Neste cenário de desespero, surgiram os "heróis". Nomeamos assim todos aqueles que vieram ao Rio Grande do Sul trazendo comida, água e recursos. A ajuda se tornou um símbolo de salvação. A tragédia transformou nosso estado no lugar mais fotografado do país, com todos buscando seu momento de heroísmo. Se o preço dessa ajuda é uma foto ou um vídeo, estamos dispostos a pagar. Ainda hoje, novos heróis chegam, atraídos pela visibilidade dos primeiros.
Mas é essencial reconhecer que os verdadeiros heróis foram as pessoas comuns, aquelas que fizeram doações, pisaram nas águas e salvaram vidas. Hoje, ainda tento trabalhar, mas me sinto envergonhada e culpada ao pensar em como ensinamos as pessoas a pagar impostos em um país que não prioriza suas necessidades básicas, de humanidade e MÍNIMA dignidade.
Vejo esforços para manter a aparência em prédios públicos enquanto faltam necessidades básicas como água potável e energia elétrica. Algumas autoridades escondem doações para se promoverem como salvadores. Apesar disso, há prefeitos que demonstraram verdadeira liderança.
Hoje, sinto-me privilegiada por estar viva e que os “meus”estão vivos. Mas também estou triste pelos que se foram e grata às pessoas que ajudaram sem saber a quem estavam ajudando. A catástrofe desenvolveu em mim um tipo de pânico que me faz repensar minhas escolhas e desejos futuros.
Rezo para que "depois disso" chegue logo. Continuo acreditando no que sempre defendi: não desejo deixar o Brasil, mas anseio por um Brasil diferente. Parece que essa tragédia despertou um gigante adormecido – o povo brasileiro que não desiste nunca.