Aos olhos dos mais novos, parece mágica. Sem que nenhum cabo leve o aparelho à energia elétrica, um giro de manivela e um simples toque faz o prato girar. E não é só isso. Quando uma pequena agulha encosta na superfície da peça em movimento, vozes parecem fazer os ouvintes se transportarem para outra época.
Ninguém se importa com o chiado que compete com a melodia. Ele é até charmoso. Não é sempre que se tem a oportunidade de ouvir o som produzido por um gramofone, que exige todo um ritual, tanto na manipulação dos bolachões, quanto em sua mecânica.
No Museu Histórico Municipal Dr. Felippe Maria Wolff, de São Bento do Sul, ele não só está exposto, como também pode ser visto funcionando, desde que foi gentilmente restaurado por um relojoeiro da cidade.
Nesta sexta-feira que o museu completa 40 anos, assim como São Bento também festeja mais um aniversário, acontece uma noite especial, embalada pelo gramofone da marca Brunswick. Às 20 horas, o espaço dá uma volta ao tempo de carona com Elvis Presley, Lale Andersen (que com "Lili Marleen" fez sucesso entre os soldados na Segunda Guerra Mundial), além de Waldir Azevedo e Pixinguinha e outros clássicos em 78 rotações. Quem quiser também pode levar seus discos prediletos.
O gramofone da década de 1940 pertencia a Arlindo Wendt e foi doado ao Museu Municipal logo após a inauguração. Em agosto, o aparelho voltou à ativa depois de passar pelas mãos do relojoeiro Hans Ulrich Walde.
Segundo o diretor do museu, o historiador Carlos Campestrini, a intenção é de que todo o acervo musical seja restaurado, fazendo jus ao título são-bentense de cidade da música. O horário de atendimento estendido na semana comemorativa às quatro décadas de fundação também é uma novidade.
O único museu público de São Bento do Sul normalmente fecha as portas às 17h30, de terça a domingo. Mas até o fim desta semana, terá atendimento especial das 18h30 às 21h30.
— É uma forma de quem trabalha durante o dia e as turmas noturnas das escolas também poderem vir conhecer o museu — justifica o diretor.
O QUÊ: comemoração dos 40 anos do Museu Histórico Municipal Dr. Felippe Maria Wolff, com a Noite do Gramofone.
QUANDO: sexta-feira, às 20 horas.
ONDE: avenida Argolo, 245, Centro de São Bento do Sul.
QUANTO: entrada gratuita.
Adriano Westphal costuma tocar o piano diariamente antes da abertura à visitação
Logo nas primeiras salas do Museu Histórico Municipal Dr. Felippe Maria Wolff, o destaque são os instrumentos musicais. A história das cítaras no município ocupam parte importante do acervo, com fotos e registros do conjunto tradicional fundado pelo Otmar Schmitt.
É na sala musical que um piano de armário doado pela Escola de Música Donald Ritzmann ganha vida todos os dias. O funcionário do museu Adriano Westphal é quem faz uso das teclas amareladas.
— Toco um pouco quase todos os dias, antes do museu abrir — afirma.
Outros modelos de aparelhos de som antigos estão expostos e aos poucos poderão ser manuseados, assim que restaurados. Partituras de canções alemãs também fazem parte do acervo, que, de acordo com os planos do atual diretor, devem ser transferidos para um futuro Museu da Música.
— É o meu sonho fazer um espaço só para contar a história da música no município — diz Carlos.
Réplicas de produtos da fábrica de chocolate Buschle estão em exposição
Quase todos hábitos e costumes dos primeiros moradores de São Bento do Sul estão registrados no museu municipal. Desde uma cruz de ferro trazida da Alemanha, até um dos primeiros modelos de computadores podem ser vistos gratuitamente.
O espaço recebe quase que mensalmente doações de moradores e constantemente acrescenta novas peças à exposição. Só que o que mais chama a atenção, principalmente dos jovens são-bentenses, não se trata de nenhum objeto valioso.
Quem nunca ouviu falar da fábrica de chocolates Buschle, fundada em 1911 e fechada em 1992, pode pelo menos ter uma ideia de como eram os formatos e embalagens dos saborosos exemplares da fábrica que por quase nove décadas espalhava um aroma doce pela rua Jorge Lacerda.
Uma mala usada como mostruário das delícias está em exposição no museu, com embalagens e réplicas dos chocolates, em gesso. Hoje, o prédio da antiga fábrica é tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado.
— Tem pessoas que vêm aqui e sentem saudade do sabor dos chocolates — lembra o diretor.
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