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Artigo: De onde vieram, afinal, os imigrantes?

Segunda, 26 de setembro de 2011

N.R.: A pedido do Evolução, o colunista Henrique Fendrich, jornalista são-bentense que reside em Brasília/DF, escreveu um artigo falando de aspectos históricos do município. Henrique começou a se destacar no jornal quando, na Copa do Mundo de 2010, deu nova luz a alguns fatos, principalmente os relacionados ao eterno entendimento - defendido por unhas e dentes por alguns - de que em São Bento do Sul a maioria tem "descendência alemã". Segue o texto, que faz uma síntese da história local até o ano de 1900.

 

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Todos esses povos europeus conviviam em São Bento com o elemento nacional, que em pouco tempo já estava presente em grande quantidade na região (Foto Arquivo Histórico-SBS/Divulgação)
 

Boa parte deles tinha como origem a Boêmia, que na época pertencia à Áustria e atualmente está localizada na República Tcheca

 

- - Por Henrique Fendrich - -

 

Nos séculos XVIII e XIX (18 e 19), a região de São Bento do Sul era frequentada regularmente por grupos indígenas da etnia Xokleng, também conhecidos como botocudos ou bugres. Os Xokleng eram nômades que viviam da caça e da coleta, principalmente de pinhões. Como não praticavam nenhuma agricultura, precisavam estar sempre se locomovendo. Nessas excursões, os Xokleng também transitavam pelo atual território de São Bento.

Até então, nenhuma espécie de colonização havia sido feita na região. É muito provável que os primeiros europeus a pisarem nessa terra tenham sido os membros da expedição liderada por Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, em 1541. Cabeza de Vaca era o capitão geral de todo o território espanhol na América do Sul. Naquele ano, partiu da Ilha de Santa Catarina com destino à atual cidade de Assunção, onde chegaria no ano seguinte. No trajeto, feito a pé e a cavalo por 250 homens, a expedição teria passado por São Bento e região.

Mas, até a segunda metade do século XIX, essa área permaneceu desabitada, dando margem a futuros conflitos entre Paraná e Santa Catarina sobre a sua posse. Na década de 1850, quando já havia sido criado um núcleo colonial em Joinville, começaram a ser feitas expedições para verificar a possibilidade de criar uma colônia também no planalto. Já em 1855, essas expedições davam conta de um rio conhecido como "São Bento".

 

ALGUNS POUCOS BRASILEIROS

Na época, além dos bugres, apenas alguns poucos brasileiros passavam pela região em meio às suas atividades com o mate. Em 1865, no entanto, um número considerável de paranaenses já habitava a região de Campo Alegre. Três anos depois, as terras do vale do Rio São Bento foram demarcadas pela província do Paraná, possivelmente para instalar uma colônia inglesa. Enquanto isso, mais imigrantes chegavam a Joinville e aumentavam a necessidade de expandir a colônia para essas mesmas terras.

Depois de tentar, sem sucesso, a criação de uma colônia na localidade São Miguel, em Campo Alegre, que possuía terras inférteis, a direção da Colônia Dona Francisca, como era chamada, iniciou efetivamente em 1873 os preparativos para receber imigrantes nas terras que viriam a ser São Bento. Na ocasião, o Paraná já havia vendido terrenos nas áreas contestadas. Os brasileiros que habitavam esses terrenos se recusavam a sair, uma vez que se consideravam os legítimos proprietários.

Apesar disso, lotes foram demarcados e em setembro de 1873 partiram de Joinville setenta chefes de família para iniciar no planalto a nova colônia. Num sistema de cooperação mútua, derrubaram as matas, iniciaram suas casas e prepararam as primeiras roças. Para se sustentar, arrumaram emprego na construção da Estrada Dona Francisca. Aos poucos, foram trazendo as esposas e crianças para os seus lotes e neles se instalando. A colônia havia sido criada e a cada ano recebia mais imigrantes, sendo necessário que novos caminhos e picadas fossem abertos.

 

ESCRAVOS EM SUAS FAZENDAS

Boa parte deles tinha como origem a Boêmia, que na época pertencia à Áustria e atualmente está localizada na República Tcheca. O primeiro grupo de boêmios veio da região próxima à fronteira com a Bavária, na Alemanha. Em 1876, o imigrante Franz Rohrbacher retornou à Boêmia e convenceu imigrantes da região norte, mais próxima da Saxônia, a também imigrar para São Bento. Mas também foram vários os prussianos, pomeranos, saxões e silesianos que passaram a morar na cidade. A eles se somava uma quantidade considerável de poloneses, que vieram da Galícia e de outras regiões. Em sua grande maioria, eram pessoas que viviam pessimamente na Europa, com pouca ou nenhuma possibilidade de mobilidade social.

Todos esses povos europeus conviviam em São Bento com o elemento nacional, que em pouco tempo já estava presente em grande quantidade na região. Se a cidade de Campo Alegre, que na época pertencia a São Bento, for levada em conta, os brasileiros eram inclusive maioria. Vinham eles da Lapa e de São José dos Pinhais, descendendo das primeiras famílias curitibanas e paulistas, até chegar aos seus ancestrais espanhóis e portugueses. Alguns desses brasileiros vinham de famílias tradicionais e chegaram a ter escravos em suas fazendas. Um pouco mais tarde, também chegariam à região diversas famílias de São Francisco do Sul, com origem açoriana.

