Certa vez, ouvi uma piada que falava de um sujeito, pai muito honesto e zeloso para com sua família, e que, por medida de segurança e precaução, tinha um estranho hábito: sempre que saía para trabalhar, retirava o aparelho de televisão da sua sala de estar e, em seguida, punha o mesmo objeto dentro do armário do seu quarto de dormir. O "distinto" aparelho ainda era todo envolvido por grossas correntes e, ao final, trancado a cadeado. Último detalhe: o digníssimo e cuidadoso senhor levava consigo as chaves que dariam livre acesso ao objeto midiático. Confesso que quando ouvi tal estória pela primeiríssima vez achei tudo muito estranho e bizarro. Hoje, já com alguns anos passados por entre os vãos dos meus dedos, e também já pai, e diante de tantos desdobramentos vindos da publicidade e da propaganda em seus múltiplos veículos, percebo que a estória tem um gigantesco quê de razão! É fato: a televisão colabora com a construção do conceito de "educação informal" que, no que diz respeito ao rigor do termo educação, pouco, mesmo nada, ela contribui para a formação dos sujeitos tidos na função de espectadores, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos. A mídia televisiva opera no psiquismo, e deixa profundas e eternas marcas na subjetividade humana sem que efetivamente se consiga perceber que isso está se dando. Aqui reside seu perigo maior! Ela molda ações e inúmeros comportamentos - danosos em sua esmagadora maioria! Há relatos de que as crianças brasileiras ficam em média 4,50 horas diárias à frente desse veículo de massa - o que registra uma das médias mais altas do mundo. Tanto é que já tramita na Câmara dos Deputados do Paraná o Projeto de Lei 5.921/2001 para regular a publicidade para a venda de produtos infantis. A programação televisiva expõe crianças ao risco. O conteúdo das programações do diversos canais - na sua maioria impróprio a esse público - vem colaborando para o consumismo infantil, a erotização precoce, obesidade infantil, consumo antecipado de álcool e de tabaco, produção de violência e diminuição das brincadeiras infantis. Há de se ter um cuidado para com o uso do aparelho televisivo. Os pais tem de acompanhar e avaliar de maneira pormenorizada aquilo que crianças e adolescentes (seus filhos) estão assistindo na atualidade, sobretudo em faixas específicas de horários. Deixar uma criança, e também toda a família, expostas por horas a fio à frente de uma televisão, na atualidade, significa dizer que ambos estarão sendo afetados de maneira nociva no mais íntimo do seu desenvolvimento psicossocial. (Fonte: Jornal do Conselho Federal de Psicologia - julho/2011)
Robson Mello
Psicólogo e psicanalista
São Bento do Sul/SC