Joinville - O teatro Juarez Machado serviu como palco para a abertura do II Seminário
de Direito Administrativo Municipal na tarde desta quarta-feira (24/8). O
evento, promovido pelo Instituto de Previdência Social dos Servidores
Públicos do Município de Joinville (Ipreville) e a Procuradoria Geral do
Município, tem o propósito de valorizar os servidores públicos municipais
oportunizando uma reciclagem dos assuntos correlacionados à área pública.
A cerimônia teve a presença do prefeito Carlito Merss, da presidente do
Ipreville, Malvina Locks, do Procurador-Geral do Município, Naim de
Andrade Tannus, secretários municipais e um público estimado em 350
pessoas. “Sejam bem-vindos ao debate, pois vivemos de sonhos, mas também
cercados de legislações, sendo fundamental saber o que nos norteia”,
destacou Malvina Locks.
O discurso do prefeito mesclou exemplos de vícios históricos que ocorrem
na administração pública, a crescente demanda para o ingresso no serviço
público e a importância da qualificação profissional. Segundo ele, é
preciso ter o entendimento que a visão republicana precisa prosperar. "É
um processo difícil, pois a construção do nosso país é baseada em fatos
históricos com frases que a comunidade se acostumou a ouvir e reproduzir,
como ´Você sabe com quem está falando? Você sabe de quem eu sou parente?´
Isto é uma praga que nós gradativamente temos que exterminar", disse.
Na oportunidade, também mencionou a criação de mecanismos transparentes
como o Portal da Transparência - que dá acesso a todo cidadão a qualquer
movimento da Prefeitura - e a decisão de governo no investimento à
capacitação profissional em todas as áreas e secretarias. Neste sentido,
foi complementado pelo procurador Naim Tannus. "Há uma mudança até
cultural dentro da administração com este tipo de evento. A Prefeitura tem
quadros valorosos, isto se prova por termos palestrantes que são ´prata da
casa´, pessoas que têm condições de dar treinamento, dar orientação.
Devemos estar orgulhosos desta iniciativa louvável do Ipreville", frisou.
A palestra inaugural foi com Affonso Ghizzo Neto, um dos promotores
públicos mais combativos quando o tema é corrupção. Ele propôs uma
reflexão sobre os diversos vieses que moldam o referido tema, ora numa
perspectiva associada ao contexto político-partidário, bem como nas ações
diárias do ser humano. "A raiz da corrupção está na própria sociedade.
Ajudamos a reproduzir muitas irregularidades, sempre foi assim. As pessoas
ficam revoltadas quando veem um político roubando milhões, mas gostam de
furar filas, lucrar com um troco errado num restaurante, desrespeitar
regras. O que muda? O ato é o mesmo, a diferença é a quantidade e a
oportunidade", frisou.
Durante uma hora, o promotor de justiça deu uma aula sintetizada do
histórico da corrupção desde a época da colonização e os impactos na
sociedade, ressaltando principalmente o fator da cultura patrimonialista
que privilegia a relação familiar e de amizade em detrimento da sociedade,
bem como o interesse pessoal na frente do coletivo. "Não existe salvador
da pátria, não existe instituição que vá nos salvar, mas enquanto
sociedade podemos mudar este processo. Há solução quando tivermos em mente
três responsabilidades: a individual, coletiva/social e a de agir
consciente. Acredito de coração que podemos fazer a diferença", finalizou.
O promotor lançou neste ano o livro "Corrupção, Estado Democrático de
Direito e Educação", que analisa o papel da sociedade brasileira em
relação ao tema desde a colonização. A publicação é com base na tese de
mestrado defendida na Universidade Federal de Santa Catarina. Ghizzo Neto
também é idealizador do projeto "O que você tem a ver com a corrupção?",
criado em 2004.