Um dia após receber o título de "Cidadão Rio-Negrinhense", o prefeito de São Bento do Sul deu esta entrevista ao Evolução, falando da própria honraria e da Semana do Meio Ambiente, por exemplo. Magno também contou por que anda visivelmente otimista nos últimos tempos, embora considere "lamentável" o fato de Flávio Schuhmacher não estar mais atuando na prefeitura. Outro assunto respondido pelo prefeito foi a possibilidade de candidatar-se à reeleição no ano que vem.
EVOLUÇÃO - O prefeito de São Bento do Sul, Magno Bollmann (PP), mais uma vez recebe o jornal Evolução em seu gabinete. Como é amanhecer com o título de "Cidadão Rio-Negrinhense", com o agravante - se é que assim podemos dizer - de ter sido uma homenagem oferecida por um vereador do PMDB?
MAGNO BOLLMANN - Pois é... Eu realmente fiquei muito impressionado. Há um ano, vimos que talvez seria um "desafio negativo", mas acabou se transformando em algo diferente, positivo e de alto valor agregado na questão do relacionamento, do entendimento. Acabamos fazendo uma profunda reflexão sobre o que são os princípios básicos do Consórcio Quiriri. Há um ano, quando o vereador Denilson (da Cruz), do PMDB, nos procurou para que fôssemos a Rio Negrinho fazer uma explanação sobre o que faríamos pela despoluição do rio Banhados, chegamos lá e não sabíamos o que aconteceria. Inclusive o Geraldo (Weihermann, presidente) do Samae foi junto. Acabaram nos mostrando um vídeo sobre a poluição do rio Banhados e uma condição melhor do rio Negrinho, que é o rio deles. Aceitamos aquilo com a maior naturalidade, sabendo que, devido ao rio Banhados passar por um dos bairros mais populosos de São Bento - Serra Alta -, haveria um índice maior de poluição. Vendo aquilo, tivemos uma breve conversa sobre o que eles nos apresentaram. Naquele momento eu entendi a importância de um dos fundamentos do consórcio, que é justamente respeitar as divisas naturais, que são os rios, e não respeitar as divisas político-administrativas impostas pelo homem. Percebi que o vereador Denilson entendeu isso.
EVOLUÇÃO - Ele captou a mensagem?!
MAGNO BOLLMANN - Captou a mensagem que o consórcio vem pregando há mais de quinze anos. Isso me deu um sentimento muito forte. Outra coisa importante que pude observar nele é o seguinte: ele se desvestiu da roupagem político-partidária. Vi uma grandeza no Denilson. Eu disse a ele: "Daqui a pouco, vamos melhorar muito todas essas ações que estamos implementando e que já havíamos implementado em São Bento do Sul. Dentro de um ano voltamos a conversar". E foi o que aconteceu. Depois de um ano, chamamos aqui o Denilson - e toda a sua equipe - e verificamos todas as ações em desenvolvimento. O Denilson disse: "Eu não imaginava que vocês estavam tão adiantados nessa questão, no cuidado com o rio que também abastece o nosso município". Até então ele nem havia falado em nenhuma ação de honraria. Passados alguns dias, ele ligou para a minha secretária, dizendo: "Margareth (Bayerl Keiser), você me arruma um currículo do Magno?". Logo em seguida soube que ele iria submeter esse processo de "Cidadão Rio-Negrinhense" à Câmara de Vereadores. Foi o que ele fez - e todos os vereadores adotaram a ideia. O que me surpreendeu foi a unanimidade do povo de Rio Negrinho. Sempre digo que tenho adversários, mas não inimigos na política. A política partidária é fundamental. Se não houverem partidos, não tem democracia - apesar da proliferação de partidos. Ontem (terça-feira), em Rio Negrinho, os pronunciamentos dos vereadores me comoveram muito. Realmente me deu um nó na garganta. Houve também uma excelente presença de São Bento do Sul. Uma coisa para a qual inclusive minha mulher (Ana Maria Cubas Bollmann) chamou a atenção: a presença de populares durante a cerimônia. Eu falei mais ou menos o seguinte: o político tem que jogar no futuro. Um prefeito, um vereador, não pode ser imediatista nas suas ações para angariar votos. Estamos com o consórcio há mais de quinze anos. Hoje estamos colhendo os frutos. Veja quanto tempo leva! Por exemplo: quem não planta uma árvore não pensa no amanhã. Tem uma nova geração que vem aí! O que queremos? Algo pior do que temos hoje ou algo melhor?