 

ELEMENTOS SOCIALISTAS

Apesar dos frequentes conflitos de terra causados pelos desentendimentos entre as províncias de Santa Catarina e do Paraná, que se estenderam por muitos anos, imigrantes e brasileiros também realizaram atividades de cooperação e intercâmbio. Os brasileiros ofereciam produtos naturais, peles, fumo, mato, gado e cavalos. Em troca, recebiam produtos manufaturados. A derrubada das matas, a preparação das roças e a própria subida da serra até São Bento também foram feitas com a ajuda de brasileiros.

A instalação da Colônia de São Bento, no entanto, não garantiu que os imigrantes fossem atendidos em necessidades fundamentais. Vários foram os protestos exigindo a construção de uma igreja, uma escola, um hospital, a remoção de intrusos e salários maiores na construção da Estrada Dona Francisca. No auge da indignação, houve imigrantes pedindo à direção da Colônia que fossem reenviados à Europa. Com o tempo, melhorias foram sendo feitas, ainda que de forma improvisada. Em 1876 já havia uma pequena capela católica, o médico Philipp Maria Wolff preparava a sua vinda e os próprios imigrantes conseguiram por si só improvisar uma escola. Isso não impediu grandes conflitos e ameaças quando os trabalhos na Estrada Dona Francisca foram interrompidos no ano seguinte. Segundo a direção da Colônia, havia elementos socialistas promovendo a desordem pública em meio aos imigrantes de São Bento. Chegou-se inclusive a fazer um abaixo assinado para que a colônia fosse incorporada ao Paraná.

 

NÚCLEO CENTRAL DA COLÔNIA

Também em 1876, São Bento foi elevada à categoria de Distrito Policial, nomeando para isso delegados e subdelegados paranaenses, que inclusive moravam afastados do núcleo central da colônia. No ano seguinte, chegaria a Joinville a primeira carroça carregada com erva mate, representando fator decisivo para o desenvolvimento de São Bento. Em 1878, foi criado o Distrito de Paz de São Bento. Persistiam ainda as disputas por terras com os paranaenses.

Além da erva mate, no começo da década seguinte a madeira serrada começou a ser utilizada como fonte de riquezas para São Bento, graças às áreas ricas em pinheirais na região. A madeira extraída era transportada, assim como a erva e outros produtos, em carroças coloniais até Joinville. A lavoura e a pecuária prosperavam e começavam a aparecer as primeiras casas feitas de material, além de casas comerciais e indústrias variadas. São Bento já apresentava o aspecto de vila. O crescimento econômico também favoreceu novas rivalidades com o Paraná, agora por conta de postos fiscais. Ocasionalmente, ainda aconteciam também conflitos com os bugres, que continuavam andando pelas redondezas.

Em 21 de maio de 1883, São Bento foi efetivamente elevada à categoria de vila, emancipando-se de Joinville. A primeira eleição para vereadores aconteceu naquele mesmo ano, elegendo principalmente brasileiros, que tomaram posse no ano seguinte. O paranaense Francisco Bueno Franco, morador de Campo Alegre, foi o primeiro presidente da Câmara de Vereadores, o que lhe valeu ser reconhecido como o primeiro prefeito de São Bento. As eleições seguintes trouxeram muita confusão à cidade por conta das tentativas de fraudes, causando até mesmo a anulação de pleitos.

Em meio às agitações que precediam a proclamação da República, um grupo de cidadãos lançou em São Bento um manifesto republicano. A maior parte dos imigrantes, no entanto, permanecia favorável à monarquia. Em 1888, foram libertos os escravos, que eram mantidos por alguns brasileiros de destaque na vida pública de São Bento. No início do ano seguinte, tomou posse em São Bento uma Câmara de Vereadores totalmente republicana.

 

OS ÂNIMOS SE ACALMARAM NA VIRADA DO SÉCULO

A proclamação da República trouxe importantes mudanças administrativas para São Bento, mas não livrou a cidade de diversas confusões políticas, chegando ao ponto de ter duas Câmaras de Vereadores simultâneas, uma eleita e outra nomeada por uma Junta Governativa em Santa Catarina. São Bento também sentiria efeitos da Revolução Federalista em 1893, tendo inclusive formado uma rudimentar força para defender a cidade contra saques e pilhagens. Na passagem de tropas revolucionárias pela cidade, vários moradores tiveram seus cavalos requisitados. Houve são-bentenses envolvidos nos dois lados do confronto. As mágoas entre as partes se estenderem por anos após o conflito, afetando inclusive as eleições municipais. Muitos confrontos políticos, inclusive assassinatos, perturbariam o sossego da cidade nos anos seguintes, a ponto de fazer com que os 25 anos da cidade, em 1898, fossem praticamente esquecidos. Apenas na virada do século os ânimos se acalmaram na região.

Aos poucos, a lavoura e a pecuária foram substituídas pelo artesanato e pela pequena indústria caseira, e depois das indústrias racionalizadas e do comércio. As vias de comunicação agora contavam com intenso trânsito, com grande movimento de comércio e vulto de produção, exportação e importação. São Bento vivia dias melhores e, passadas as dificuldades e carências iniciais, começava a vivenciar o futuro melhor que tanto imigrantes como brasileiros aspiravam quando começaram a ocupar a região. 



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