Sônia Pillon nasceu em Porto Alegre e desde 1996 reside em Jaraguá do Sul.
Formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto pela Univille, atuou como repórter, editora, redatora e assessora de imprensa, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Por mais de 10 anos trabalhou no jornal A Notícia.
É autora de “Crônicas de Maria e outras tantas – Um olhar sobre Jaraguá do Sul” e “Encontro com a paz e outros contos budistas”, com participação em antologias de contos, crônicas e poesias.
Publica também no blog soniapillon.blogspot.com e na fanpage "Sônia Pillon Escritora". É Presidente de Honra da Seccional Jaraguá do Sul da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina (ALBSC).
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Essa é uma história real de um pai angustiado que por quatro anos perdeu o contato com a única filha, mas que ao mesmo tempo nunca perdeu a esperança de um final feliz. O enredo é tão lindo que até parece filme. Nessas horas me pergunto: afinal, a vida imita a arte, ou a arte imita a vida? Pois bem. Essa situação poderia ter acontecido comigo, ou com qualquer um de nós, mas, nesse caso específico, ocorreu com um aposentado viúvo, na casa dos 70 anos, morador do interior do Paraná. Essa semana, movido por uma saudade que transbordava dentro do peito, e com a incerteza que a distância traz, esse homem, que aqui chamaremos de “João”, aportou na rodoviária de Jaraguá do Sul. Sem muitas referências e sem saber como começar para localizar a filha e os dois netos.
Sem carregar mala, com pouco dinheiro no bolso, sem celular e portando poucos documentos, ele procurou um restaurante modesto para a refeição do meio-dia, nas imediações da rodoviária de Jaraguá do Sul. Timidamente, porém demonstrando determinação, ele contou o drama que vivia para o dono do restaurante. Disse que foi roubado e que, na ocasião, além das parcas economias, o ladrão havia carregado o celular e a agenda com todos os seus contatos. E que na última vez em que tinha estado com a filha, aqui denominada de “Maria”, ela estava muito doente. Por isso, ele nem tinha certeza de que ainda a encontraria viva, e essa dor o consumia desde então.
Com a memória a lhe pregar peças e uma visão não tão nítida como em outros tempos, a única certeza que o senhor João tinha era de que a filha, o genro e os netos moravam próximos ao terminal rodoviário da Vila Lalau. Mas onde? Como fazer para reencontrá-los e tirar definitivamente essa dor que lhe afligia tanto?
Comovido com a situação relatada, o dono do restaurante o aconselhou a procurar a Prefeitura. - Quem sabe lá eles podem lhe ajudar a localizar a sua filha?, disse o comerciante para ele, estimulando-o. Solidário, chegou a chamar um motorista por aplicativo de celular para que levasse aquele pai entristecido ao paço municipal.
Lá chegando, o velho João entrou em uma secretaria da Prefeitura, ao acaso, e contou rapidamente o acontecido, já constrangido por se sentir “atrapalhando o serviço”. Chorou ao contar pelo que tinha passado e emocionou a todos à volta com sua história. Não tinha muitos dados para fornecer, e estava quase indo embora, desesperançoso, quando três servidores se prontificaram a iniciar a procura e pediram para que voltasse depois. Iniciava uma busca frenética pelas redes sociais, secretarias, autarquias e pela Polícia Militar. Procura daqui, procura dali e as informações foram surgindo, até se chegar ao contato de um dos netos pela rede social, que levou ao telefone do genro. A saudade era das duas partes! O genro pediu para segurar o sogro na Prefeitura, que iria imediatamente resgatá-lo. Sim, Maria estava viva e também sentia muito a falta do pai! O reencontro, feito na sala de espera, emocionou profundamente a todos. Ficou a lição, o sentimento de dever cumprido dos que se empenharam. Assim como na vida, assim como na arte, muitas vezes o final feliz é possível, desde que haja empenho e solidariedade.