EVOLUÇÃO - Aproveitando o gancho, prefeito, vem aí a Semana do Meio Ambiente, com uma série de atividades em São Bento do Sul - inclusive duas mais voltadas à questão artística, o concurso fotográfico e o concurso de desenhos retratando a APA (Área de Preservação Ambiental) Rio Vermelho/Humbold. É uma forma de valorizar não só a população, mas também o meio ambiente são-bentense?
MAGNO BOLLMANN - Foi uma excelente ideia - partiu do Marcelo (Hübel, diretor de Meio Ambiente) - valorizar a nossa natureza, a Área de Preservação Ambiental, que foi também criada pelo consórcio. São cerca de quatrocentas e cinquenta fotos (participantes do concurso, cujo resultado será divulgado segunda-feira próxima). Dessas vão ser escolhidas as melhores, que farão parte de um documento que vai evidenciar toda a natureza da APA Rio Vermelho/Humbold, que tem vinte e três mil hectares. Também tem a questão do Plano de Manejo, que determina onde preservar, onde recuperar e onde podem ser feitos o uso e a ocupação - sem negar o direito à origem dos nativos, que vivem lá há mais de cem anos. Eles devem ser respeitados e também usar racionalmente tudo que a natureza oferece. Esse é o grande foco! Queremos valorizar os moradores locais, até para que eles sejam fiscalizadores da natureza.
EVOLUÇÃO - Prefeito, o senhor anda otimista ultimamente. Por quê?
MAGNO BOLLMANN - Passamos um período meio difícil no primeiro ano de mandato. Eu nunca perdi essa garra e esse otimismo - que agora estão mais fortes. As coisas que planejamos estão acontecendo. Esse é o lado positivo da coisa. O povo está vendo que o resultado está promissor. Havia uma época em que não havia esperança nenhuma. Hoje os empregos estão sobrando. Quando assumimos, não havia nem emprego em São Bento do Sul. Depois, algumas empresas se instalaram. Os fatos mais importantes que buscamos foram justamente o emprego, a Saúde, a Educação - como as creches, por exemplo. Tudo isso está acontecendo - e isso é gratificante para um administrador público. Eu divido isso com vocês, da imprensa, e também com o pessoal da prefeitura, porque não estou aqui sozinho. Aliás, não gosto de tomar decisões sozinho. Não existe esse negócio de dizer "Eu tenho a palavra e eu vou dar a palavra final". O consenso, a forma de administrar, é dividir responsabilidades. Com isso, acaba-se angariando simpatia e apoio por parte de todos aqueles que lhe acompanham na administração pública. A imprensa, nesse aspecto, é de fundamental importância, porque temos que prestar contas à comunidade, porque o recurso não é meu e nem do (jornalista Elvis) Lozeiko (entrevistador), e sim da comunidade. Por isso, temos que aplicar bem o recurso - e com responsabilidade.
EVOLUÇÃO - O senhor diria que a principal razão do seu otimismo é a questão do emprego?
MAGNO BOLLMANN - Também! Acho que o grande fato é o seguinte: a sociedade está vivendo um novo momento, um momento de alto astral, de otimismo, e não de negativismo. Se a pessoa acredita, a pessoa sonha e as coisas acontecem. Sempre é necessário se alicerçar em lideranças que já tiveram sucesso, que já conseguiram vencer na vida, que já enfrentaram os piores momentos, mas conseguiram vencer. Temos que seguir esses exemplos, ter esse otimismo, ter essa perseverança. Vamos desempenhar com toda a força, até o fim do nosso mandato, o crédito que as pessoas nos deram.
