e setores de inteligência das polícias Civil, Militar e Federal localizou os bandidos. No final da tarde, 25 viaturas cercaram uma casa do Bairro Bela Vista, em São José. Dos cinco suspeitos que estavam no local, um conseguiu fugir. Três homens e um adolescente de 15 anos foram detidos e levados à Superintendência da PF.
Com o grupo preso em São José, foram encontradas quatro pistolas e muita dinamite. De acordo com informações preliminares da Polícia Rodoviária Federal (PRF), os bandidos fazem parte de uma quadrilha do Paraná, que também estaria envolvida em assaltos a caixas eletrônicos em Santa Catarina. Na casa, os policiais encontraram muito dinheiro, em notas de R$ 10, R$ 20 e R$ 50, típicos de equipamentos de autoatendimento. A polícia tem certeza da participação do bando no assalto ao Banco do Brasil de Ingleses, no Norte da Ilha de Santa Catarina, e em outro no loteamento Pedra Branca, em Palhoça.
Produtos que a polícia entende ser fruto de roubo — como televisores, aparelhos de som e outros objetos — também foram encontrados na casa onde os bandidos foram presos.
A mulher de um dos bandidos, que também estava na casa, foi levada para a Superintendência da PF. Ela teria apontado o autor dos disparos. Mas a polícia acredita que ela esteja protegendo o marido, que tem características mais próximas às do homem que aparece atirando no vídeo.
PRF diz que abordagem foi correta
Os instantes finais da perseguição em Coqueiros mostram o policial sozinho com a motocicleta da PRF atrás do Palio. Na avaliação do superintendente da PRF em SC, inspetor Silvinei Vasques, o procedimento de Vasques foi correto.
— Eles (dois policiais motociclistas) trabalhavam na Via Expressa, receberam denúncia de um veículo, mas, na perseguição, uma das motos não conseguiu acompanhar. Tanto que o outro chegou em seguida — disse Vasques.
O superintendente observou que Valgas teve cautela, parou a moto e ainda tentou se abrigar ao ser atingido pelo carro. Vasques disse que o policial que acompanhava Valgas informou da perseguição e pediu ajuda pelo rádio.
A forma como o policial agiu foi o assunto entre os policiais que participavam das buscas. Alguns exaltavam a coragem do agente em perseguir sozinho os bandidos. Outros acreditavam que o desfecho poderia ter sido outro se a PM tivesse sido mobilizada a tempo em Coqueiros e se o posto da PM — em reforma há mais de dois meses, estivesse ativado. O balconista de farmácia viu o assassinato, o aposentado flagrou a fuga e a recepcionista da clínica veterinária escutou os estampidos a poucos metros do local do crime.
Os três foram os primeiros a terem contato com o agente da Polícia Rodoviária Federal Leonardo Valgas Santos, de 36 anos, após ele ser baleado e morrer na rua Desembargador Tavares da Cunha Mello, no Bairro Coqueiros, região continental de Florianópolis.
As três testemunhas pediram para manter o nome em sigilo. Quando o Fiat Palio preto dos bandidos e a moto saíram da Avenida Desembargador Pedro Silva e entraram em alta velocidade na Cunha Mello, o balconista correu para a esquina e acompanhou o desfecho.
— Eu vi quando eles pararam o carro e deram ré para cima da moto. O policial se encostou no muro e se encolheu. Mesmo assim os caras continuaram atirando. O homem ainda ficou em pé, andou alguns passos e caiu desacordado de bruços.
Os disparos ocorreram em frente a uma clínica veterinária. Havia 15 funcionários no local no momento dos disparos. Ao ouvirem gritos e os estampidos, pensaram em correr para a rua. Mas, antes de atravessaram a porta, temeram pela própria segurança e ficaram dentro do imóvel.
— Esperamos um pouco. Quando veio o silêncio, subimos na sacada para averiguar. Então, saímos e encontramos o policial caído - descreveu a recepcionista.
Além de recepcionista, a jovem também estuda para ser técnica de enfermagem. Ao abordar o policial, percebeu que Leonardo apresentava sinais vitais fracos. Alguns minutos depois, o coração da vítima parou.
— Tentamos reanimá-lo com massagem cardíaca. Mas ele já estava muito mal — lamentou a jovem.
— Tirei o capacete dele e a arma da cintura e tentei falar com ele. Mas em nenhum momento ele respondeu. Percebi que ele estava se engasgando - descreveu o balconista.
O aposentado, vizinho da clínica, viu apenas o carro dando a ré para atingir a moto, mas testemunhou o blefe dos criminosos para surpreender o policial.
— Eles colocaram os braços para fora, fazendo sinal que iriam se entregar. De repente, engataram a ré e foram em alta velocidade contra a moto.