Rio - Corria o ano da graça de 1985 – bota tempo nisso – e eu era professor de Jornalismo Impresso da Faculdade da Cidade, hoje UniverCidade. No teste final, decidi colocar à prova os conhecimentos dos alunos. Pedi que escrevessem uma suposta matéria, curta, variando, obrigatoriamente, as famosas cinco perguntas do lead. Foi quando percebi que uma de minhas alunas – com a maior pinta de riquinha – não se fez presente, sem uma explicação. Cordato e afável, lhe dei uma segunda chance e, de propósito, não mudei o tema do teste. A lourinha de saia curta voltou a faltar. Como já desconfiava da capacidade dela estudar, parti para a terceira chamada com as mesmíssimas questões. Dessa vez ela foi e tirou, digamos assim, nota zero com louvor e ficou para segunda época.
A lourinha ficou rigorosamente uma arara.
Foi até a sala dos professores e me interrogou de maneira irônica:
- O senhor me reprovou?
- Reprovei, respondi.
- Pois fique sabendo que meu pai é amigo de donos de jornais e meu lugar está mais do que garantido com eles...
- Tomara que esteja – repliquei meio irritado. Mas torça para que eu não esteja mais aqui. Enquanto estiver, você não passa. Vai ficar mofando onde está...
Como deixei a Faculdade da Cidade, não sei o destino dela. Mas duvido que tenha conseguido passar de ano de tão pouco interessada nos estudos.
Contei essa historinha, rigorosamente verídica, para discordar, frontalmente, da obrigatoriedade do diploma de jornalista. As únicas entidades que ganham dinheiro no ensino do jornalismo – e a consequente obtenção do diploma – são as faculdades, que se multiplicam dia a dia, cobrando mensalidades altas e pouco se importando com o ensino dos alunos. E digo isso porque também trabalhei na UniCarioca e lá foi a mesma coisa. Uma de minhas alunas faltou a uma prova porque – segundo ela – tinha um jantar importante com o marido. E ainda foi se queixar de mim na diretoria.
Compreendo a luta dos sindicatos. Os verdadeiros periodistas não querem que os jornais saiam contratando à vontade, desde que os contratados estejam afinados com a linha política do jornal – ou, pelo menos, apadrinhados. Mas insisto: quem ganha com essa luta dos sindicatos são apenas as supostas faculdades – não necessariamente as citadas por mim nessa matéria. Mas há outras, muitas outras. E o dinheiro rolando...
Tenho a impressão de que se trata de uma luta inglória: os sindicatos têm boas intenções, claro, mas as faculdades estimulam suas lutas porque não beneficiadas. Pior: hoje em dia, a carteira assinada (do meu tempo) foi para o espaço sideral. Os jornais só contratam jornalistas que se transformem em pessoas jurídicas. Não dão férias, décimo-terceiro, FGTS e muito menos indenizações na hora de despedir cada um de seus funcionários. É por isso que tenho saudades do Jornal do Brasil, do velho O Globo, de O Dia, da Tribuna da Imprensa, da Editora Bloch e das rádios nas quais trabalhei – Nacional, Tupi e Globo. Nunca me deveram nada. Não posso falar o mesmo do Jornal dos Sports, que ainda me deve dinheiro mesmo sendo condenado na Justiça do Trabalho (ou seria Injustiça do Trabalho?).
Com a palavra o Sr. Carlos Lupi, Ministro do Trabalho que vive fazendo fanfarronices na televisão às custas do PDT.