EVOLUÇÃO - O senhor comentou sobre a questão da Saúde. Vamos aproveitar e lhe questionar sobre as Oscips, as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. Parece que elas já estão atuando, inclusive na área de Saúde...
MAGNO BOLLMANN - Com relações às Oscips, elas já estão atuantes aqui. Temos um exemplo claro - a Astran (Associação de Transporte do Norte Catarinense), que investe hoje no Meio Ambiente, na Educação e na Saúde. Na Saúde, por exemplo, está investindo na informatização dos Postos de Saúde. Na questão ambiental, está dando todo o apoio à Semana do Meio Ambiente. Uma associação como essa tem que dar uma contrapartida com recursos para a sociedade, principalmente nestes três setores. Então, na prática, está funcionando. Isso serve para tirar aquela pecha de que "as coisas não vão acontecer". Também acho que no início a ideia foi vendida erroneamente, mal apresentada. Hoje, porém, os resultados estão aí. O próprio Ilacs (Instituto Latino-Americano de Ciências da Saúde) vai investir recursos em cirurgias para pessoas mais carentes.
EVOLUÇÃO - E a Associação de Costureiras, da qual não se ouve mais falar?
MAGNO BOLLMANN - A última informação que tive é que ela foi incorporada pela própria Astran.
EVOLUÇÃO - Em relação àquela outra associação que poderia ser implantada, reunindo carpinteiros, pedreiros, eletricistas, etc, como está?
MAGNO BOLLMANN - Tivemos, na semana passada, uma reunião com o professor Takashi (Yamauchi). Ele nos trouxe excelentes notícias. Ele pediu para juntarmos todos os conselhos, como o Conselho de Saúde, o Conselho de Bem-Estar Social, o Conselho da Criança e do Adolescente, etc, para centralizarmos esse trabalho. Então, um conselho maior poderia administrar todo esse grupo - o que desembocaria em um trabalho para mais busca de recursos.
EVOLUÇÃO - Prefeito, o senhor sempre foi claro conosco e sempre tivemos uma conversa bastante aberta em nossas entrevistas. Os próprios leitores percebem isso. Então, gostaríamos de tocar em um assunto não tão agradável, mas que, na prática, é uma forma de esclarecimento à sociedade. Seria demais perguntarmos se o senhor já se acostumou a atuar sem o seu vice-prefeito?
MAGNO BOLLMANN - Veja uma coisa. Quando nos elegemos, a ideia era realmente trabalharmos juntos. Entre um prefeito e um vice, conforme aprendi em três administrações nossas, do Frank (Bollmann) e do Silvio (Dreveck, duas vezes), eu não via essa distância. O vice era participativo nas ações da prefeitura. Então, me causou uma estranheza quando meu companheiro (Flávio Schuhmacher, DEM) simplesmente nem aceitou trabalhar conosco. Chamei-o em duas oportunidades para trabalhar conosco. Ele simplesmente não aderiu ao nosso convite.
EVOLUÇÃO - Para a Administração e para a Saúde?
MAGNO BOLLMANN - Administração e Saúde... Para mim, foi um choque muito forte. Eu acreditava nele, mesmo porque é um jovem - e nós falávamos em juventude e em experiência. Eu poderia tê-lo como um aliado forte aqui dentro, mas não pude contar com ele. Ele preferiu buscar um patamar maior, os recursos em nível de Estado, mas nós sabemos que, não tendo representatividade, não é bem assim.
EVOLUÇÃO - Ele não é um deputado eleito, por exemplo.
MAGNO BOLLMANN - Justamente! Não é assim. Ele vai retirar o espaço dos deputados que estão aí, que realmente têm respaldo popular? Outro dia, em uma reunião em Brasília, eu perguntava qual seria a verdadeira função do vice. O nosso interlocutor, o “Paco” (Julio Héctor Marín Marín), que é da Casa Civil (da Presidência da República), disse que o vice, no ente federado, seja prefeitura, Estado ou governo federal, é uma "reserva". Existem os mandatários, que são os prefeitos, os governadores e o presidente. O vice está lá para o caso de uma ausência do titular. Mas estou começando a me acostumar, a querer entender isso. Eu acho o seguinte: infelizmente é legal, mas na minha concepção é imoral receber por algo que não se faz.
EVOLUÇÃO - O senhor está dizendo que o Flávio não está mais atuando na prefeitura?
MAGNO BOLLMANN - Não está. Não está mais. Isso é lamentável.
EVOLUÇÃO - Daqui a pouco mais um de ano estaremos no fervor de uma eleição municipal, aquela que mais mexe com a população, justamente por ser uma eleição local. O que o senhor vislumbra para 2012, não só em relação a uma eventual tentativa de reeleição, mas em relação a uma situação política de São Bento do Sul?
MAGNO BOLLMANN - Digo que quatro anos, principalmente quando se pega uma prefeitura sem transição, é um tempo curtíssimo para fazer as coisas realmente acontecerem. Porém, fomos muitos felizes. Já no primeiro ano conseguimos recursos federais, em um volume bastante significativo, inclusive. Estamos com uma porção de projetos. Tem projetos que vamos terminar, tem projetos que vão estar em andamento e tem projetos que vão ficar para um governo futuro dar continuidade. Esse é o grande desafio nosso. Com relação à possibilidade de entrar numa reeleição, digo que sempre faço a política de fora para dentro. Quem quiser se candidatar terá que ter apoio. Se esse apoio existir, se o próprio partido tiver esse entendimento, ele vai fazer com que aconteça ou não uma reeleição. Dentro do partido existem outros interessados em ser candidatos.
EVOLUÇÃO - Outros soldados?
MAGNO BOLLMANN - Não podemos desmerecer os soldados do partido. Eles têm que estar juntos nessa luta. Por isso respeito quem está ao meu lado. Se reunirmos as melhores condições e se o apoio existir, sem dúvida podemos nos colocar à disposição do partido.
EVOLUÇÃO - Queremos agradecer por mais esta entrevista, prefeito. Mais alguma consideração? Sabemos que teríamos inúmeros outros assuntos, mas o tempo é limitado e o espaço no jornal também.
MAGNO BOLLMANN - Só tenho a agradecer à imprensa pela oportunidade que nos dá. É um momento de prestação de contas. Queremos fazer o melhor para a comunidade. Com certeza estamos no caminho certo. Nossa equipe está empenhada, está motivada. Há pouco demos uma melhoria nas condições salariais dos funcionários. Temos que ter um quadro motivado para trabalhar na prefeitura.
EVOLUÇÃO - A propósito, a própria presidente do Sindicato dos Servidores, Adriana Zanella, comentou da satisfação de ver o Plano de Carreira sendo implementado.
MAGNO BOLLMANN - É uma reivindicação de quinze ou vinte anos dos servidores. O pessoal está animado com essa questão. Esses serão recursos que vão girar dentro do próprio município, no comércio, por exemplo. Se não tivermos uma equipe motivada, não temos como trabalhar. Em uma visita ao sindicato, me disseram que eu era o primeiro prefeito a visitá-los. Para mim, aquilo era uma coisa tão natural... Por que não visitar um sindicato? Qual é o problema?
EVOLUÇÃO - Afinal, é mais um órgão organizado da sociedade!
MAGNO BOLLMANN - Claro. E cumpre com suas obrigações. Na época, quando visitei o sindicato, eu disse: "Vamos fazer o Plano de Cargos e Salários, mas vamos fazer por etapas, dentro de um processo evolutivo. Vamos implantar! Tenho certeza que vai dar certo. Façam um trabalho nesse sentido e apresentem para nós". Foi o que aconteceu. Acho que agora estamos tendo um quadro de profissionais da prefeitura motivados, para que possamos enfrentar os passos até o final da nossa administração.